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Para ajudar o FMI, Bric quer antecipar
aumento de poder
Para contribuírem com US$ 80 bi, países querem passar de 10,5% para 16% em direito a voto
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
Os países do Bric (Brasil,
Rússia, Índia e China) condicionaram ampliar o caixa do
FMI a um aumento imediato
do poder de voto do grupo nas
decisões relativas a uma linha
de crédito de US$ 500 bilhões.
Se der certo, os quatro países
ganhariam já uma maior influência no FMI que poderia
ser concedida só em 2011.
Após o agravamento da crise
em 2008, o Fundo decidiu incorporar US$ 500 bilhões a
seus cofres para eventualmente socorrer países em dificuldade. O valor triplicaria o poder
de fogo do órgão, que tinha só
US$ 250 bilhões em caixa.
Para isso, vários de seus 186
países-membros terão de contribuir para uma linha de crédito chamada NAB (novos acordos para empréstimo, na sigla
em inglês).
O Bric está entrando com
US$ 80 bilhões do total (China
com US$ 50 bilhões e mais US$
10 bilhões cada um). O montante dos quatro países equivale a
16% dos US$ 500 bilhões.
Pelas regras atuais de governança do FMI, as decisões devem ter a anuência de 85% dos
votos (cada país tem uma participação diferente).
Se a exigência do Bric for
aceita, os quatro países passarão, em tese, a ter poder de veto
nas decisões sobre os US$ 500
bilhões, pois, sem a anuência
deles, os votos dos demais chegariam a 84%, no máximo.
Hoje, os membros do Bric
têm formalmente um poder de
voto somado (determinado por
suas cotas no Fundo) de 10,5%.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) disse ontem que a
decisão de condicionar o reforço do NAB foi tomada em conjunto entre o Bric, que quer
ainda uma revisão da linha de
crédito em janeiro de 2011.
A data coincide com o prazo
da reforma do sistema de cotas
do FMI. Os países do G20 concordaram há dez dias em ampliar em cinco pontos percentuais a participação dos emergentes no FMI e em três pontos
no Banco Mundial. Os emergentes querem sete e seis pontos, respectivamente.
Segundo Mantega, cinco e
três pontos são considerados
"pisos" pelo Bric. A proposta
condicionante e de certo modo
"ousada" do Bric para elevar já
seu poder será discutida amanhã durante reunião do Fundo
em Istambul, onde o órgão realiza encontro semestral.
Mantega deu a entender que
os EUA podem apoiar a condicionalidade, pois foi um dos
países que mais se esforçaram
para triplicar o caixa do Fundo.
A contribuição dos EUA para o
NAB teve de ser aprovada pelo
Congresso norte-americano.
Originalmente, o NAB foi
criado em 1998 como forma de
aumentar o poder de fogo do
Fundo sem precisar a cada reforço mudar todo o sistema de
cotas e votos. E também porque os EUA, por exemplo, podem estar dispostos a novo
aporte, mas a Tanzânia, não.
Assim o NAB é uma espécie
de "caixa em separado" do FMI
e, com a proposta de chegar a
US$ 500 bilhões, será a sua
principal fonte de recursos.
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