São Paulo, sexta-feira, 04 de setembro de 2009

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União quer ter mais de 50% da Petrobras

Apesar de ter maioria dos papéis com direito a voto, governo tem 32% das ações totais, o que pulveriza ganhos no pré-sal

Ministro Lobão afirma que governo pode até comprar diretamente nas Bolsas de São Paulo ou Nova York as ações da empresa


VALDO CRUZ
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

De olho nos dividendos econômicos e políticos, o governo Lula quer ter a maioria das ações da Petrobras. Hoje, apesar de deter o controle da empresa, a parcela da União no capital total é de 32%. Com a capitalização da estatal, o governo avalia que aumentará sua fatia. O objetivo é ter mais de 50%.
A expectativa é que os acionistas minoritários não consigam ou não queiram aportar recursos para manter sua participação nos mesmos níveis que o atual. Assim, cresceria o pedaço da empresa nas mãos do governo federal.
Segundo o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), o aumento de participação no capital social é "um desejo e uma meta" do governo. Isso, segundo Lobão, pelo "simbolismo" da empresa e para que o Tesouro tenha direito a uma parcela maior dos lucros da estatal na exploração do pré-sal.
Apesar do desejo, o governo não quer passar a ideia de que esteja boicotando os acionistas minoritários. Lobão diz que o principal objetivo da capitalização é dar suporte financeiro à estatal para explorar as novas reservas, mas reconhece que terá o efeito de aumentar o capital da União na empresa.
"O governo não está desestimulando a participação dos minoritários no processo de capitalização. Eles têm direito de subscrever. Mas [o governo] também não tem razões para estimular neste momento. O governo deseja aumentar sua participação", afirmou.
Ainda segundo ele, o governo poderá comprar diretamente em Bolsa (no Brasil e nos EUA) as ações que precisa para ser majoritário. "É uma meta e um desejo do governo fazer isso, comprar diretamente na Bolsa é uma possibilidade, a capitalização é outra. Isso vai acontecer, porque fatalmente haverá uma parcela [dos minoritários] que, ainda que seja pequena, não subscreverá [o aumento de capital], como ocorre todas as vezes", disse.
"Orgulhamo-nos dela [Petrobras], e é conveniente que a União continue tendo-a como seu ícone. E, já que perdemos tanto das ações preferenciais, o razoável é que o governo possa ampliar o seu estoque de ações ordinárias, com direito a voto, e preferenciais, com direito a rendimentos", afirmou.
Nas reuniões reservadas sobre o marco regulatório do pré-sal, Lula sempre classificou de "erro" a decisão do governo FHC de vender cerca de 30% das ações da empresa, que fez a União perder sua posição majoritária no capital total e pulverizar parte dos papéis no mercado externo. Apesar de não ter a maioria das ações, o que não lhe garante ter acesso à maior parte dos lucros, o Tesouro é majoritário no capital votante -tem 55,7% das ações ordinárias, o que lhe dá o poder de administrar a estatal.
Lobão diz que o "governo passado sentiu necessidade de vender ações da Petrobras devido a dificuldades econômicas". Agora, porém, o governo Lula avalia que, numa situação econômica diferente, "cabe à União retomar a posição que teve no passado".
Sobre o desejo de aumentar o capital da União na estatal, o ministro afirmou que, se dependesse do presidente Lula, dele e da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), "iríamos além dos 50% das ações totais".
Lobão revelou também que o governo quer usar os campos da União no pré-sal, vizinhos aos já arrematados pela Petrobras, para fazer o cálculo de 5 bilhões de barris a serem usados na operação de capitalização. Caso esses campos se mostrem insuficientes, depois de realizado o processo de quantificação dessas reservas, o ministro informou que o governo vai escolher blocos em outros locais para repassar à Petrobras. "Mas quem vai escolher onde somos nós, governo."


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