|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
União quer ter mais de 50% da Petrobras
Apesar de ter maioria dos papéis com direito a voto, governo tem 32% das ações totais, o que pulveriza ganhos no pré-sal
Ministro Lobão afirma que governo pode até comprar diretamente nas Bolsas
de São Paulo ou Nova York as ações da empresa
VALDO CRUZ
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De olho nos dividendos econômicos e políticos, o governo
Lula quer ter a maioria das
ações da Petrobras. Hoje, apesar de deter o controle da empresa, a parcela da União no capital total é de 32%. Com a capitalização da estatal, o governo
avalia que aumentará sua fatia.
O objetivo é ter mais de 50%.
A expectativa é que os acionistas minoritários não consigam ou não queiram aportar
recursos para manter sua participação nos mesmos níveis que
o atual. Assim, cresceria o pedaço da empresa nas mãos do
governo federal.
Segundo o ministro Edison
Lobão (Minas e Energia), o aumento de participação no capital social é "um desejo e uma
meta" do governo. Isso, segundo Lobão, pelo "simbolismo"
da empresa e para que o Tesouro tenha direito a uma parcela
maior dos lucros da estatal na
exploração do pré-sal.
Apesar do desejo, o governo
não quer passar a ideia de que
esteja boicotando os acionistas
minoritários. Lobão diz que o
principal objetivo da capitalização é dar suporte financeiro à
estatal para explorar as novas
reservas, mas reconhece que
terá o efeito de aumentar o capital da União na empresa.
"O governo não está desestimulando a participação dos minoritários no processo de capitalização. Eles têm direito de
subscrever. Mas [o governo]
também não tem razões para
estimular neste momento. O
governo deseja aumentar sua
participação", afirmou.
Ainda segundo ele, o governo
poderá comprar diretamente
em Bolsa (no Brasil e nos EUA)
as ações que precisa para ser
majoritário. "É uma meta e um
desejo do governo fazer isso,
comprar diretamente na Bolsa
é uma possibilidade, a capitalização é outra. Isso vai acontecer, porque fatalmente haverá
uma parcela [dos minoritários]
que, ainda que seja pequena,
não subscreverá [o aumento de
capital], como ocorre todas as
vezes", disse.
"Orgulhamo-nos dela [Petrobras], e é conveniente que a
União continue tendo-a como
seu ícone. E, já que perdemos
tanto das ações preferenciais, o
razoável é que o governo possa
ampliar o seu estoque de ações
ordinárias, com direito a voto, e
preferenciais, com direito a
rendimentos", afirmou.
Nas reuniões reservadas sobre o marco regulatório do pré-sal, Lula sempre classificou de
"erro" a decisão do governo
FHC de vender cerca de 30%
das ações da empresa, que fez a
União perder sua posição majoritária no capital total e pulverizar parte dos papéis no
mercado externo. Apesar de
não ter a maioria das ações, o
que não lhe garante ter acesso à
maior parte dos lucros, o Tesouro é majoritário no capital
votante -tem 55,7% das ações
ordinárias, o que lhe dá o poder
de administrar a estatal.
Lobão diz que o "governo
passado sentiu necessidade de
vender ações da Petrobras devido a dificuldades econômicas". Agora, porém, o governo
Lula avalia que, numa situação
econômica diferente, "cabe à
União retomar a posição que
teve no passado".
Sobre o desejo de aumentar o
capital da União na estatal, o
ministro afirmou que, se dependesse do presidente Lula,
dele e da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), "iríamos além
dos 50% das ações totais".
Lobão revelou também que o
governo quer usar os campos
da União no pré-sal, vizinhos
aos já arrematados pela Petrobras, para fazer o cálculo de 5
bilhões de barris a serem usados na operação de capitalização. Caso esses campos se mostrem insuficientes, depois de
realizado o processo de quantificação dessas reservas, o ministro informou que o governo
vai escolher blocos em outros
locais para repassar à Petrobras. "Mas quem vai escolher
onde somos nós, governo."
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Luiz Carlos Mendonça de Barros: Pré-sal: além da espuma eleitoral Índice
|