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LUÍS NASSIF
O Judiciário e a qualidade
Já se tornou vício cultural o
academicismo político brasileiro de reduzir todas as soluções
de problemas públicos exclusivamente a mudanças constitucionais, decretos e resoluções. A visão que se tem sobre os problemas
do Judiciário padece desse mesmo
vício. Parte deles decorre de problemas processuais que necessitam ser extirpados. Mas o ponto
central não depende nem de reforma nem de mudanças constitucionais: trata-se de gerenciamento, algo que depende apenas
de conhecimento e de vontade política dos presidentes de tribunais.
Como exemplo, há uma revolução em marcha no Tribunal Regional Federal da 3ª Região (que
engloba São Paulo e Mato Grosso). A mera racionalização de sistemas, padronização de processos
e implementação dos primeiros
passos do programa de qualidade
total têm permitido avanços substanciais de tempo e de eficiência.
"A Justiça é mal gerida, a administração é amadora e, na sua
formação, o advogado foge da administração e da matemática",
constata José Kallas, um mineiro
de Santa Rita do Sapucaí, presidente do TRF da 3ª Região.
Em seu período como juiz estadual, Kallas assumiu comarcas
desorganizadas, implementou
melhorias. Depois, quando era remanejado, as melhorias se diluíam e o sistema ficava pior do
que antes. Essa avaliação lhe deu
a convicção de que a melhoria
dos sistemas no Judiciário só seria
irreversível se se definissem padrões e procedimentos.
Pensou-se então em um processo de qualificação do tribunal pela ISO e a implementação de programas de qualidade, dentro dos
padrões da FDG (Fundação de
Desenvolvimento Gerencial).
O primeiro passo foi definir projetos pilotos, que servissem de vitrine para a ampliação do conceito. Completado o piloto, o programa de qualidade estendeu-se às
24 varas de toda a região.
Foi montado um escritório de
qualidade, tendo o próprio Kallas
como coordenador-geral e mais
quatro consultores, funcionários
do próprio tribunal. Foram treinados 4.000 funcionários em três
meses, com grupos de instrutores
do tribunal. Servidores de primeira instância passaram a dar curso
de 5 S (procedimentos de organização do ambiente de trabalho) e
qualidade total para corregedores.
No início dessas mudanças, havia 80 mil processos na distribuição, muitos com anos de espera,
criando o clima adequado à corrupção. O tribunal era sufocado
por dezenas de petições pedindo
prioridade para seus casos ou então advogados comprando funcionários para seu processo passar à frente (ou ficar para trás).
Quando chegava a petição, os
funcionários tinham que localizar o processo dentre 80 mil na
distribuição. Em algumas varas, o
desarquivamento consumia 50%
do tempo do pessoal administrativo.
Hoje, no Fórum Pedro Lessa,
em um minuto de consulta ao
computador é possível saber para
qual vara foi distribuído o processo. A consulta é efetuada pelo próprio arquivo, em que foram colocados funcionários com fé pública, com poder de certificar as certidões. Não existem mais de 5.000
a 6.000 processos a ser distribuídos -o equivalente ao movimento dos últimos 15 dias-, e Kallas
não recebe uma só petição. Antes,
as apelações levavam até dois
anos para chegar a Brasília. Hoje
em dia, o prazo não passa de quatro meses.
Todo o interior está informatizado, com um computador para
cada funcionário e juiz. E, pela
Internet, é possível acompanhar
os processos (www.trf3.gov.br),
bastando para tanto o número do
processo, que passou a ser único
(antes cada instância tinha um
número diferente).
O modelo está aí, para o tribunal que resolver seguir a receita.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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