São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Mercado imobiliário chinês se desacelera com vendas no menor ritmo desde 2004

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Imune até agora à crise que deprime as economias de EUA, Europa e Japão, a China enfrenta o início da desaceleração de seu mercado imobiliário, uma das principais fontes de crescimento do país.
Os chineses estão comprando apartamentos no menor ritmo desde 2004. De janeiro a junho, as vendas de novos apartamentos caíram 14% em comparação com o mesmo período do ano passado. O consumo de aço se desacelerou e a compra de terrenos por empreiteiros diminuiu 5,9% no primeiro semestre, segundo pesquisa da consultoria Dragonomics.
A construção residencial responde por 7% do PIB e por 20% de todos os investimentos no país. Movimenta US$ 250 bilhões, o equivalente a quase toda a economia da Argentina.
Com a perspectiva de que suas exportações se reduzam por conta da recessão na Europa e nos EUA, a potência asiática vive sua primeira desaceleração na década.
Uma pesquisa do Banco do Povo da China, o banco central, feita com 28 mil pessoas (entre as quais 5.000 executivos e 2.900 gerentes de bancos), revela que 40% acreditam que a inflação vá aumentar, 24% acreditam que sua renda irá crescer e só 13,3% esperam comprar um imóvel - os piores números desde1999.
"O peso do mercado acionário é irrisório, mas o que provoca pessimismo entre investidores é a possibilidade de que os preços dos imóveis desabem. Boa parte das empresas e das classes mais ricas investiram em imóveis", diz o economista Song Guoqing, professor da Universidade de Pequim.
Preços menores e menos compradores levam a menos investimentos neste ano. Depois de crescer 11,9% no ano passado, a economia deve crescer 9% neste ano e 8% em 2009, também afetada pela desaceleração das exportações.
Embora ainda altos, o valor do metro quadrado se ressente. Depois de um aumento de 12,2% entre agosto de 2006 e agosto de 2007, o aumento no último ano foi de 6,2%.
"A desaceleração faz parte de uma política governamental, que quer evitar uma bolha imobiliária e o aumento excessivo dos preços, o que gera instabilidade social na China", diz o economista Ben Simpfendorfer, do Royal Bank of Scotland, em Hong Kong. O governo aumentou impostos para quem compra um segundo imóvel, elevou o pagamento inicial para hipotecas e restringiu crédito às imobiliárias. Na tentativa de segurar os preços, o governo aumentou as restrições para empresas e indivíduos estrangeiros comprarem imóveis.
O mercado se dirigiu à construção de alto padrão. Habitação popular no ano passado se restringiu a 4,6% do setor (era 16,6% em 1999).
Há milhões de compradores em potencial que têm pouco capital para os preços ainda altos ou que estão esperando que o valor do metro quadrado desabe de verdade. A Associação de Construção Civil da China pediu ao governo, na quarta-feira passada, relaxamento das restrições para recuperar o crescimento do setor, dizendo que a desaceleração atinge várias outras áreas da economia.
Demanda na China é o que não falta. O setor residencial privado tem apenas dez anos de idade. Até 1998, a habitação era providenciada pelas empresas estatais aos funcionários. Conjuntos habitacionais eram construídos para as famílias dos empregados, que não tinham a propriedade das mesmas. Na última década, o governo decidiu permitir e estimular a compra de imóveis.
Em 2007, estima-se que 1,5 ponto percentual dos 11,9% de crescimento do PIB se deva à construção residencial. A necessidade da casa própria é ainda maior porque 20 milhões de pessoas, em média, trocam o campo pela cidade por ano no país. E a China ainda tem apenas 45% de população urbana.


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