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Maioria das fusões "vaza" no Brasil, diz estudo
Uso de informação privilegiada mexe com as ações antes do anúncio, reduz espaço para variação e afeta prêmio de controle
Para autor de estudo, maior transparência de empresa evita risco de vazamento de informação privilegiada e valoriza companhia na Bolsa
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A maioria dos negócios envolvendo fusão e aquisição
anunciados desde o início da
década no país apresenta indício de uso de informação privilegiada, segundo estudo do Insper (antigo Ibmec-SP).
O trabalho sugere que o vazamento, além de prejudicar os
participantes do mercado de
capitais como um todo, afeta os
acionistas das empresas envolvidas nesses escândalos possivelmente por meio da redução
nos prêmios (valor adicional ao
preço de mercado) pagos pelo
controle dessas companhias.
Isso porque o vazamento
tende a mexer com as ações antes do anúncio, acarretando em
menor espaço para variação
após a divulgação.
No estudo, o prêmio médio
pago pelo controle das empresas ficou entre 10,2% e 10,4%
após o anúncio. Trabalhos acadêmicos internacionais mostram que o prêmio nos EUA gira em torno de 20% para fusões
e 30% para aquisições.
Segundo Alexandre Braga de
Andrade, autor do estudo, alguns negócios podem ser inviabilizados pelo vazamento. "A
ação sobe muito antes e depois
o comprador tem de ir ao mercado [fazer oferta aos minoritários] e não consegue [pagá-los].
Tem também a questão da desconfiança. O investidor não
quer investir em uma ação que
pode ter vazamento", disse.
Esses indícios de movimentação atípica são vistos a partir
do 38º dia antes do anúncio,
quando a transação já tem um
preço e avançou a tal ponto que
não tem mais volta. Dificilmente uma operação dessa envolve
menos de 30 pessoas.
Os autores do trabalho analisaram o comportamento de 62
ações de empresas envolvidas
em fusões e aquisições com valores acima de R$ 100 milhões,
realizadas entre 2000 e 2008.
Foi analisada a variação dessas
ações entre 79 dias antes do
anúncio e até 10 dias após a divulgação. Na média da amostra,
verificou-se evidência de variação atípica das ações, que passaram a oscilar fora de seu histórico em relação ao Ibovespa.
"Não se pode afirmar que há
sempre vazamento, mas [a variação atípica] é uma evidência.
Não necessariamente essa variação está pegando a fusão; pode ter alguma outra notícia que
influencie. Mas podemos dizer
que é uma evidência e que mais
da metade dessas fusões tem
indício de atuação de "insider"
[alguém dentro da empresa]",
disse Andrea Minardi, orientadora do estudo do Insper.
Para o autor do estudo, as
empresas com maior transparência têm menos risco de vazamento. "A governança está
diminuindo o risco de vazamento. As ações são mais bem
precificadas pelo mercado. É o
oposto do que acontece com
empresas de baixa liquidez",
disse Andrade.
No estudo, quanto menor a
empresa comprada maior costuma ser o valor desse prêmio.
Uma das razões é que as ações
de empresas de menor porte
têm pouca liquidez, o que leva o
mercado a dar um desconto
maior nesses papéis. Por isso,
os prêmios são maiores.
Segundo Alexandre Pinheiro
dos Santos, procurador-chefe
na CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), para coibir o vazamento de informação privilegiada a autarquia tem procurado aperfeiçoar os mecanismos internos para detectar movimentações atípicas, além de
punir os culpados e ganhar agilidade para bloquear recursos
oriundos dessas operações.
"[Insider] é um ilícito que lesa a credibilidade do mercado e
de todos nós. "Insider trading",
assim como furto, homicídio e
diversos outros ilícitos, ocorre
em todo os cantos do mundo. É
um tema objeto de reflexão e
cooperação mundial", disse.
A maior dificuldade é reunir
provas para configurar o crime,
que costuma ser percebido por
meio de indícios. A CVM não
pode compartilhar informação
sigilosa obtida por outro regulador, como o Banco Central,
sem fazer um pedido à Justiça.
Desde 2006, a CVM tem
atuado com o Ministério Público, o que permitiu o bloqueio
dos ganhos que dois investidores teriam tido a partir do uso
de informação privilegiada sobre a venda do grupo Ipiranga à
Petrobras, por exemplo.
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