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LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Fed, Banco do Japão e liquidez
A conjugação das políticas monetárias do Fed e do Banco do Japão fomentou a forte alta da liquidez internacional
ENTRE 2001 e 2003, a política
monetária americana funcionou de forma anticíclica: a autoridade monetária baixou rapidamente os juros e satisfez a demanda
dos "market makers" por papéis
mais líquidos e seguros.
Essa providência manteve a rentabilidade das carteiras desses agentes ao reduzir seu custo de carregamento. Ao mesmo tempo, o superávit fiscal transformou-se progressivamente em um déficit graúdo
-atualmente em torno de 4,3% do
PIB (Produto Interno Bruto).
Na verdade, o superávit nas contas
do governo tornou-se disfuncional,
tanto do ponto de vista da sustentação da demanda agregada como da
composição dos patrimônios privados.
Como se sabe, o setor privado, na
recessão, contraiu fortemente os
gastos de investimento e buscou
ampliar, em sua carteira de ativos, a
participação de papéis do governo
como forma de preservação da riqueza líquida, substituindo, na margem, a aquisição de papéis privados.
A política de redução das taxas de
juros nos Estados Unidos e sua manutenção em níveis muito baixos até
o primeiro trimestre de 2004 estimularam as operações de "carry trade" -tomar recursos baratos em
uma determinada moeda (no caso o
dólar) e aplicá-los em outras moedas (como o real), com rendimentos
mais elevados.
O Japão, ainda encalacrado na
longa estagnação dos anos 90, manteve, até recentemente, três procedimentos de política monetária e
cambial que ajudaram -e muito-
na sustentação do ciclo de liquidez
global. São eles: 1) o chamado "quantitative easing", ou seja, a forte expansão monetária, 2) a taxa básica
de juros zero, e 3) as intervenções
destinadas a impedir a valorização
da taxa de câmbio.
A expansão quantitativa da moeda
foi adotada porque o estado falimentar dos bancos comerciais, associado à queda da demanda de crédito por parte das empresas atoladas
no excesso de capacidade, impedia
que os empréstimos criassem depósitos à vista e, portanto, meios de pagamento.
Tal combinação de políticas tinha
o propósito de impedir o avanço das
forças deflacionárias que fustigaram
a economia japonesa durante a longa estagnação dos anos 90 e início do
terceiro milênio.
A conjugação entre as políticas
monetárias do Fed e do Banco do
Japão fomentou a forte alta da liquidez internacional e impulsionou o
atual ciclo de liquidez e de inflação
de ativos, aí incluídos a especulação
nos mercados de commodities.
A partir de 2004, a subida progressiva dos juros nos Estados Unidos
reduziu drasticamente as vantagens
dos empréstimos em dólar para o
"carry trade" em mercados forâneos
de alto rendimento. Entre o segundo e o quarto trimestres de 2005, a
variação líquida dos ativos em mercados externos dos bancos americanos caiu de US$ 170 bilhões para
US$ 11 bilhões. A isso se junta a recuperação da economia japonesa, o
fim do "quantitative easing" e a conseqüente elevação das taxas de juros. Esses fatores já deram o ar da
graça nos ataques desferidos contra
os ativos e as moedas de países
emergentes.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 63, é professor titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo
Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de
São Paulo (governo Quércia).
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