São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

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Setores afetados pelo câmbio já reagem

Empresas se adaptam para tirar proveito do crescimento do mercado interno, que absorve parte do que era exportado

Recuperação contraria teses sobre existência de processo de desindustrialização causado pela perda de competitividade cambial

DA SUCURSAL DO RIO

Os ramos mais afetados pelo real valorizado já começam a mostrar reação e se beneficiam do forte crescimento do consumo interno, revelam os dados da indústria divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os bens semiduráveis (calçados e vestuários), que sofrem com a concorrência chinesa, registraram crescimento de 3,7% no segundo trimestre. No primeiro trimestre, a categoria teve queda de 4,6%. Na média do primeiro semestre, houve ainda recuo de 0,4%.
Segundo Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE, a expansão é fruto da adaptação das empresas exportadoras ao novo patamar do câmbio e do crescimento do mercado interno de consumo, que passou a absorver parte dos bens antes exportados.
Segundo economistas ouvidos pela Folha, a recuperação dos semiduráveis, aliada ao forte crescimento de outros setores, indica que não há um processo de desindustrialização em curso no país. A tese foi levantada por um grupo de economistas tidos como desenvolvimentistas (pensamento liderado na academia por UFRJ e Unicamp) por causa da perda de competitividade provocada pela valorização do real.
Para Sérgio Vale, economista da MB Associados, a tese de "desindustrialização de setores muito intensivos em mão-de-obra como calçados e têxteis" não se sustenta diante da reação desses ramos, que estão se beneficiando do crescimento do consumo doméstico.
Vale diz, porém, que esses setores não são mais competitivos para vender em grande escala no mercado externo por causa da China, que produz a custo muito mais baixo. "Eles não têm mais oportunidade de competir pelo grande mercado desde os anos 1990. Esse é um problema que já existia e se agravou com o câmbio."
O economista Joel Bogdanski, do Itaú, afirmou que só terão espaço empresas que buscarem vender produtos diferenciados, de maior qualidade.
"Acho que essa tese de desindustrialização morreu", disse Solange Srour, da Mellon Global Investments, ressaltando que a produção de veículos e de eletrodomésticos, que também poderia ser afetada pelo câmbio, está em expansão.
Para Bogdanski, outra teoria corrente, a de que a capacidade instalada da indústria (82,7% em maio) está próxima a seu limite e compromete a estabilidade de preços, também não se confirmou.
Nesse caso, a tese, que defende um política monetária mais restritiva, foi lançada por economistas chamados de monetaristas, pensamento liderado pela PUC-Rio.
"Os dados mostram que ambas [as teses] estavam erradas. O crescimento da indústria é forte e pujante e não ameaça a estabilidade de preços", disse Bogdanski.
(PEDRO SOARES)


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