São Paulo, segunda-feira, 04 de junho de 2007

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Folhainvest

Opção à Bolsa é risco ou baixo rendimento

Compra de papéis de dívida, pública ou privada, está entre as alternativas para os investidores que são avessos a ações

Queda de juros reduz ganho em renda fixa, e valorização recorde da Bovespa eleva risco de quem decidir entrar agora no mercado acionário

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Na alta da alta, a Bovespa já subiu 20% apenas em 2007 e rendeu 41,52% em um ano -ótimo para quem entrou, mas péssimo para os que ainda pretendiam apostar em ações. Isso porque a lei número um da Bolsa é comprar na baixa e vender na alta -jamais fazer o contrário, que embute um risco altíssimo, como agora. O que fazer então para manter um bom rendimento nas aplicações sem assumir o risco da Bolsa?
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que só há uma resposta: assumir um outro risco, como o da dívida privada, mas com o cuidado de não ser ainda maior que o das ações.
A outra opção é não correr risco nenhum e ganhar pouco. "Acabou a época de ganhar dinheiro fácil sem risco. No mundo todo tem gente que tem horror à Bolsa e prefere ganhar de 4% a 5% ao ano, mas não correr risco. O desafio é mostrar como correr risco, mas diluído no longo prazo", disse José Brazuna, gerente da área de fundos da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).

Dívida
Para ficar fora da Bolsa, a única opção financeira -há opções não-financeiras, como comprar imóveis, gado, metais etc., mas todas com baixa liquidez -é a renda fixa. Ou seja, investir em papéis de dívida, seja ela pública ou privada. Quanto maior o risco de calote, mais alto o retorno. "Investir em alguns papéis da dívida privada, como debêntures, pode ser ainda mais arriscado do que a Bolsa", disse André Oda, supervisor do LabFin (Laboratório de Finanças) da Fundação Instituto de Administração da USP (Universidade de São Paulo). Fundos de renda fixa com alta composição de títulos privados em carteira renderam 5,55% no ano de 2007.
Como o risco de calote do governo é cada vez menor, a taxa Selic deve cair para algo entre 12% e 12,25% ao ano nesta quarta-feira, o que reduzirá ainda mais os ganhos com os tradicionais fundos DI, que renderam 4,96% até maio. Esses fundos perdem a cada dia mais investidores -só neste ano, os DI perderam R$ 8,748 bilhões em captação.

DI x Poupança
Simulação feita pelo LabFin a pedido da Folha mostra que investir menos que 180 dias nos fundos DI só compensa se a taxa de administração for inferior a 2%. Do contrário, a poupança, que é isenta de IR (Imposto de Renda), rende mais.
A simulação considera uma aplicação de R$ 10 mil. O investidor que colocou o dinheiro em um fundo DI com juros de 0,98% ao mês retirou R$ 10.353,12 líquidos após seis meses. Se deixasse na poupança, teria levado R$. 10.363,06.
"O investidor têm de prestar atenção à taxa de administração. O fundo DI só vale agora para taxa baixa", disse Bolivar Godinho, professor do LabFin.
Já os fundos de renda fixa costumam render um pouco mais que os DI quando os juros caem. Isso porque eles têm títulos pré-fixados em carteira, que conservam juros um pouco maiores do que a Selic. Até maio, renderam 5,46%.
Há ainda a opção de comprar CDBs direto dos bancos. A vantagem é não pagar uma taxa de administração, mas o rendimento fica na casa do da renda fixa. Até maio, os CDBs para grandes investidores deram um retorno de 5,16% em 2007.
O Tesouro Direto, site do governo que vende títulos públicos para pessoa física, deixou recentemente de vender papéis que ofereciam juro mais a variação do IGP-M. Mas ainda tem papéis pré-fixados que dão até 7,36% mais o IPCA, o que eleva o retorno a 10,36% ao ano. Vende ainda títulos pré-fixados com juros hoje de 11,32% ao ano. A vantagem é não pagar taxa de administração.

Multimercado
Para quem aceita transitar entre os mundos da renda fixa e da renda variável, a melhor opção são os fundos multimercados, cujos gestores têm maior liberdade para dosar os investimentos em ações, títulos de dívida, derivativos e até moedas. Mas é preciso ver se taxa de administração vale a pena.
Há multimercados para todos os gostos -com e sem renda variável (ações), alavancados ou não. Os multimercados conservadores, que não aplicam em Bolsa nem são alavancados, por exemplo, tiveram rendimento médio de 8,30% no ano. Já aqueles que aceitaram investimento em Bolsa renderam 8,58% em 2007. Segundo a Anbid, esses fundos captaram no ano R$ 12,741 bilhões.
"Os multimercados têm uma rentabilidade mais estável. Lembrando que é um produto mais sofisticado, com diferentes perfis, de arrojado a conservador, em que o risco não fica tão evidente", disse André Oda.
"A questão não é o "timing" de quando entrar na Bolsa, mas o quanto colocar. O investidor precisa desenvolver o conceito de diversificação. Deve definir quanto [do seu patrimônio] quer colocar na Bolsa e seguir esse plano ao longo do tempo. Assim, vai compondo diferentes preços [de entrada], diminuindo o seu risco", disse Marcelo Giufrida, do Paribas, e vice-presidente da Anbid.


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