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Endividamento preocupa presidente do Fed
EUA precisam demonstrar "compromisso com o equilíbrio fiscal no longo prazo", afirma Ben Bernanke ao Congresso
Segundo projeções, dívida pública americana deve passar de 44% para 77% do PIB em quatro anos, num valor igual a 8 PIBs do Brasil
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Os Estados Unidos reconheceram ontem que não podem
continuar se endividando permanentemente para financiar
a atual recuperação de sua economia. E que isso representa
um enorme risco para a solvência do país no longo prazo.
Em audiência diante do Comitê de Orçamento do Congresso, o presidente do Fed (o
banco central dos EUA), Ben
Bernanke, afirmou que são
crescentes os riscos do alto endividamento dos EUA.
Disse também que isso já se
reflete nas taxas de juro de longo prazo que investidores vêm
exigindo para comprar títulos
do Tesouro norte-americano.
A taxa de juros paga pelos papéis de longo prazo do Tesouro
dos EUA atingiu nesta semana
o maior patamar em cinco meses, à medida que investidores
começaram a deslocar seu dinheiro para outras aplicações.
Como para as Bolsas de Valores
de países emergentes, o que explica, em parte, a recente valorização da Bovespa.
"A não se que demonstremos
compromisso com o equilíbrio
fiscal no longo prazo, não teremos nem estabilidade financeira nem crescimento sustentável", disse Bernanke.
Na véspera de seu pronunciamento, a chanceler alemã,
Angela Merkel, havia declarado
que via com "extremo ceticismo" a política do Fed e do Banco Central da Inglaterra de rápido endividamento para tentar abrandar a atual crise.
Há poucas semanas, o governo da China, que acumula títulos do Tesouro dos EUA num
total de 70% de suas reservas
de US$ 2 trilhões, também demonstrara "grande preocupação" com o endividamento norte-americano.
Dias depois, a agência de
classificação de risco Standard
& Poor's rebaixou de "neutra"
para "negativa" a nota "AAA"
para os títulos britânicos. O que
levantou dúvidas sobre se o
mesmo ocorreria em relação
aos títulos da dívida dos Estados Unidos.
Quanto maior o risco de solvência de um país e pior a nota
das agências de risco, mais os
investidores exigem em juros
para financiá-lo ao comprar
seus títulos. E todas as medidas
de socorro ao sistema financeiro e a empresas nos EUA e em
outros países vêm sendo financiadas com a venda desses papéis públicos a investidores.
Na prática, os países emitem
os títulos, os investidores compram os papéis em troca de juros, e os governos injetam o dinheiro nas áreas em crise.
Segundo projeções extraoficiais, a dívida pública como
proporção do PIB (Produto Interno Bruto) nos EUA deve
passar dos atuais 44% para 77%
nos próximos quatro anos. No
Reino Unido, ela praticamente
dobrará, de 49% do PIB para
97%. Na Alemanha, subirá de
62% para 72%.
Nos EUA, isso significará um
aumento do endividamento
público dos já sem precedentes
US$ 6,3 trilhões para mais de
US$ 10 trilhões, o equivalente a
mais de oito PIBs do Brasil.
No atual ano fiscal, o rombo
nas contas públicas norte-americanas é estimado em US$ 1,8
trilhão -o que equivale a quatro vezes o déficit recorde do
ano passado.
O presidente do Fed defendeu, no entanto, as ações tomadas até agora como "fundamentais" para a economia.
"Nossa economia e os mercados financeiros estão diante de
extraordinários desafios no
médio prazo, e medidas fortes
no tempo certo são fundamentais e apropriadas", disse Bernanke, em referência ao aumento de gastos do governo para injetar liquidez (dinheiro) na
economia.
"Mas, mesmo que tomemos
medidas para enfrentar a recessão e as ameaças à estabilidade financeira, para manter a
confiança dos mercados, nós,
como país, precisamos dar passos no sentido de planejar a
reestruturação de nosso equilíbrio fiscal", disse Bernanke.
Só em medidas fiscais, os
EUA estão comprometendo
US$ 787 bilhões em um plano
de gastos com infraestrutura,
repasses a Estados endividados
e programas como seguro-desemprego e saúde. Além disso,
o país já direcionou mais de
US$ 1 trilhão para financiar
empresas e bancos.
A aposta americana é que o
país volte a crescer no médio
prazo. Com isso, geraria mais
riqueza e impostos para que o
governo possa reduzir o endividamento, que cairia em relação
a um PIB maior.
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