São Paulo, quinta-feira, 04 de julho de 2002

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CALMANTE EXTRA

Instituição vai irrigar o mercado com US$ 1,5 bilhão neste mês; mecanismo já foi utilizado em 2001

BC retoma ação diária para segurar dólar

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para tentar acalmar os investidores e frear a desvalorização do real, o Banco Central informou ontem que retomou, até o fim do mês, a venda diária de dólares ao mercado. Inicialmente, a venda será de US$ 1,5 bilhão em julho. Esse procedimento estava suspenso desde o final de dezembro.
Ontem foram vendidos US$ 100 milhões, valor que irá se repetir hoje e amanhã. A partir da semana que vem, as vendas serão de US$ 50 milhões por dia.
O diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, disse que a decisão tem por objetivo dar mais liquidez ao mercado de câmbio, que vem registrando poucos negócios nos últimos dias. "Não temos a intenção de interferir na taxa de câmbio", afirmou.
Essas vendas poderão ser feitas de duas maneiras: por meio de leilões de linha externa e por meio de intervenções diretas. No leilão, o BC vende os dólares aos bancos, que se comprometem a revendê-los de volta ao próprio BC num prazo preestabelecido -foi por esse mecanismo que o BC vendeu os US$ 100 milhões de ontem. Na intervenção direta não existe esse compromisso de revenda, ou seja, a venda feita pelo BC é definitiva.
Figueiredo voltou a citar a proximidade das eleições como o principal fator de nervosismo do mercado, que fez o dólar atingir níveis recordes. Ele afirmou que essa ansiedade é exagerada. "As cotações não condizem com os fundamentos que nós temos hoje nem com os fundamentos que teremos após as eleições."
O BC deve gastar US$ 1,2 bilhão com as vendas diárias previstas para este mês. Se considerados os US$ 300 milhões que já haviam sido vendidos aos bancos por meio de um leilão de linha externa na segunda, subirá para US$ 1,5 bilhão o total de recursos que será colocado no mercado neste mês.
Além disso, o BC irá vender US$ 320 milhões para renovar vencimentos referentes a leilões de linha externa feitos em junho. Figueiredo disse, porém, que o BC pode fazer intervenções extraordinárias acima desses valores.

Mecanismo já foi usado
Há um ano, o BC já havia tomado decisão semelhante à anunciada ontem. Em julho de 2001, para tentar impedir a alta do dólar, a instituição começou a vender US$ 50 milhões por dia ao mercado. As vendas duraram até o final do ano e somaram US$ 6 bilhões.
A diferença é que, naquela ocasião, as vendas foram feitas somente por meio de intervenções diretas, e não por leilões de linha externa. Figueiredo disse que o BC decidiu oferecer dólares por meio de leilões de linha externa por perceber que muitos bancos estavam tendo dificuldades em obter empréstimos externos de curto prazo para financiar suas operações do dia-a-dia.
A vantagem dos leilões de linha externa, em relação às intervenções diretas, é o seu pequeno impacto nas reservas internacionais. Como os dólares vendidos são recomprados depois, o efeito sobre as reservas em moeda estrangeira do país é praticamente nulo.
No caso das intervenções diretas, os dólares vendidos não são recomprados, o que significa perda para as reservas. O acordo com o FMI determina que as reservas líquidas do país -que não incluem o dinheiro emprestado pelo Fundo- não podem ficar abaixo de US$ 15 bilhões.
As reservas líquidas estão em US$ 28 bilhões. Descontados os pagamentos de parcelas da dívida externa que o país precisa fazer, sobram US$ 9 bilhões para as intervenções diretas. Se o BC decidisse usar só intervenções diretas para vender dólares neste mês e continuar a vender US$ 50 milhões por dia até o dezembro, seriam gastos US$ 6,4 bilhões.
Isso reduziria as reservas líquidas para US$ 17,6 bilhões.



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