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Setores afetados pelo câmbio já reagem
Empresas se adaptam para tirar proveito do crescimento do mercado interno, que absorve parte do que era exportado
Recuperação contraria teses sobre existência de processo de desindustrialização causado pela perda de competitividade cambial
DA SUCURSAL DO RIO
Os ramos mais afetados pelo
real valorizado já começam a
mostrar reação e se beneficiam
do forte crescimento do consumo interno, revelam os dados
da indústria divulgados pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Os bens semiduráveis (calçados e vestuários), que sofrem
com a concorrência chinesa,
registraram crescimento de
3,7% no segundo trimestre. No
primeiro trimestre, a categoria
teve queda de 4,6%. Na média
do primeiro semestre, houve
ainda recuo de 0,4%.
Segundo Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE, a
expansão é fruto da adaptação
das empresas exportadoras ao
novo patamar do câmbio e do
crescimento do mercado interno de consumo, que passou a
absorver parte dos bens antes
exportados.
Segundo economistas ouvidos pela Folha, a recuperação
dos semiduráveis, aliada ao forte crescimento de outros setores, indica que não há um processo de desindustrialização
em curso no país. A tese foi levantada por um grupo de economistas tidos como desenvolvimentistas (pensamento liderado na academia por UFRJ e
Unicamp) por causa da perda
de competitividade provocada
pela valorização do real.
Para Sérgio Vale, economista
da MB Associados, a tese de
"desindustrialização de setores
muito intensivos em mão-de-obra como calçados e têxteis"
não se sustenta diante da reação desses ramos, que estão se
beneficiando do crescimento
do consumo doméstico.
Vale diz, porém, que esses setores não são mais competitivos para vender em grande escala no mercado externo por
causa da China, que produz a
custo muito mais baixo. "Eles
não têm mais oportunidade de
competir pelo grande mercado
desde os anos 1990. Esse é um
problema que já existia e se
agravou com o câmbio."
O economista Joel Bogdanski, do Itaú, afirmou que só terão espaço empresas que buscarem vender produtos diferenciados, de maior qualidade.
"Acho que essa tese de desindustrialização morreu", disse
Solange Srour, da Mellon Global Investments, ressaltando
que a produção de veículos e de
eletrodomésticos, que também
poderia ser afetada pelo câmbio, está em expansão.
Para Bogdanski, outra teoria
corrente, a de que a capacidade
instalada da indústria (82,7%
em maio) está próxima a seu limite e compromete a estabilidade de preços, também não se
confirmou.
Nesse caso, a tese, que defende um política monetária mais
restritiva, foi lançada por economistas chamados de monetaristas, pensamento liderado
pela PUC-Rio.
"Os dados mostram que ambas [as teses] estavam erradas.
O crescimento da indústria é
forte e pujante e não ameaça a
estabilidade de preços", disse
Bogdanski.
(PEDRO SOARES)
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