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Brasileiros mantêm investimento mesmo com crise na Argentina
Missão encontra país fragilizado por inflação alta e conflito com agricultores
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
O cenário para investimentos estrangeiros que a missão
empresarial brasileira encontrará na Argentina não parece
muito animador. O governo viveu um conflito com o setor
agropecuário durante quatro
meses, o qual gerou um locaute
do setor, bloqueio de estradas e
o desabastecimento.
Mas, mesmo antes da fase
atual, o governo da presidente
Cristina Kirchner, assim como
o anterior, de seu marido Néstor (2003-2007), já aplicava
políticas pouco estimulantes
aos investidores, como controle de preços e restrições às exportações. Em 2007, o país captou só 5,4% dos investimentos
feitos na América Latina.
Além disso, o país (e suas empresas) sofre com a constante
ameaça de crise energética,
com a crescente inflação e com
freqüentes piquetes de trabalhadores e setores insatisfeitos.
Ainda assim, no país só se fala
da "invasão brasileira", o boom
recente de compras e investimentos de empresas do Brasil
no país vizinho. Em maio, a têxtil Santana instalou sua primeira fábrica no norte do país. Em
junho, o grupo de publicidade
Totalcom anunciou a compra
da maior empresa de marketing promocional argentina.
Nos últimos anos, o Brasil
entrou forte no mercado local
com a compra de empresas tradicionais, como a cimenteira
Loma Negra, a cervejaria Quilmes e a empresa de calçados Alpargatas. Segundo relatório da
consultoria Deloitte, as empresas brasileiras investiram US$
8 bilhões no país desde 2002.
"Alentadas pelas condições
financeiras favoráveis, as empresas brasileiras seguem
avançando na Argentina entre
a tomada de controle de companhias e ampliações de fábricas", diz a Deloitte.
Neste ano, só a Província de
Buenos Aires prevê receber
US$ 190 milhões em investimentos brasileiros.
Mas, por que, diante de um
cenário tão desfavorável, acontece o tal "avanço brasileiro"?
Uma reportagem recente do
jornal "Clarín" atribui a invasão a um certo otimismo característico do povo vizinho.
Na prática, esse otimismo
pode ser traduzido por uma visão a longo prazo. "Nós já tivemos o apagão. Olhando em
perspectiva, também tivemos
as greves do ABC. Ontem, esses
mesmos problemas daqui nós
sofremos lá", afirma Humberto
de Farias, ex-diretor-geral da
cimenteira Loma Negra, empresa do grupo Camargo Corrêa, que investirá cerca de US$
100 milhões no país neste ano.
O crescimento da construção
civil no país também é um estímulo. "Existe uma demanda de
infra-estrutura que permite dizer: há espaço para crescer."
Além de estabelecer perspectivas a longo prazo, a economista da Fundação de Investigações Econômicas Latino-Americanas (Fiel) Marcela Cristini
destaca como vantagens para o
Brasil o fato de a Argentina ser
quase uma extensão do mercado brasileiro e de o país ter
comprado empresas a bons
preços.
"Além de tudo, tomaram empresas líderes de mercado e escolheram áreas de atuação menos vulneráveis às crises", afirma Cristini. Segundo a especialista, apenas as empresas que
compraram frigoríficos na Argentina, que sofrem tanto com
a restrição às exportações
quanto com a crise do campo,
"devem estar pensando duas
vezes no que fizeram".
A fórmula de atuar em mercados "seguros" e escolher
marcas emblemáticas se confirma no caso da cervejaria
Quilmes, controlada pela Inbev, fusão entre a brasileira
Ambev e a belga Interbrew.
"Apesar dos fatos recentes,
não vemos um cenário de crise", diz um dos diretores da empresa, Mariano Botas.
O cenário argentino também
não parece assustador para o
publicitário Eduardo Fischer,
da Totalcom, que começou a investir no país no auge da crise,
em 2002, mas fugiu da Venezuela há quatro anos. "Na Argentina, mesmo com crise, há
um mercado de consumo, de
grife, que se mantém. Na Venezuela, o [presidente Hugo]
Chávez acabou com esse mercado", explica.
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