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Memória inflacionária traz de volta reajuste "defensivo"
Mesmo sem alta de custos, setores elevam preços para se prevenir contra perdas
Segundo a Fipe, setor que mais usa esse expediente
é o de serviços; apesar dos reajustes, taxa da inflação
começa a desacelerar em SP
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O brasileiro ainda não perdeu a memória inflacionária.
Bastaram poucos meses de inflação em alta e alguns setores
começam a fazer reajustes
"preventivos". Ou seja, mesmo
sem aumentos de custos, vários
setores elevam seus preços para antecipar eventuais perdas.
É o que mostram os dados
mais recentes da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Esses aumentos
ocorrem principalmente no setor de serviços.
Márcio Nakane, coordenador do IPC da Fipe, diz, porém,
que os tempos são diferentes.
Esses aumentos preocupam
porque podem se espalhar pela
economia, mas, ao contrário do
que ocorria há 14 anos, antes do
Plano Real, a taxa atual de inflação não deverá ser contaminada como no passado.
O Banco Central tem mecanismos, via taxas de juros mais
altas, para frear essa tendência.
Além disso, os aumentos só serão assimilados pelo consumidor se a demanda continuar
acentuada. "Mas há uma boa
notícia: a desaceleração expressiva dos preços dos alimentos",
segundo Nakane.
Desacelerando
Mesmo com esse início de
aumentos preventivos, a inflação começa a desacelerar. Em
junho, o IPC da Fipe referente
ao município de São Paulo subiu 0,96%, abaixo do 1,23% de
maio. Nos últimos 12 meses, a
taxa sobe, no entanto, para
5,84% -o maior percentual em
12 meses desde agosto de 2005.
O aumento de preços nos últimos meses e a estimativa de
novas pressões neste semestre,
embora em ritmo menor, fizeram a Fipe rever para cima a taxa de inflação deste ano: 6,35%.
A estimativa anterior era de
5,93%. No primeiro semestre, a
inflação ficou em 3,8%.
Conforme dados apresentados ontem por Nakane, os itens
que mais vinham pressionando
a inflação estão em desaceleração: alimentação, habitação e
transportes. Os demais setores,
como despesas pessoais, saúde
e educação, começam a subir.
Ou seja, cai o preço dos alimentos, mas sobe o de serviços.
A inflação deve incorporar os
aumentos dos setores de energia elétrica e de telefonia fixa.
Nos cálculos de Nakane, o aumento de 8,63% da energia para residências vai gerar inflação
de 0,34%. Já a telefonia fixa, se
for confirmado o aumento de
4,46%, vai gerar 0,09%.
Liderança
Apesar da desaceleração, os
alimentos mantêm liderança
firme na pressão inflacionária.
A alta acumulada de janeiro a
junho é de 8,3%; em 12 meses,
de 16,3% -taxa não registrada
desde outubro de 2003.
O destaque nos últimos 12
meses ficou para os produtos
semi-elaborados, que subiram
29,4%. Cereais (62,6%) e carnes bovinas (38,8%) foram os
destaques. A maior pressão do
momento vem de carnes bovinas, que subiram 9,79% no mês
passado. Essa taxa representa
um quarto do aumento de toda
a inflação de junho.
Em agosto, Antonio Evaldo
Comune, coordenador do Ipop
(Índice de Preços de Obras Públicas) assume, também, a
coordenação do IPC da Fipe.
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