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Mercado imobiliário chinês se desacelera com vendas no menor ritmo desde 2004
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Imune até agora à crise que
deprime as economias de EUA,
Europa e Japão, a China enfrenta o início da desaceleração
de seu mercado imobiliário,
uma das principais fontes de
crescimento do país.
Os chineses estão comprando apartamentos no menor ritmo desde 2004. De janeiro a junho, as vendas de novos apartamentos caíram 14% em comparação com o mesmo período do
ano passado. O consumo de aço
se desacelerou e a compra de
terrenos por empreiteiros diminuiu 5,9% no primeiro semestre, segundo pesquisa da
consultoria Dragonomics.
A construção residencial responde por 7% do PIB e por 20%
de todos os investimentos no
país. Movimenta US$ 250 bilhões, o equivalente a quase toda a economia da Argentina.
Com a perspectiva de que
suas exportações se reduzam
por conta da recessão na Europa e nos EUA, a potência asiática vive sua primeira desaceleração na década.
Uma pesquisa do Banco do
Povo da China, o banco central,
feita com 28 mil pessoas (entre
as quais 5.000 executivos e
2.900 gerentes de bancos), revela que 40% acreditam que a
inflação vá aumentar, 24%
acreditam que sua renda irá
crescer e só 13,3% esperam
comprar um imóvel - os piores
números desde1999.
"O peso do mercado acionário é irrisório, mas o que provoca pessimismo entre investidores é a possibilidade de que os
preços dos imóveis desabem.
Boa parte das empresas e das
classes mais ricas investiram
em imóveis", diz o economista
Song Guoqing, professor da
Universidade de Pequim.
Preços menores e menos
compradores levam a menos
investimentos neste ano. Depois de crescer 11,9% no ano
passado, a economia deve crescer 9% neste ano e 8% em 2009,
também afetada pela desaceleração das exportações.
Embora ainda altos, o valor
do metro quadrado se ressente.
Depois de um aumento de
12,2% entre agosto de 2006 e
agosto de 2007, o aumento no
último ano foi de 6,2%.
"A desaceleração faz parte de
uma política governamental,
que quer evitar uma bolha imobiliária e o aumento excessivo
dos preços, o que gera instabilidade social na China", diz o
economista Ben Simpfendorfer, do Royal Bank of Scotland,
em Hong Kong. O governo aumentou impostos para quem
compra um segundo imóvel,
elevou o pagamento inicial para hipotecas e restringiu crédito às imobiliárias. Na tentativa
de segurar os preços, o governo
aumentou as restrições para
empresas e indivíduos estrangeiros comprarem imóveis.
O mercado se dirigiu à construção de alto padrão. Habitação popular no ano passado se
restringiu a 4,6% do setor (era
16,6% em 1999).
Há milhões de compradores
em potencial que têm pouco capital para os preços ainda altos
ou que estão esperando que o
valor do metro quadrado desabe de verdade. A Associação de
Construção Civil da China pediu ao governo, na quarta-feira
passada, relaxamento das restrições para recuperar o crescimento do setor, dizendo que a
desaceleração atinge várias outras áreas da economia.
Demanda na China é o que
não falta. O setor residencial
privado tem apenas dez anos de
idade. Até 1998, a habitação era
providenciada pelas empresas
estatais aos funcionários. Conjuntos habitacionais eram
construídos para as famílias
dos empregados, que não tinham a propriedade das mesmas. Na última década, o governo decidiu permitir e estimular
a compra de imóveis.
Em 2007, estima-se que 1,5
ponto percentual dos 11,9% de
crescimento do PIB se deva à
construção residencial. A necessidade da casa própria é ainda maior porque 20 milhões de
pessoas, em média, trocam o
campo pela cidade por ano no
país. E a China ainda tem apenas 45% de população urbana.
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