São Paulo, terça, 4 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO TENSO
Ceticismo em relação ao governo do Japão desvaloriza iene; Wall Street e Bovespa registram impacto
Iene volta a derrubar Bolsas no mundo

MARCIO AITH
de Tóquio

Começou novamente. Uma desilusão generalizada com a capacidade do novo governo japonês de tirar o país de sua crise econômica provocou ontem uma forte desvalorização do iene, derrubando mais uma vez os mercados no mundo todo.
No final da tarde o valor da moeda caiu para 145,6 ienes por dólar, o mais baixo desde 17 de junho passado, quando uma intervenção conjunta dos Estados Unidos e do Japão brecaram um processo de desvalorização que parecia irreversível.
Naquele dia o valor do iene havia atingido 146,7, o mais baixo nos últimos oito anos.
A intervenção de junho deu certa tranquilidade à região, mas uma nova turbulência pode estar se aproximando.
"Acho que a desvalorização recomeçou e o iene vai atingir seu valor mais baixo no ano até o final de agosto", afirmou Tetsuhisa Hayashi, do Banco Tokyo-Mitsubishi.
O mercado de ações sentiu imediatamente os efeitos da queda do iene. A Bolsa de Hong Kong caiu 4,6%. A de Seul, 2,4% e a de Bancoc, 2%. O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio desvalorizou-se 1,3%.
Em Nova York, a Bolsa caiu 1,09%. Em São Paulo, a Bovespa fechou em queda de 2,74%.
O valor do iene já vinha caindo desde quarta-feira passada mas a tendência começou a ficar mais evidente na sexta, depois de declarações desastrosas do novo ministro de Finanças japonês, Kiichi Miyazawa.
Segundo o ministro -um político experiente e polêmico-, os Estados Unidos e o Japão não deveriam intervir no câmbio e na Bolsa, deixando-os flutuar conforme a vontade do mercado.
Ainda na sexta-feira Miyazawa tentou consertar o problema que havia criado, dizendo que era favorável a intervenções quando elas fossem necessárias. Mas o esforço revelou-se inútil.
O impacto do iene sobre os mercados da região resulta da importância do Japão no comércio asiático -cerca de 70% das operações comerciais feitas na região passam pelo país. Com um iene desvalorizado, os produtos japoneses ficam baratos e mais atraentes que os de seus vizinhos.
Os países mais afetados são a Coréia do Sul, cujos principais produtos (semicondutores, automóveis e aço) competem com os do Japão, e a China, cuja moeda não sofreu desvalorização durante a crise asiática e, por essa razão, sofre enormes pressões.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.