São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2006

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Supermercado tem pior venda em 10 anos

Renato Stockler - 19.jul.06/Folha Imagem
Consumidora em supermercado de São Paulo; grandes redes revêem previsão de crescimento


Faturamento real do setor teve queda de 2,74% no primeiro semestre; entidade já reduz previsão de expansão no ano

Maiores redes registraram retração de 4,1% no volume vendido, de novembro de 2005 a maio deste ano, em relação ao período anterior


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os supermercados tiveram o pior primeiro semestre de vendas reais em dez anos. Quem mais saiu arranhado dessa crise foram as grandes cadeias varejistas, líderes de mercado, que atuam com mais de 20 caixas por loja, apurou a Folha. Mudanças no comportamento do consumidor nos últimos anos, que busca cada vez mais a compra de conveniência, e preços competitivos das lojas menores fizeram o pequeno negócio vender mais -e se tornar a pedra no sapato da rede líder.
É o que mostram os dados da consultoria ACNielsen, obtidos com exclusividade, e os números da Abras (entidade do setor) publicados ontem. Segundo a associação, o faturamento real dos supermercadistas caiu 2,74% de janeiro a junho de 2006 -resultado pior até que o recorde de queda anterior, de 2%, em 2002. O tombo no semestre levou a entidade a rever para baixo a previsão inicial para o ano -de expansão de 2% a 3%. Agora, o presidente da associação, João Carlos de Oliveira, já fala em um crescimento de no máximo 1,5% no faturamento real em 2006.
Se conseguir chegar a isso -com aquecimento elevado no segundo semestre-, o setor voltará ao mesmo patamar de vendas de 2002, ano em que a economia ficou em suspenso com a eleição do PT para a Presidência da República. "Vai ser difícil recuperar a queda nos próximos meses", diz Oliveira.

Desempenho
Levantamento da ACNielsen mostra que as maiores empresas de supermercado do Brasil (acima de 50 caixas) registraram retração de 4,1% no volume vendido de novembro a maio, em relação ao mesmo período anterior. Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart possuem modelos de loja desse tamanho. As empresas não divulgam dados de volume vendido.
Para os pontos com 20 a 49 caixas, a queda foi de 0,8% -nesse caso estão supermercados de médio porte e hipermercados. Na outra ponta do negócio, para lojas menores, com até quatro caixas, foi registrada uma alta expressiva de 9,2% no volume comercializado. Naquelas de cinco a nove caixas, a expansão atingiu 7,8%. Foi analisado o volume vendido em 159 categorias de produto.
Em todos os tipos de loja, o preço das mercadorias vendidas caiu -de 2,6% a 4,4%. Então é certo afirmar que a deflação pegou todo mundo. As lojas passaram a ter de vender muito mais para conseguir girar o estoque e fazer caixa por conta da retração no preço. Isso porque a deflação faz entrar menos dinheiro por venda na empresa.
A questão é que, pelos dados de 2006, há um fator novo: as grandes lojas enfrentam não só a deflação mas um volume comercializado menor. Portanto, a conta não fecha mesmo. O Pão de Açúcar montou uma reestruturação de seus negócios para cortar custos e ficar mais enxuto em 2006. O Carrefour fechou lojas deficitárias em 2005 e em 2006.
O cenário atual é reflexo de um momento de mudança no formato do negócio de supermercados e de aumento da concorrência de outros setores (eletrônico, informática) sobre o negócio de alimentos.
"Todos competem com todos, e a renda é uma só. Há a conta de celular, da TV a cabo, as prestações da nova TV. Se sobra renda, o consumidor faz outros gastos ou paga contas. Mas ele não estoca mais arroz ou feijão se a renda sobe", diz Olegário Araújo, gerente de atendimento de clientes varejistas da ACNielsen.


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