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Analistas criticam apetite do governo pela Petrobras
Para especialistas, maior poder da União na estatal prejudica os minoritários
Além de reduzir os ganhos dos pequenos acionistas, mudança poderia significar crescimento do viés político nas decisões de gestão
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma eventual retomada do
controle do capital da Petrobras pelo governo, como a administração Luiz Inácio Lula
da Silva estuda fazer, é malvista
no mercado financeiro por causa das perdas que acarretaria
para os acionistas minoritários
em diversas frentes, de acordo
com especialistas.
"Está claro que a empresa vai
precisar ser capitalizada, mas
os investidores não estão gostando da maneira como o debate a respeito disso tem sido feito", diz Ricardo Fontes, professor do Insper. Entre segunda-feira -quando foi lançado o
marco regulatório para a exploração da camada pré-sal- e ontem, as ações da companhia sofreram grandes oscilações.
A melhor maneira de a Petrobras arrecadar o dinheiro de
que carece para seus novos projetos é fazer uma emissão de
ações, avalia o governo. Pela lei,
tais papéis devem ser oferecidos no mercado a todos os interessados; no entanto, não se sabe se os investidores privados,
grandes e pequenos, teriam
condições de comprar um volume suficiente para manter a
sua fatia na empresa.
Dessa forma, a administração federal -que já detém a
maior parte das ações ON (com
direito a voto) da companhia-
poderia abocanhar uma parcela adicional das ações e conquistar o controle do capital.
Os dividendos são distribuídos aos acionistas proporcionalmente à participação de cada um. Se a sua fração fica menor em relação ao todo, os minoritários veriam os seus ganhos caírem. Essa é uma das
consequências negativas da
operação para eles.
Outro efeito ruim é a sinalização de que o governo quer
mandar ainda mais na empresa. Atualmente, como majoritário, ele já escolhe o presidente e toma as principais decisões
estratégicas, o que sempre pairou como uma nuvem negra sobre os papéis da empresa, porque as determinações às vezes
têm caráter político, ignorando
critérios técnicos e o interesse
dos demais investidores na
companhia.
Com peso maior na gestão,
embora seja obrigado a continuar seguindo as normas da
CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), o governo fica
mais à vontade para impor a
sua visão de como o negócio deve ser levado.
"De qualquer forma, diversos
aspectos sobre o pré-sal ainda
não estão claros. Qual é a capacidade de produção efetiva?
Quanto vai custar para retirar?
O óleo é de boa ou de má qualidade", questiona Álvaro Padilha, operador da corretora Icap.
As indefinições acabam contribuindo para derrubar as ações
neste primeiro momento.
"É necessário esperarmos
que a proposta final seja colocada a fim de avaliarmos com
mais precisão os seus resultados", frisa Fontes.
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