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Ribeirinhos não têm papéis de terrenos
Famílias já recebem ofertas de indenização, mas não provam posse; maioria das terras é invadida e negociada por grileiros
População terá de ser deslocada em razão da
construção de hidrelétricas;
empresas estimam criação
de até 14 mil empregos
DA ENVIADA ESPECIAL A PORTO VELHO
As usinas de Santo Antônio e
Jirau serão capazes de gerar,
juntas, 6.500 MW até 2011. Levando em conta que a energia
média consumida por uma família seja de 200 kW mensais,
as hidrelétricas do Madeira serão potentes o bastante para
iluminar 14,5 milhões de lares
por mês.
A obra das duas usinas, dizem Odebrecht e Furnas, levará de seis a dez anos para acabar. Resultará na criação de 14
mil empregos diretos no período. As empresas avaliam que isso é o suficiente para absorver
100% da mão-de-obra ociosa
existente no Estado e observam que esse número deve ser
multiplicado por três, levando
em consideração a geração de
trabalho indireto.
Defendem ainda que o projeto tem como base estudos feitos desde 2001 por cinco entidades - todas civis, universitárias e especializadas. Esses documentos, dizem, mostram danos mínimos ao ambiente e a
contribuição das duas hidrelétricas para integrar o transporte de cargas entre Brasil, Bolívia e Peru. Além disso, facilitarão o tráfego de mercadorias
dentro da própria região Norte,
caso sejam instaladas hidrovias
no rio Madeira, como descrito
no projeto original.
Os rondonienses terão de pagar o preço para a oferta de empregos. O Madeira é enorme e
largo. Seria perfeito para uma
hidrelétrica, não fosse o fato de
que suas quedas-d'água -um
dos aspectos mais relevantes
para a geração da energia- são
tímidas. Por isso, ele terá de ser
alargado; barragens serão construídas, uma de 13,9 m e outra
com até 15 m.
Cerca de 2.800 famílias ribeirinhas poderão ter de ser levadas para outro lugar, pois suas
respectivas casas serão engolidas pelas águas do Madeira.
Odebrecht e Furnas dizem que
não é tudo isso: 800 famílias
acabariam efetivamente transladadas, porque há diferença
entre "afetados" e "deslocados". Para onde eles vão? Ninguém sabe ao certo. Como o
projeto ainda está no papel, não
foi batido o martelo sobre o local dos reassentamentos nem o
valor das indenizações.
Ofertas
Segundo vários ribeirinhos
entrevistados pela Folha, porém, as coisas estão adiantadas.
Já começaram visitas de pessoas que fizeram ofertas por
seus terrenos, a título de indenização: R$ 3.000 por uma casa
à beira do Madeira.
Supondo verdadeira a proposta, o dono da casa precisa
provar que o terreno é dele para receber dos empreendedores os R$ 3.000- algo praticamente impossível em Rondônia. A maioria das terras é invadida ou comercializada por grileiros, muitas vezes debaixo do
nariz do Estado. Escritura, papel, assinatura, carimbo de cartório são caras para os padrões
locais. A Folha passou três dias
viajando pela região. Não encontrou nenhum morador que
tivesse os papéis.
Estados e municípios prometem ajudar os ribeirinhos a
conseguir os documentos.
Querem até participar do empreendimento. São favoráveis
ao empreendimento pela capacidade de desenvolvimento
que trarão à região.
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