São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF O BC e as exportações
A recente crise de financiamento às exportações demonstrou, mais uma vez, a dificuldade do Banco Central e do
Ministério da Fazenda em superar os obstáculos do dia-a-dia.
O ACC (Adiantamento de
Contrato de Câmbio) é uma
operação de curto prazo, de risco
baixíssimo, já que é liquidada
mediante o pagamento pelo
comprador. Em outros momentos de escassez de linhas externas, o então ministro do Planejamento Antonio Delfim Netto
criou o "ACC branco" -linha
de crédito em cruzeiros. Mesmo
o uso de dólares das reservas
cambiais pouco impacto traria
para o nível das reservas, já que
são recursos auto-renováveis. No
entanto houve demora para buscar saída para a escassez de divisas e, quando colocados no mercado, os dólares não irrigaram o
comércio exterior: serviram para
que grandes bancos operassem
com grandes clientes, muitos deles recorrendo aos dólares apenas para obter ganhos financeiros.
Especialista da área, já tendo
trabalhado na Cacex (Carteira
de Comércio Exterior do Banco
do Brasil), em empresas exportadoras e em entidades de classe, o
consultor André Araújo aponta
os seguintes erros do Banco Central:
1) habilitar somente seus 25
"dealers" para participar dos leilões. Os "dealers" são bancos que
participam dos leilões de títulos e
câmbio do BC. Só que, necessariamente, nada tem a ver com
crédito à exportação. Existem
170 bancos no país, grande parte
deles em contato com pequenos e
médios exportadores, e que não
são "dealers" do BC.
2) o BC deu cinco dias para o
banco arrematador da linha
aplicar os dólares. É prazo impossível. O exportador só vai fechar o negócio depois que tiver
certeza do crédito. Tendo a certeza, até fechar as exportações e
receber a carta de crédito (documento-base para o ACC), o prazo mínimo é de 30 dias. É o exportador quem define o prazo,
não o banco, que tem de se subordinar aos prazos da exportação. Indagam esses especialistas:
como um banco pode aplicar, em cinco dias, US$ 100 milhões entre dezenas de exportadores que ainda não fecharam as vendas porque não sabiam se existiria crédito disponível?
3) em outros tempos, Delfim
estipulava um limite de crédito
por exportador (os chamados
cartões do Proex) para que cada
um deles, a partir da certeza de
crédito, fechasse as vendas. Nos
anos 70, muitas empresas médias só exportavam por causa
desse cartão da Cacex. Essas ferramentas permitiram os superávits fenomenais dos
anos 80, que chegaram a US$ 19 bilhões em 1988, diz ele. Agora todo mundo se espanta com um crescimento próximo de zero, mas ninguém liga um fato a outro. Com essa mentalidade, longe do foco da exportação, só lidando com uma dúzia de bancos da casa, não se chega a lugar nenhum, diz ele. |
|