São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2005

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CÂMBIO

Primeira atuação no mercado em seis meses não consegue valorizar divisa americana; Furlan dá razão a exportadores

BC compra dólares, mas moeda não sobe

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela primeira vez em seis meses, o Banco Central comprou dólares no mercado. A atuação do BC, porém, não conseguiu reverter -pelo menos ontem- a tendência de queda da cotação da moeda dos Estados Unidos.
O leilão de compra de dólares foi anunciado pelo BC no final da manhã, quando a moeda era negociada a menos de R$ 2,23. Logo depois, a cotação chegou perto de R$ 2,25, mas, em seguida, recuou e fechou praticamente estável.
Desde 2004, o BC vinha comprando dólares regularmente no mercado, com o objetivo declarado de reforçar as reservas em moeda estrangeira. Desde março, porém, nenhuma aquisição havia sido feita, o que gerou fortes críticas, dentro e fora do governo. Segundo essas reclamações, o BC deveria estar atuando de forma mais agressiva para evitar uma grande queda do dólar, o que pode prejudicar as exportações brasileiras ao encarecer os produtos.
Na manhã de ontem, em evento na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou o assunto e cobrou coerência dos empresários. "Vocês cobraram, durante dez anos, que o câmbio fosse flutuante. Agora, querem que eu determine o valor da moeda", afirmou.
Mas mesmo dentro do governo há quem critique a política cambial. Um dos principais críticos é o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. "Muitos falam que a cotação do câmbio não é muito estimulante para as exportações, e eles têm razão. O real é a moeda mais valorizada hoje, mas certamente a equipe econômica está olhando para isso", disse ontem em São Paulo.
De janeiro a março, o BC comprou US$ 10,2 bilhões no mercado. De lá para cá, nenhuma aquisição adicional foi feita. Em agosto, um leilão chegou a ser anunciado, sem sucesso: o BC se dispunha a pagar, no máximo, R$ 2,298 por dólar, cotação que não foi aceita pelos investidores. Ontem, a taxa máxima foi de R$ 2,231.
O volume de dólares comprados ontem não foi divulgado. A operação feita pelo BC ainda não chegou a afetar a tendência da cotação do dólar, mas esse quadro pode se alterar caso novos leilões sejam realizados nos próximos dias -no início do ano, as compras pelo BC eram quase diárias.
À ação do BC soma-se a do Tesouro Nacional, que, desde 2003, compra dólares para pagar parte das parcelas de sua dívida externa. Entre julho e setembro, US$ 4 bilhões foram adquiridos com esse objetivo. Mesmo assim, o real continuou se valorizando.
Nos últimos meses, a queda do dólar tem sido favorecida por um forte ingresso de capital externo. Entre janeiro e agosto, segundo o BC, a entrada líquida de recursos no país ficou em US$ 10,789 bilhões, valor mais elevado registrado nos últimos dez anos. Esse fluxo foi puxado pelos exportadores, que, nos primeiros oito meses de 2005, trouxeram US$ 78,531 bilhões ao mercado de câmbio.
Há também uma crescente especulação com o real, que puxa a cotação da moeda para cima.
O BC sempre relutou em intensificar sua atuação no câmbio, já que a queda do dólar favorece a estabilidade da inflação -tida pela instituição como sua única meta. Na semana passada, o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, já havia reforçado essa posição ao afirmar que compras de dólares só seriam efetuadas caso as operações não interferissem na cotação da moeda.
Bevilaqua também rebateu, na ocasião, a idéia de que devesse existir um piso para o dólar para evitar prejuízos às exportações. "Essa avaliação, igualzinha, era feita em maio de 2003, quando a taxa de câmbio caiu [do patamar] de R$ 3."


Colaborou a Reportagem Local

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