São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

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Petrobras paga R$ 2,7 bi por petroquímica

Aquisição faz ações da Suzano dispararem 56% e leva CVM a anunciar investigação sobre um possível vazamento

Negócio eleva grau de estatização e concentração do setor e será analisado também por órgãos de defesa da concorrência

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Petrobras anunciou ontem a compra da Suzano Petroquímica por um preço que poderá chegar a R$ 2,7 bilhões, mais que o dobro do valor de mercado que a empresa tinha na quinta-feira. Com a aquisição, a estatal passa a ser a segunda maior empresa do setor, atrás apenas da Braskem.
As ações da Suzano subiram 56% ontem, enquanto os papéis preferenciais da Petrobras tiveram desvalorização de 4,26%, superior à queda de 3,36% da Bovespa.
Com a alta, a ação da Suzano fechou em R$ 8,91, patamar inferior aos R$ 10,76 por papel preferencial oferecidos pela Petrobras, o que significa que poderá subir ainda mais nos próximos pregões. Pela ação ordinária (com direito a voto), ela ofereceu R$ 13,44.
Os controladores da Suzano vão receber R$ 2,1 bilhões. Os R$ 600 milhões restantes se referem a ações em mãos de acionistas minoritários, que terão opção de vender ou não seus papéis pelo mesmo preço pago aos controladores.
José Lima de Andrade Neto, presidente da Petroquisa, braço petroquímico da Petrobras, negou que a estatal tenha pago um preço elevado pela Suzano. Flávio Valadão, do ABN-Amro, que assessorou a Petrobras, disse que o valor não poderia ser definido apenas pela cotação das ações na Bolsa. "Fizemos projeções para os próximos dez anos."
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, ressaltou que a aquisição da Suzano faz parte da estratégia da estatal de se tornar um ator de peso na petroquímica. No início deste ano, a estatal já havia comprado o grupo Ipiranga, em associação com Braskem e Ultra -um negócio de US$ 4 bilhões.
"A aquisição da Suzano contribuirá para garantir os interesses da Petrobras no movimento de reestruturação do setor petroquímico nacional, especialmente no que se refere à consolidação do Pólo Petroquímico do Sudeste, proporcionando condições para o surgimento de empresas nacionais com escala internacional", dizia comunicado divulgado pela Petrobras.
O setor passa por um processo de consolidação desde o início desta década, com a criação da Braskem, maior indústria petroquímica das regiões Nordeste e Sul. A compra da Suzano dá início ao processo de consolidação no Sudeste, ao fim do qual haverá poucas e grandes empresas do setor. Na avaliação de Gabrielli, a aquisição dá à indústria petroquímica maior capacidade de expansão no Brasil e no mundo.
Nesse processo de consolidação, a Petrobras tinha participações minoritárias em outras indústrias do setor, às quais vendia matéria-prima. Com a compra da Suzano, ela será também concorrente de suas clientes. O fato de a Petrobras ser ao mesmo tempo fornecedora de matéria-prima (nafta e gás) e fabricante de produtos petroquímicos levou analistas a manifestarem preocupação em relação à igualdade de competição entre as empresas.
A operação terá de ser aprovada pela Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que ainda analisa a compra da Ipiranga. Gabrielli afirmou que a questão da oferta de matéria-prima é "um problema" que terá de ser equacionado com as empresas, mas disse não ver risco de prejuízo à concorrência. "O mercado relevante da petroquímica é o mercado internacional." Ou seja, a oferta não se restringe à Petrobras. Além disso, segundo ele, a matéria-prima utilizada pelas demais empresas do setor é diferente da que é demandada pela Suzano.
Com a aquisição, a Petrobras voltará a controlar a Petroflex, empresa que já pertenceu à estatal e foi privatizada em 1992.
Gabrielli sustentou que não há intenção de reestatizar o setor petroquímico e afirmou que está em busca de sócios privados para a consolidação da região Sudeste, onde a Suzano é o principal ator. "A Petrobras não necessariamente quer ser a empresa dominante", disse.
Gabrielli observou que já existem negociações com potenciais sócios privados, que poderão ter participação na Suzano. A aquisição da empresa será concluída dentro de dois meses. Até lá, a estatal espera agregar outros sócios. Também pretende ter participação de investidores privados no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Anunciado no ano passado, o pólo consumirá investimentos de US$ 3,5 bilhões na fase inicial e fortalecerá a participação do Sudeste na petroquímica nacional.
As indústrias do setor são responsáveis pela transformação de petróleo, nafta ou gás em produtos que serão utilizados na fabricação de plástico e resinas plásticas. A Suzano é a segunda maior produtora de resinas termoplásticas do Brasil e é líder latino-americana na fabricação de polipropileno.
"A Petrobras tem manifestado interesse no setor petroquímico há mais de um ano", destacou Marcos Paulo Fernandes Pereira, analista da Fator Corretora de Valores. Em sua avaliação, o negócio faz sentido para a Petrobras porque dará à estatal o controle de toda a cadeia produtiva, da matéria-prima ao produto final. A dúvida, é como ficarão os concorrentes da estatal, observou.
A Folha apurou que alguns analistas avaliam que a compra poderá enviar ao investidor estrangeiro sinais ambíguos quanto às aspirações da Petrobras, com dúvidas sobre a possível reestatização do setor.


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