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64 doleiros remetem para o exterior US$ 20 bi em 8 anos
Valor apurado pelo Ministério Público foi obtido com ajuda da Justiça dos EUA
Dólares foram enviados entre 1996 e 2003 usando bancos americanos e são apenas uma pequena parte das remessas brasileiras
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de 64 doleiros remeteu ilegalmente US$ 19,53
bilhões só para bancos dos Estados Unidos num período de
oito anos (de 1996 a 2003), segundo dados do Ministério Público Federal do Paraná, aos
quais a Folha teve acesso.
A cifra, equivalente a R$
44,62 bilhões em valores
atuais, é só a pontinha do iceberg da maior investigação já
realizada sobre o mercado paralelo de dólar, conduzida pela
Força-Tarefa CC5, um grupo
que inclui procuradores e delegados da Polícia Federal.
Os R$ 44 bilhões correspondem, literalmente, a uma montanha de dinheiro. Para alcançar esse valor, seria necessário
somar o faturamento anual de
três das maiores empresas brasileiras: Petróleo Ipiranga,
Volkswagen e General Motors.
O mercado de dólar é alimentado por dinheiro sem origem, como caixa dois das empresas, tráfico de drogas e corrupção. Estimativa feita pelo
IBPT (Instituto Brasileiro de
Planejamento Tributário), a
pedido da Folha, aponta que os
principais clientes de doleiros
atualmente são as empresas.
O mercado paralelo de dólar
gira anualmente US$ 63 bilhões no Brasil, segundo estimativa de Gilberto Luiz do
Amaral, do IBPT -a avaliação
é difícil porque tenta medir a
parte subterrânea da economia. Desses US$ 63 bilhões,
US$ 49 bilhões são movimentados por empresas, principalmente as envolvidas em comércio exterior, segundo ele.
Amaral diz ter feito essa conta a partir da estimativa feita
pelo IBPT de que o caixa dois
-o faturamento não declarado
das empresas- é de R$ 1 trilhão. Cerca de 10% dessa cifra
(os US$ 49 bilhões) iria para o
mercado paralelo de dólar.
O tráfico de drogas e a corrupção responderiam pelos
US$ 14 bilhões anuais restantes, na estimativa do IBPT.
Criada em maio de 2003, a
Força-Tarefa CC5 tinha como
objetivo investigar as remessas
feitas por meio de CC5 (contas
autorizadas pelo Banco Central a enviar recursos para o exterior). Diversamente da CPI
do Banestado, que acabou em
2005 sem nenhum resultado
prático, a força-tarefa acumula
sucessos. O maior deles talvez
tenha sido a decisão da promotoria de Nova York de colaborar com as investigações brasileiras sobre dinheiro sujo.
Os cerca de US$ 20 bilhões
remetidos para os EUA foram
calculados a partir da documentação enviada pelos americanos. É vasta o suficiente para
ocupar um contêiner.
A cooperação americana não
é desinteressada. Depois dos
ataques do 11 de Setembro, dinheiro sujo tornou-se uma das
obsessões dos EUA. O dinheiro
do terror transita nos mesmos
canais usados pelas empresas e
traficantes.
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