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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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ÁGUIA ABATIDA

Taxa de 6,4% reflete aumento da procura por vaga, o que é encarado como indicador de confiança na economia

EUA têm maior desemprego desde 1994

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A taxa de desemprego nos Estados Unidos deu um novo salto em junho. Fechou o mês em 6,4%, a maior desde abril de 1994, e 0,3 ponto percentual acima dos 6,1% registrados em maio.
Foi o maior aumento de um mês para o outro desde setembro de 2001, quando ocorreram os atentados terroristas nos EUA.
Mais do que os cortes de vagas, ainda concentrados principalmente no setor industrial, a taxa refletiu a volta de centenas de milhares de pessoas ao mercado em busca de trabalho.
O movimento, apesar do índice em alta, foi interpretado como um novo indicador da volta da confiança em uma recuperação da economia americana.
Em junho, houve um saldo de 30 mil vagas a menos entre as empresas americanas que contrataram ou demitiram, o quinto mês consecutivo de queda.
Mas o índice geral de desemprego foi puxado para cima principalmente pelo fato de 611 mil pessoas, um recorde nos últimos meses, terem se mobilizado em busca de um emprego.
Segundo pronunciamento do diretor de pesquisas do Fed (o banco central americano), Robert Eisenbeis, os desempregados americanos estariam mais "otimistas" e voltando ao mercado antes mesmo que novas vagas se "materializem".
O Departamento do Trabalho prevê que os efeitos do corte de impostos aprovado pelo Congresso recentemente comecem a ser sentidos em agosto. Deve significar, na prática, um pouco mais de dinheiro para as empresas e no bolso dos assalariados.
Em junho, o setor de construção foi o que mais criou empregos, um total de 101 mil vagas. A área industrial, que já cortou 2,6 milhões de pessoas desde julho de 2000, continuou a liderar as dispensas, fechando o mês com 56 mil postos a menos.
O desemprego no setor é o maior desde 1958.
Outro indicador divulgado ontem mostrou um crescimento de 54,5 pontos em maio para 60,6 pontos em junho na atividade de setores não relacionados à área industrial, principalmente nos serviços.
Há meses alguns economistas vêm prevendo que a taxa de desemprego nos EUA poderá aumentar ainda mais sem que isso signifique, necessariamente, uma queda na atividade.
Setores de serviços, saúde e educação vêm empregando mais. Na área industrial, onde houve enormes ganhos de produtividade nos últimos anos, no entanto, os cortes de vagas devem continuar à medida que as empresas buscam lucros maiores.
Ontem, o "The Wall Street Journal" publicou pesquisa com 54 economistas reforçando a tese.
Na média, eles acreditam que a economia dos EUA poderá estar crescendo a uma taxa anualizada de 3,8% no último trimestre de 2003 sem que o desemprego caia.
Uma redução na taxa, para perto de 5,8%, segundo as estimativas, é esperada apenas para o segundo semestre do ano que vem.
Se confirmadas, as previsões vão configurar um cenário difícil para os planos de reeleição do presidente George W. Bush, que já começa a sofrer ataques dos nove pré-candidatos democratas ao pleito de novembro de 2004.
Já se tornou lugar-comum comparar Bush a seu pai, o ex-presidente George Bush (1989-93), que ganhou a Guerra do Golfo, em 1991, mas que perdeu, na sequência, a reeleição por causa do front econômico interno.
Bush pai, no entanto, conseguiu criar 2,6 milhões de empregos durante seu mandato -quase o mesmo número de pessoas demitidas na gestão Bush-filho.
Ontem, assim que saíram os números de junho, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, se prontificou a dizer que o presidente "continua preocupado com cada americano que vem procurando emprego e não consegue encontrar".


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