São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2008

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Azul quer mudança de regras para voar

Empresa conta com reorganização de Congonhas (SP) e autorização para companhias regionais no Santos Dumont (RJ)

Além da ponte aérea Rio-SP, ainda estão nos seus planos todas as capitais do Sul e do Sudeste, cinco do Nordeste e outras grandes cidades

Paulo Whitaker-28.mai.08/Reuters
No lançamento da Azul, seu fundador, David Neeleman, mostra réplica do jato Embraer 195

FERNANDA ODILLA
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma eficaz campanha de marketing promete uma revolução no jeito de lidar com o mercado aéreo no Brasil, mas as práticas continuam as de sempre. A Azul Linhas Aéreas, nova companhia do setor, já conta com mudanças de regra encomendadas pelo governo federal para poder decolar.
A pedido do ministro da Defesa, Nelson Jobim, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) estuda mudanças em pelo menos duas portarias que permitirão à nova empresa operar a partir do aeroporto Santos Dumont (Rio de Janeiro) e também em Congonhas (São Paulo). Segundo o ministro, a demanda partiu das empresas regionais, "sob a justificativa de que a situação atual estaria beneficiando apenas as duas empresas dominantes no mercado de aviação civil", que seriam TAM e Gol.
Para competir com as duas na ponte aérea Rio-São Paulo, a Azul depende da redistribuição dos "slots" (autorização para pouso e decolagem) no terminal da capital paulista.
Em ofício encaminhado no início de julho à Infraero, ao qual a Folha teve acesso, a Azul pede autorização do órgão para se instalar imediatamente nos aeroportos de Campinas, Curitiba e Rio de Janeiro (Santos Dumont) a fim de garantir a emissão do Cheta (Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo), documento essencial para voar.

Subaproveitamento
Há, contudo, restrições para empresas do porte da Azul operarem no Santos Dumont. A Anac confirmou que estuda mudar a vocação do aeroporto carioca e do da Pampulha (BH), limitados à aviação regional.
Exceto pela ponte aérea Rio-São Paulo, somente aviões com até 50 assentos podem operar a partir dos dois terminais. Vôos com destino a outras capitais ou cidades com mais de 1 milhão de habitantes precisam fazer escalas em municípios do interior do Rio e de Minas.
A Azul operará com jatos Embraer-195, com capacidade para 118 passageiros. Três chegam em dezembro e, em 2009, a empresa espera voar com o total de 14 aviões. Será a única companhia no país a usar aeronaves da empresa nacional, escolha que agradou ao governo e, segundo a Folha apurou, tem ajudado a Azul nos pleitos.
A Anac confirma que estuda fazer um rodízio entre as empresas em Congonhas. A mudança permitiria a entrada de novas companhias no terminal, entre elas a Azul.
Atualmente, os "slots" são leiloados e concentram-se nas mãos da TAM e da Gol/Varig. A Anac também planeja aprimorar a regra de aferição da eficiência no seu uso: o não cumprimento implicaria na perda.
Jobim disse esperar "o momento oportuno" para fazer as mudanças nos aeroportos brasileiros. "A Anac está fazendo os estudos e vamos ter que redimensionar o problema da partilha dos "slots". Pampulha e Santos Dumont estão subdimensionados no seu uso. Vamos pensar na possibilidade de redefinirmos a destinação do aeroporto para também ter ligações nacionais sem comprometer o Galeão", declarou, no início de julho.

Estratégia
No documento entregue à Infraero, assinado pelo vice-presidente de operações da Azul, Miguel Dau, a empresa informa a necessidade de instalações em 23 aeroportos em quatro etapas, a serem concluídas até o final de abril de 2009.
Gianfranco Beting, diretor de marketing da Azul, disse que a empresa tem interesse na ponte aérea Rio-São Paulo. Mas também mira em outros destinos, entre eles todas as capitais do Sul e do Sudeste, cinco capitais do Nordeste e cidades como São José dos Campos (SP), Londrina (PR), Iguaçu (PR), Navegantes (SC) e Uberlândia (MG). "A gente tem planos de servir 25 aeroportos no Brasil. Onde a gente vai começar a operar, depende de onde conseguirmos autorização primeiro. Depende do governo."
O diretor afirmou que a Azul tem feito esforços com autoridades para conquistar espaço. "Temos ampliado os leques de contatos, como seria de se supor, num momento como este. [Procuramos] empresários, ministros, autoridades. A gente está trabalhando em várias frentes", revelou.
A coincidência das ações do governo com o planejamento estratégico da Azul, que vem sendo maldosamente chamada de "Viagra" pelas concorrentes por causa da cor, tem provocado desconfiança nas empresas de aviação. Por ora, ninguém fala oficialmente, mas executivos comentam a possibilidade de reagir com ações judiciais se ficar evidente que a nova empresa foi beneficiada de alguma maneira.


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