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Petrobras paga R$ 2,7 bi por petroquímica
Aquisição faz ações da Suzano dispararem 56% e leva CVM a anunciar investigação sobre um possível vazamento
Negócio eleva grau de estatização e concentração do setor e será analisado também por órgãos de defesa da concorrência
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Petrobras anunciou ontem
a compra da Suzano Petroquímica por um preço que poderá
chegar a R$ 2,7 bilhões, mais
que o dobro do valor de mercado que a empresa tinha na
quinta-feira. Com a aquisição, a
estatal passa a ser a segunda
maior empresa do setor, atrás
apenas da Braskem.
As ações da Suzano subiram
56% ontem, enquanto os papéis preferenciais da Petrobras
tiveram desvalorização de
4,26%, superior à queda de
3,36% da Bovespa.
Com a alta, a ação da Suzano
fechou em R$ 8,91, patamar inferior aos R$ 10,76 por papel
preferencial oferecidos pela
Petrobras, o que significa que
poderá subir ainda mais nos
próximos pregões. Pela ação
ordinária (com direito a voto),
ela ofereceu R$ 13,44.
Os controladores da Suzano
vão receber R$ 2,1 bilhões. Os
R$ 600 milhões restantes se referem a ações em mãos de acionistas minoritários, que terão
opção de vender ou não seus
papéis pelo mesmo preço pago
aos controladores.
José Lima de Andrade Neto,
presidente da Petroquisa, braço petroquímico da Petrobras,
negou que a estatal tenha pago
um preço elevado pela Suzano.
Flávio Valadão, do ABN-Amro,
que assessorou a Petrobras,
disse que o valor não poderia
ser definido apenas pela cotação das ações na Bolsa. "Fizemos projeções para os próximos dez anos."
O presidente da Petrobras,
José Sergio Gabrielli, ressaltou
que a aquisição da Suzano faz
parte da estratégia da estatal de
se tornar um ator de peso na
petroquímica. No início deste
ano, a estatal já havia comprado
o grupo Ipiranga, em associação com Braskem e Ultra -um
negócio de US$ 4 bilhões.
"A aquisição da Suzano contribuirá para garantir os interesses da Petrobras no movimento de reestruturação do setor petroquímico nacional, especialmente no que se refere à
consolidação do Pólo Petroquímico do Sudeste, proporcionando condições para o surgimento de empresas nacionais
com escala internacional", dizia comunicado divulgado pela
Petrobras.
O setor passa por um processo de consolidação desde o início desta década, com a criação
da Braskem, maior indústria
petroquímica das regiões Nordeste e Sul. A compra da Suzano dá início ao processo de consolidação no Sudeste, ao fim do
qual haverá poucas e grandes
empresas do setor. Na avaliação de Gabrielli, a aquisição dá
à indústria petroquímica maior
capacidade de expansão no
Brasil e no mundo.
Nesse processo de consolidação, a Petrobras tinha participações minoritárias em outras
indústrias do setor, às quais
vendia matéria-prima. Com a
compra da Suzano, ela será
também concorrente de suas
clientes. O fato de a Petrobras
ser ao mesmo tempo fornecedora de matéria-prima (nafta e
gás) e fabricante de produtos
petroquímicos levou analistas
a manifestarem preocupação
em relação à igualdade de competição entre as empresas.
A operação terá de ser aprovada pela Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que ainda analisa a compra da Ipiranga. Gabrielli afirmou que a questão da oferta de
matéria-prima é "um problema" que terá de ser equacionado com as empresas, mas disse
não ver risco de prejuízo à concorrência. "O mercado relevante da petroquímica é o mercado
internacional." Ou seja, a oferta
não se restringe à Petrobras.
Além disso, segundo ele, a matéria-prima utilizada pelas demais empresas do setor é diferente da que é demandada pela
Suzano.
Com a aquisição, a Petrobras
voltará a controlar a Petroflex,
empresa que já pertenceu à estatal e foi privatizada em 1992.
Gabrielli sustentou que não
há intenção de reestatizar o setor petroquímico e afirmou que
está em busca de sócios privados para a consolidação da região Sudeste, onde a Suzano é o
principal ator. "A Petrobras
não necessariamente quer ser a
empresa dominante", disse.
Gabrielli observou que já
existem negociações com potenciais sócios privados, que
poderão ter participação na Suzano. A aquisição da empresa
será concluída dentro de dois
meses. Até lá, a estatal espera
agregar outros sócios. Também
pretende ter participação de investidores privados no Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro. Anunciado no ano passado, o pólo consumirá investimentos de US$ 3,5 bilhões na
fase inicial e fortalecerá a participação do Sudeste na petroquímica nacional.
As indústrias do setor são
responsáveis pela transformação de petróleo, nafta ou gás em
produtos que serão utilizados
na fabricação de plástico e resinas plásticas. A Suzano é a segunda maior produtora de resinas termoplásticas do Brasil e é
líder latino-americana na fabricação de polipropileno.
"A Petrobras tem manifestado interesse no setor petroquímico há mais de um ano", destacou Marcos Paulo Fernandes
Pereira, analista da Fator Corretora de Valores. Em sua avaliação, o negócio faz sentido para a Petrobras porque dará à estatal o controle de toda a cadeia
produtiva, da matéria-prima ao
produto final. A dúvida, é como
ficarão os concorrentes da estatal, observou.
A Folha apurou que alguns
analistas avaliam que a compra
poderá enviar ao investidor estrangeiro sinais ambíguos
quanto às aspirações da Petrobras, com dúvidas sobre a possível reestatização do setor.
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