São Paulo, sexta-feira, 04 de setembro de 2009

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Analistas criticam apetite do governo pela Petrobras

Para especialistas, maior poder da União na estatal prejudica os minoritários

Além de reduzir os ganhos dos pequenos acionistas, mudança poderia significar crescimento do viés político nas decisões de gestão


DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma eventual retomada do controle do capital da Petrobras pelo governo, como a administração Luiz Inácio Lula da Silva estuda fazer, é malvista no mercado financeiro por causa das perdas que acarretaria para os acionistas minoritários em diversas frentes, de acordo com especialistas.
"Está claro que a empresa vai precisar ser capitalizada, mas os investidores não estão gostando da maneira como o debate a respeito disso tem sido feito", diz Ricardo Fontes, professor do Insper. Entre segunda-feira -quando foi lançado o marco regulatório para a exploração da camada pré-sal- e ontem, as ações da companhia sofreram grandes oscilações.
A melhor maneira de a Petrobras arrecadar o dinheiro de que carece para seus novos projetos é fazer uma emissão de ações, avalia o governo. Pela lei, tais papéis devem ser oferecidos no mercado a todos os interessados; no entanto, não se sabe se os investidores privados, grandes e pequenos, teriam condições de comprar um volume suficiente para manter a sua fatia na empresa.
Dessa forma, a administração federal -que já detém a maior parte das ações ON (com direito a voto) da companhia- poderia abocanhar uma parcela adicional das ações e conquistar o controle do capital.
Os dividendos são distribuídos aos acionistas proporcionalmente à participação de cada um. Se a sua fração fica menor em relação ao todo, os minoritários veriam os seus ganhos caírem. Essa é uma das consequências negativas da operação para eles.
Outro efeito ruim é a sinalização de que o governo quer mandar ainda mais na empresa. Atualmente, como majoritário, ele já escolhe o presidente e toma as principais decisões estratégicas, o que sempre pairou como uma nuvem negra sobre os papéis da empresa, porque as determinações às vezes têm caráter político, ignorando critérios técnicos e o interesse dos demais investidores na companhia.
Com peso maior na gestão, embora seja obrigado a continuar seguindo as normas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o governo fica mais à vontade para impor a sua visão de como o negócio deve ser levado.
"De qualquer forma, diversos aspectos sobre o pré-sal ainda não estão claros. Qual é a capacidade de produção efetiva? Quanto vai custar para retirar? O óleo é de boa ou de má qualidade", questiona Álvaro Padilha, operador da corretora Icap. As indefinições acabam contribuindo para derrubar as ações neste primeiro momento.
"É necessário esperarmos que a proposta final seja colocada a fim de avaliarmos com mais precisão os seus resultados", frisa Fontes.


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