São Paulo, quinta-feira, 04 de junho de 2009

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Endividamento preocupa presidente do Fed

EUA precisam demonstrar "compromisso com o equilíbrio fiscal no longo prazo", afirma Ben Bernanke ao Congresso

Segundo projeções, dívida pública americana deve passar de 44% para 77% do PIB em quatro anos, num valor igual a 8 PIBs do Brasil


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Os Estados Unidos reconheceram ontem que não podem continuar se endividando permanentemente para financiar a atual recuperação de sua economia. E que isso representa um enorme risco para a solvência do país no longo prazo.
Em audiência diante do Comitê de Orçamento do Congresso, o presidente do Fed (o banco central dos EUA), Ben Bernanke, afirmou que são crescentes os riscos do alto endividamento dos EUA.
Disse também que isso já se reflete nas taxas de juro de longo prazo que investidores vêm exigindo para comprar títulos do Tesouro norte-americano.
A taxa de juros paga pelos papéis de longo prazo do Tesouro dos EUA atingiu nesta semana o maior patamar em cinco meses, à medida que investidores começaram a deslocar seu dinheiro para outras aplicações. Como para as Bolsas de Valores de países emergentes, o que explica, em parte, a recente valorização da Bovespa.
"A não se que demonstremos compromisso com o equilíbrio fiscal no longo prazo, não teremos nem estabilidade financeira nem crescimento sustentável", disse Bernanke.
Na véspera de seu pronunciamento, a chanceler alemã, Angela Merkel, havia declarado que via com "extremo ceticismo" a política do Fed e do Banco Central da Inglaterra de rápido endividamento para tentar abrandar a atual crise.
Há poucas semanas, o governo da China, que acumula títulos do Tesouro dos EUA num total de 70% de suas reservas de US$ 2 trilhões, também demonstrara "grande preocupação" com o endividamento norte-americano.
Dias depois, a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou de "neutra" para "negativa" a nota "AAA" para os títulos britânicos. O que levantou dúvidas sobre se o mesmo ocorreria em relação aos títulos da dívida dos Estados Unidos.
Quanto maior o risco de solvência de um país e pior a nota das agências de risco, mais os investidores exigem em juros para financiá-lo ao comprar seus títulos. E todas as medidas de socorro ao sistema financeiro e a empresas nos EUA e em outros países vêm sendo financiadas com a venda desses papéis públicos a investidores.
Na prática, os países emitem os títulos, os investidores compram os papéis em troca de juros, e os governos injetam o dinheiro nas áreas em crise.
Segundo projeções extraoficiais, a dívida pública como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) nos EUA deve passar dos atuais 44% para 77% nos próximos quatro anos. No Reino Unido, ela praticamente dobrará, de 49% do PIB para 97%. Na Alemanha, subirá de 62% para 72%.
Nos EUA, isso significará um aumento do endividamento público dos já sem precedentes US$ 6,3 trilhões para mais de US$ 10 trilhões, o equivalente a mais de oito PIBs do Brasil.
No atual ano fiscal, o rombo nas contas públicas norte-americanas é estimado em US$ 1,8 trilhão -o que equivale a quatro vezes o déficit recorde do ano passado.
O presidente do Fed defendeu, no entanto, as ações tomadas até agora como "fundamentais" para a economia.
"Nossa economia e os mercados financeiros estão diante de extraordinários desafios no médio prazo, e medidas fortes no tempo certo são fundamentais e apropriadas", disse Bernanke, em referência ao aumento de gastos do governo para injetar liquidez (dinheiro) na economia.
"Mas, mesmo que tomemos medidas para enfrentar a recessão e as ameaças à estabilidade financeira, para manter a confiança dos mercados, nós, como país, precisamos dar passos no sentido de planejar a reestruturação de nosso equilíbrio fiscal", disse Bernanke.
Só em medidas fiscais, os EUA estão comprometendo US$ 787 bilhões em um plano de gastos com infraestrutura, repasses a Estados endividados e programas como seguro-desemprego e saúde. Além disso, o país já direcionou mais de US$ 1 trilhão para financiar empresas e bancos.
A aposta americana é que o país volte a crescer no médio prazo. Com isso, geraria mais riqueza e impostos para que o governo possa reduzir o endividamento, que cairia em relação a um PIB maior.


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