São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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Memória inflacionária traz de volta reajuste "defensivo"

Mesmo sem alta de custos, setores elevam preços para se prevenir contra perdas

Segundo a Fipe, setor que mais usa esse expediente é o de serviços; apesar dos reajustes, taxa da inflação começa a desacelerar em SP

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O brasileiro ainda não perdeu a memória inflacionária. Bastaram poucos meses de inflação em alta e alguns setores começam a fazer reajustes "preventivos". Ou seja, mesmo sem aumentos de custos, vários setores elevam seus preços para antecipar eventuais perdas.
É o que mostram os dados mais recentes da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Esses aumentos ocorrem principalmente no setor de serviços.
Márcio Nakane, coordenador do IPC da Fipe, diz, porém, que os tempos são diferentes. Esses aumentos preocupam porque podem se espalhar pela economia, mas, ao contrário do que ocorria há 14 anos, antes do Plano Real, a taxa atual de inflação não deverá ser contaminada como no passado.
O Banco Central tem mecanismos, via taxas de juros mais altas, para frear essa tendência. Além disso, os aumentos só serão assimilados pelo consumidor se a demanda continuar acentuada. "Mas há uma boa notícia: a desaceleração expressiva dos preços dos alimentos", segundo Nakane.

Desacelerando
Mesmo com esse início de aumentos preventivos, a inflação começa a desacelerar. Em junho, o IPC da Fipe referente ao município de São Paulo subiu 0,96%, abaixo do 1,23% de maio. Nos últimos 12 meses, a taxa sobe, no entanto, para 5,84% -o maior percentual em 12 meses desde agosto de 2005.
O aumento de preços nos últimos meses e a estimativa de novas pressões neste semestre, embora em ritmo menor, fizeram a Fipe rever para cima a taxa de inflação deste ano: 6,35%. A estimativa anterior era de 5,93%. No primeiro semestre, a inflação ficou em 3,8%.
Conforme dados apresentados ontem por Nakane, os itens que mais vinham pressionando a inflação estão em desaceleração: alimentação, habitação e transportes. Os demais setores, como despesas pessoais, saúde e educação, começam a subir. Ou seja, cai o preço dos alimentos, mas sobe o de serviços.
A inflação deve incorporar os aumentos dos setores de energia elétrica e de telefonia fixa. Nos cálculos de Nakane, o aumento de 8,63% da energia para residências vai gerar inflação de 0,34%. Já a telefonia fixa, se for confirmado o aumento de 4,46%, vai gerar 0,09%.

Liderança
Apesar da desaceleração, os alimentos mantêm liderança firme na pressão inflacionária. A alta acumulada de janeiro a junho é de 8,3%; em 12 meses, de 16,3% -taxa não registrada desde outubro de 2003.
O destaque nos últimos 12 meses ficou para os produtos semi-elaborados, que subiram 29,4%. Cereais (62,6%) e carnes bovinas (38,8%) foram os destaques. A maior pressão do momento vem de carnes bovinas, que subiram 9,79% no mês passado. Essa taxa representa um quarto do aumento de toda a inflação de junho.
Em agosto, Antonio Evaldo Comune, coordenador do Ipop (Índice de Preços de Obras Públicas) assume, também, a coordenação do IPC da Fipe.


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