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Governo terá R$ 6 bi a mais para gastar
Despesas do PAC vão ser descontadas do cálculo do superávit primário deste ano, cuja meta cairá de 2,5% para 1,85% do PIB
Para ter acesso ao recurso extra, porém, Planalto terá de executar todo o PAC, algo que não não conseguiu desde o lançamento do programa
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para evitar cortes no Orçamento deste ano, o governo Lula vai reduzir mais uma vez sua
economia para pagar juros da
dívida pública. A decisão foi tomada ontem pelo presidente
Lula e fará a meta de superávit
primário cair de 2,5% para
1,85% do PIB (Produto Interno
Bruto), abrindo espaço para o
governo gastar cerca de R$ 6 bilhões a mais.
Lula optou pela redução na
meta de superávit primário
(aquilo que o setor público economiza para pagar sua dívida)
depois de recusar as propostas
feitas pela equipe econômica
de promover cortes no Orçamento ou usar o dinheiro do
Fundo Soberano -ao menos
neste momento. Se decidir pelo
uso do dinheiro do fundo no futuro, o superávit poderá cair
para até 1,35% do PIB.
Pelos cálculos da equipe econômica, o Orçamento da União
tem hoje um buraco de R$ 3 bilhões diante das sucessivas
quedas na arrecadação provocadas pela freada no PIB e por
cortes de tributos para tentar
estimular o crescimento.
A avaliação é que a receita federal ficará R$ 87 bilhões abaixo da previsão inicial, encerrando o ano praticamente no
mesmo patamar de 2008 -cerca de R$ 660 bilhões.
A fim de garantir os recursos
extras, a equipe econômica vai
usar o artifício de descontar do
cálculo do superávit primário
deste ano as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), num total de R$ 21,4
bilhões ou 0,65% do PIB.
Antes, o governo tinha autorização para excluir da meta o
PPI (Projeto Piloto de Investimentos, que inclui obras classificadas de prioritárias para a infraestrutura), num total de R$
15 bilhões ou 0,50% do PIB.
A medida será adotada com
mudança na Lei de Diretrizes
Orçamentárias, o que terá de
ser aprovado no Congresso.
Com isso, o governo ficará autorizado a deixar de economizar R$ 6,4 bilhões, a diferença
entre os R$ 21,4 bilhões do PAC
e os R$ 15 bilhões do PPI.
Esse dinheiro extra equivale
ao gasto com o reajuste concedido ao funcionalismo a partir
deste mês, que inicialmente a
equipe econômica sugeria suspender diante da queda na arrecadação.
Para ter acesso a todos esses
recursos extras, porém, o governo terá de fazer algo que até
agora não conseguiu desde a
criação do PAC, em 2007: executar todo o programa, já que o
dinheiro investido nele pode
ser considerado superávit em
vez de gastos.
Bolsa Família
Segundo a Folha apurou, a
equipe econômica conta pelo
menos com uma execução do
PAC que abra espaço para cobrir os R$ 3 bilhões de rombo
no Orçamento e ainda garantir
recursos para reajustar o programa Bolsa Família.
Ontem, Lula determinou que
sua equipe faça os cálculos para
definir de quanto poderá ser
esse reajuste. Ele gostaria de
dar um aumento acima da inflação, mas não sabe se isso será possível diante das limitações orçamentárias.
Essa não será a primeira vez
em que o governo recorrerá à
redução do superávit a fim de
compensar o aumento de gastos e a queda na receita. Em
abril, Lula já havia determinado redução da meta de 3,8% para 2,5% como antídoto à crise.
A ordem foi gastar mais diante da desaceleração na economia. O país entrou em recessão
técnica neste ano, depois de
queda no PIB por dois trimestres seguidos -o último de
2008 e o primeiro deste ano.
A equipe econômica não teme que a nova redução da meta
provoque reação negativa no
mercado, embora a menor economia destinada ao pagamento
de juros fará aumentar a chamada relação entre a dívida pública e o PIB. Hoje, ela está em
42,5%, e, antes dessas mudanças na meta, a expectativa é que
estivesse em 40%.
Na avaliação de um assessor
de Lula, o mercado entenderá
que se trata de uma medida
emergencial e, no próximo ano,
a meta seria novamente elevada para 3,3% do PIB.
O governo já anunciou, contudo, que também pretende
usar o artifício de descontar todo o PAC em 2010, garantindo
com isso mais recursos para investimentos no ano eleitoral,
quando a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) deve ser a candidata de Lula a sua sucessão.
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