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CÂMBIO
Primeira atuação no mercado em seis meses não consegue valorizar divisa americana; Furlan dá razão a exportadores
BC compra dólares, mas moeda não sobe
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela primeira vez em seis meses, o Banco Central comprou dólares no mercado. A atuação do
BC, porém, não conseguiu reverter -pelo menos ontem- a tendência de queda da cotação da
moeda dos Estados Unidos.
O leilão de compra de dólares
foi anunciado pelo BC no final da
manhã, quando a moeda era negociada a menos de R$ 2,23. Logo
depois, a cotação chegou perto de
R$ 2,25, mas, em seguida, recuou
e fechou praticamente estável.
Desde 2004, o BC vinha comprando dólares regularmente no
mercado, com o objetivo declarado de reforçar as reservas em
moeda estrangeira. Desde março,
porém, nenhuma aquisição havia
sido feita, o que gerou fortes críticas, dentro e fora do governo. Segundo essas reclamações, o BC
deveria estar atuando de forma
mais agressiva para evitar uma
grande queda do dólar, o que pode prejudicar as exportações brasileiras ao encarecer os produtos.
Na manhã de ontem, em evento
na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou o assunto e cobrou
coerência dos empresários. "Vocês cobraram, durante dez anos,
que o câmbio fosse flutuante.
Agora, querem que eu determine
o valor da moeda", afirmou.
Mas mesmo dentro do governo
há quem critique a política cambial. Um dos principais críticos é
o ministro do Desenvolvimento,
Luiz Fernando Furlan. "Muitos
falam que a cotação do câmbio
não é muito estimulante para as
exportações, e eles têm razão. O
real é a moeda mais valorizada
hoje, mas certamente a equipe
econômica está olhando para isso", disse ontem em São Paulo.
De janeiro a março, o BC comprou US$ 10,2 bilhões no mercado. De lá para cá, nenhuma aquisição adicional foi feita. Em agosto, um leilão chegou a ser anunciado, sem sucesso: o BC se dispunha a pagar, no máximo, R$ 2,298
por dólar, cotação que não foi
aceita pelos investidores. Ontem,
a taxa máxima foi de R$ 2,231.
O volume de dólares comprados ontem não foi divulgado. A
operação feita pelo BC ainda não
chegou a afetar a tendência da cotação do dólar, mas esse quadro
pode se alterar caso novos leilões
sejam realizados nos próximos
dias -no início do ano, as compras pelo BC eram quase diárias.
À ação do BC soma-se a do Tesouro Nacional, que, desde 2003,
compra dólares para pagar parte
das parcelas de sua dívida externa. Entre julho e setembro, US$ 4
bilhões foram adquiridos com esse objetivo. Mesmo assim, o real
continuou se valorizando.
Nos últimos meses, a queda do
dólar tem sido favorecida por um
forte ingresso de capital externo.
Entre janeiro e agosto, segundo o
BC, a entrada líquida de recursos
no país ficou em US$ 10,789 bilhões, valor mais elevado registrado nos últimos dez anos. Esse fluxo foi puxado pelos exportadores,
que, nos primeiros oito meses de
2005, trouxeram US$ 78,531 bilhões ao mercado de câmbio.
Há também uma crescente especulação com o real, que puxa a
cotação da moeda para cima.
O BC sempre relutou em intensificar sua atuação no câmbio, já
que a queda do dólar favorece a
estabilidade da inflação -tida
pela instituição como sua única
meta. Na semana passada, o diretor de Política Econômica do BC,
Afonso Bevilaqua, já havia reforçado essa posição ao afirmar que
compras de dólares só seriam efetuadas caso as operações não interferissem na cotação da moeda.
Bevilaqua também rebateu, na
ocasião, a idéia de que devesse
existir um piso para o dólar para
evitar prejuízos às exportações.
"Essa avaliação, igualzinha, era
feita em maio de 2003, quando a
taxa de câmbio caiu [do patamar]
de R$ 3."
Colaborou a Reportagem Local
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