São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Índios acusam Vale de preconceito

Comunidades do Pará divulgam nota com críticas à mineradora, que cortou verba após invasão de instalações

Para grupos indígenas, empresa "foi racista" em notas e declarações; Vale reafirma informações sobre o caso e cobra indenização

RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA

As comunidades indígenas xicrim do Cateté e Djudjekô, das cidades paraenses de Água Azul do Norte e Parauapebas, divulgaram ontem uma nota em que acusam a CVRD (Companhia Vale do Rio Doce) de racismo, preconceito, autoritarismo e violência contra os índios das aldeias.
"A Vale foi racista, preconceituosa, autoritária e violenta com o povo xicrim ao divulgar folhetos, difamar e caluniar os indígenas em notas e declarações na mídia, ao fechar o comércio do núcleo urbano de Carajás [onde há uma unidade da Vale] para sitiar os manifestantes sem água e comida, e ainda continua caluniando e difamando os indígenas em notas mentirosas e preconceituosas", afirma a nota.
No dia 31, a CVRD anunciou o corte da verba de R$ 9 milhões anuais às duas aldeias devido à invasão promovida, no dia 17, por cerca de 200 xicrins às instalações da empresa em Carajás (694 km de Belém).
Na nota, as comunidades dizem que a manifestação foi pacífica, ao contrário do que a Vale anunciou em notas, e que tinha como objetivo rediscutir os valores do repasse, como estava firmado em acordo e havia sido solicitado em ofício. A Vale anunciou, no entanto, que desconhece a cláusula que previa um novo encontro.
"A Vale não presta favor ou benevolência a ninguém nesta região. Ao contrário, todos os repasses financeiros que efetua provêm de obrigações contratuais e legais para mitigar os impactos socioambientais de suas atividades agressivas ao meio ambiente", diz a nota.
O repasse de R$ 9 milhões por ano era feito diretamente às duas associações indígenas que administram as duas aldeias. Dados da Funai e da CVRD dão conta de que a população das aldeias é de aproximadamente 900 índios. O cacique da aldeia Cateté, Bep-Kaminhoroti Xikrin, diz, porém, que a população é de 1.400.
O repasse era a única fonte de renda dos índios. "A partir do dia 10, quando caem os últimos valores do último repasse, a situação vai ficar crítica", disse o advogado da Associação Indígena Bep-Noi de Defesa do Povo Xikrin do Cateté, Jorge Luís Ribeiro. Ele afirmou que a Funai atua juridicamente para que a Vale retome o repasse.

Outro lado
Na ocasião do corte, a Vale declarou que "não negociaria com comunidades que utilizam meios ilegais para forçar a CVRD a aceitar as exigências".
Por causa dos dois dias de paralisação, a Vale deixou de embarcar 650 mil toneladas de minério, o que gerou prejuízo de cerca de 10 milhões de dólares.
A assessoria da CVRD afirmou que a empresa reafirma todas as informações divulgadas sobre o caso e que aguarda decisões judiciais de ação indenizatória contra os índios e do inquérito criminal para apuração de crimes contra o patrimônio, cárcere privado, invasão de estabelecimento industrial e formação de quadrilha. Os índios negam ter cometido esses crimes.


Texto Anterior: Profissão: Chelsea Clinton trabalha em fundo hedge
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.