São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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França entra em recessão e reúne líderes

Economia é a 1ª das grandes da Europa a registrar crescimento negativo por 2 trimestres seguidos; o mesmo ocorreu na Irlanda

Paris diz que vai socorrer bancos do país e recebe hoje líderes da União Européia para debater medidas contra a crise financeira

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A França é a primeira das grandes economias européias a entrar em recessão. A confirmação foi feita ontem pelo órgão de estatísticas do governo francês, que registrou crescimento negativo da economia pelo segundo trimestre consecutivo.
Depois da Irlanda, na semana passada, a França é o segundo país da zona do euro a entrar em recessão.
A má notícia foi anunciada em meio à expectativa sobre a reunião de emergência dos principais líderes da União Européia que será realizada hoje, em Paris, para discutir um plano contra a crise financeira mundial.
O premiê francês, François Fillon, deu uma idéia do clima sombrio que antecede o encontro: "O mundo está à beira do abismo", disse ontem.
Diante da persistente desaceleração nas economias européias neste ano, analistas consideravam apenas uma questão de tempo que outros países seguissem o caminho da Irlanda.
Mas apontavam Espanha e Reino Unido, pela magnitude dos estragos do estouro de suas bolhas imobiliárias, como os principais candidatos.
Ontem, no entanto, o Instituto Nacional de Estatísticas da França informou que a economia do país, que já havia sofrido retração de 0,3% no segundo trimestre, encolherá 0,1% no terceiro e no quarto.
"Houve dois trimestres de crescimento negativo, isso se chama recessão técnica", disse Eric Woerth, o ministro do Orçamento francês.
Ainda assim, Woerth previu que a economia francesa terminará o ano em crescimento, de 0,9%. "Não é muito, podemos mesmo dizer que é muito pouco, mas não deixa de ser um crescimento", disse ele.
A perspectiva é pouco animadora. Mesmo antes da confirmação técnica, os franceses já sentiam o impacto da recessão em seu dia-a-dia. Em setembro, o desemprego subiu 2,2%, a maior alta mensal dos últimos 15 anos. O governo já avisou que o pior ainda está por vir, e que o número de desempregados continuará crescendo pelos próximos 12 meses.
Até agora, a Irlanda era o único dos 15 países da zona do euro a entrar oficialmente em recessão. Entre os demais membros da UE, entretanto, o clube da retração econômica já tinha três membros: a Dinamarca entrou em recessão no início do ano, mas sua economia logo voltou a crescer. Letônia e Estônia ainda não se recuperaram do encolhimento registrado nos últimos dois trimestres.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciou planos de usar dinheiro público para socorrer bancos, empresas e desempregados, deixando de lado o apelo que havia feito aos parceiros da UE para manter o déficit orçamentário abaixo de 3% do PIB (Produto Interno Bruto). "Os déficits não são a prioridade das prioridades", disse Henri Guaino, assessor do presidente. "A prioridade é salvar o sistema bancário."
Na reunião de hoje, em Paris, Sarkozy receberá os líderes de Alemanha, Itália e Reino Unido, além de autoridades monetárias da UE, para discutir uma estratégia de socorro a bancos em dificuldades e formas de regulamentação conjunta do sistema financeiro.
A França chegou a sugerir um fundo de emergência para ajudar os bancos, em que cada um dos 27 países do bloco entraria com 3% do PIB, mas a idéia foi descartada após sofrer duras críticas de membros da UE, a começar pela Alemanha, a maior economia da Europa.
Segundo o premiê francês, Sarkozy, que convocou a reunião, irá propor idéias para que "a Europa torne seus sistemas bancários seguros, descongele o crédito e coordene sua estratégia monetária e econômica".
Diante da relutância dos países europeus em criar um mecanismo conjunto de socorro, a tendência é que os possíveis resgates continuem sendo uma atribuição de cada governo do bloco, mas de forma coordenada. "O Estado irá intervir toda vez que for necessário para garantir o sistema bancário", disse Fillon.

Fortis
Numa nova medida de nacionalização, na seqüência de intervenções dos últimos dias, o governo holandês comprou ontem as operações de banco comercial e seguros do Fortis por 16,8 milhões (US$ 23 milhões). No início da semana, para evitar o colapso, a instituição já havia recebido o socorro conjunto dos governos de Holanda, Bélgica e Luxemburgo, numa intervenção estimada em 11,2 bilhões (US$ 16,4 bilhões).
As principais Bolsas européias terminaram o dia em alta, antes da aprovação do pacote de auxílio ao mercado financeiro na Câmara dos Representantes norte-americana. Londres teve alta de 2,26%, Paris de 2,96%, Frankfurt de 2,41% e Madri de 3,78%.


Com agências internacionais


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