|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
"Offset" e tecnologia
Há um certo curto-circuito
no ar a respeito da licitação FX da FAB. O país aprendeu a utilizar melhor os mecanismos "offset" -ou seja, os benefícios adicionais que podem
advir de um grande contrato de
compra. Contrapartidas comerciais são um deles. O país vendedor se compromete a comprar bens do país comprador,
para compensar as divisas despendidas. Há outras formas de
compensação.
O que não se pode é perder de
vista o ponto central da contrapartida. No caso do FX -e deveria ser assim em todas as
grandes licitações públicas-, o
foco básico tem que ser transferência de tecnologia. Levou
anos para cair a ficha do governo e da opinião pública especializada de que a grande luta do
desenvolvimento passa pela absorção de tecnologia de ponta.
Em igualdade de condições tecnológicas, pode-se exigir outras
contrapartidas, mas jamais inverter as prioridades.
Independentemente de quem
seja o vencedor, há que atentar
para os seguintes pontos. Quem
fiscaliza e absorve tecnologia é o
comprador -no caso o governo
brasileiro. Por mais que essa
transferência vá beneficiar a indústria aeronáutica brasileira,
é fundamental que se deixe claro o papel dos órgãos militares
no processo de avaliação e absorção da tecnologia. Por isso
mesmo, seria tranquilizador
para o país se a Embraer e o
CTA (Centro Tecnológico de
Aeronáutica) superassem antigas divergências e explicitassem
um acordo transparente de cooperação.
O segundo ponto é que a busca de contrapartidas deve se
concentrar basicamente no
campo tecnológico. Além do
software e hardware envolvido
no processo, essa licitação poderá se constituir em um marco de
política industrial do país. Por
que não negociar com o vencedor a promoção de iniciativas
visando ampliar o escopo da colaboração tecnológica?
A licitação tem um significado de diplomacia comercial e
tecnológica muito mais abrangente do que a mera venda de
aviões. Poderá ser a ponte entre
as comunidades tecnológicas
dos países envolvidos. Os vencedores poderão ajudar a estabelecer parcerias entre empresas,
institutos de pesquisa, universidades e até regiões.
Essa interação não precisa ser
colocada como precondição,
mesmo porque o edital já foi feito e o tema interessa a todas as
partes. Trata-se muito mais de
um trabalho de articulação, de
aproveitar o momento para
promover essa interação, valendo-se da penetração que cada
concorrente tem no sistema industrial-tecnológico de seu país.
Por isso mesmo, seria relevante
que se envolvesse nessa história
o complexo científico-tecnológico que começa a ganhar corpo
no país, instituições como o Ministério de Ciência e Tecnologia, Fapesp, organizações empresariais voltadas para a inovação, Abimaq etc.
Os países de origem dos concorrentes têm muito a oferecer,
em sistemas de organização da
informação e experiências de
colaboração setorial.
Constituição e crise
Em seu artigo dominical em
"O Estado de S. Paulo", o ex-ministro Mailson da Nóbrega atribui a vulnerabilidade externa
brasileira à Constituição de
1988. Com exceção de Mailson,
não há nenhum estudioso brasileiro ou internacional que ouse tal afirmação.
A Constituição tem excesso de
defeitos, mas não é responsável
nem pela epidemia de dengue,
nem pelo vice-campeonato de
1998, nem pela crise das contas
externas. Mesmo porque, até julho de 1994, a balança comercial brasileira era amplamente
superavitária.
Em ambientes especializados,
não se levaria a sério essa afirmação. Mas, dada sua repercussão em ambientes menos especializados, é importante que
se corrija essa afirmação, em favor do bom diagnóstico.
Prudential
De Jim Gordon, diretor de Relações Públicas da Pudential Securities, recebo e-mail informando que Constantine Menges (o analista que previu uma
invasão de guerrilheiros no
país, comandada por uma
aliança Lula-Chávez) é professor do Hudson Institute, de Indianápolis, não é empregado
nem representa o ponto de vista
da empresa.
É importante salientar que o
MST é movimento de cunho revolucionário. Mais cedo ou
mais tarde, se não houver
acompanhamento, tenderá a se
transformar em uma nova
Farc. O exagero foi aliar sua imagem à do Partido dos Trabalhadores.
E-mail - LNassif@uol.com.br
Texto Anterior: Trabalho: Fiat dará férias coletivas para mil empregados Próximo Texto: Elétricas: Energia da Eletropaulo sobe 14% hoje Índice
|