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Salário nos Correios explode com greve anual
Setor, que paralisou atividades todos os anos desde o início do governo Lula, acumula ganho real superior a 100% desde 2003
Sindicato dos funcionários contesta percentuais de ganho e diz que reajustes serviram para compensar
as perdas no governo FHC
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Desde o início do governo do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, em 2003, os funcionários
dos Correios entraram em greve todos os anos. De lá para cá,
são nove greves, 73 dias de paralisação e um ganho acumulado de 193,96% na remuneração. O resultado supera em
muito a inflação do período,
medida pelo IPCA, que, até
agosto deste ano, ficou em
46,03%. Isso significa que os
funcionários mais do que duplicaram os salários em termos
reais (descontada a inflação).
No segundo mandato do governo do tucano Fernando
Henrique Cardoso (de 1998 a
2002) ocorreram duas greves
(em 2000 e em 2002), com seis
dias de paralisação no total. O
resultado foi um aumento acumulado de 36,7%, ante uma inflação de 40,7%, com perda de
poder de compra para os empregados de 2,92%.
Essa perda, no entanto, já foi
amplamente compensada. Entre 1998 e agosto deste ano, a
inflação ficou em 106,5%, enquanto o ganho na remuneração ficou em 302%.
Neste ano, a greve foi decretada pouco mais de uma semana depois de o STF (Supremo
Tribunal Federal) decidir sobre
a manutenção do monopólio
dos Correios. A ação havia sido
movida pelas empresas que distribuem boletos bancários, cartões de crédito e outros tipos de
pequenas encomendas.
A decisão do Supremo acabou sendo uma espécie de
meio-termo. O tribunal entendeu que as cartas comuns e os
boletos bancários têm de ser
entregues pelos Correios. Já as
entregas das pequenas encomendas podem ser feitas pelas
empresas privadas. No entendimento das empresas, isso
deixa o mercado de entrega de
cartões magnéticos e talões de
cheque, entre outros produtos,
liberado para a concorrência.
Setor privado
As constantes greves dos
Correios são bem-vistas pelo
setor privado. "Como empresário, avalio que é muito bom para nós. Mas, como brasileiro,
digo que é ruim para o país",
afirmou Antônio Juliani, diretor do Setcesp (Sindicato das
Empresas de Transportes de
Cargas de São Paulo e Região)
e presidente da empresa Flash
Corrier.
Ao longo da mais recente greve dos funcionários dos Correios, que terminou na semana
passada, 341,6 mil encomendas
e 53,4 milhões de correspondências chegaram a se acumular nos depósitos da empresa.
Na avaliação do empresário,
apesar da decisão do STF, a legislação do setor precisa mudar. "Está na hora de o Legislativo rever toda essa matéria.
Não há mais sentido nesse modelo", afirmou Juliani.
Sindicato
A Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos
e Similares) contesta os percentuais de ganho apresentados pela empresa e aponta reajustes bem mais baixos. A diferença nos cálculos pode estar
na "referência salarial" (espécie de plano de cargos e salários
da empresa).
Dependendo da negociação,
o reajuste na folha é acompanhado pela subida de nível do
funcionário na "referência", o
que leva a um ganho salarial
maior que o percentual de reajuste. Ainda de acordo com a federação, não houve greve em
2004 e, em 2006, ela aconteceu
apenas em alguns Estados.
Para José Rivaldo da Silva,
secretário-geral da federação,
não está havendo exagero na
decretação de greves. "Não
acredito que as greves estejam
sendo banalizadas. É o instrumento que a gente tem, e muitas vezes elas acontecem por
conta de falta de habilidade da
empresa", afirmou.
Ainda de acordo com o dirigente, os ganhos conseguidos
pela categoria nos últimos anos
serviram para recuperar as perdas dos oito anos do governo
Fernando Henrique Cardoso.
"Apesar dos aumentos, os salários nos Correios são menores
do que os de muitas outras estatais", disse o secretário-geral.
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