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Índios acusam Vale de preconceito
Comunidades do Pará divulgam nota com críticas à mineradora, que cortou verba após invasão de instalações
Para grupos indígenas, empresa "foi racista" em notas e declarações; Vale reafirma informações sobre o caso e cobra indenização
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA
As comunidades indígenas
xicrim do Cateté e Djudjekô,
das cidades paraenses de Água
Azul do Norte e Parauapebas,
divulgaram ontem uma nota
em que acusam a CVRD (Companhia Vale do Rio Doce) de racismo, preconceito, autoritarismo e violência contra os índios das aldeias.
"A Vale foi racista, preconceituosa, autoritária e violenta
com o povo xicrim ao divulgar
folhetos, difamar e caluniar os
indígenas em notas e declarações na mídia, ao fechar o comércio do núcleo urbano de
Carajás [onde há uma unidade
da Vale] para sitiar os manifestantes sem água e comida, e
ainda continua caluniando e difamando os indígenas em notas
mentirosas e preconceituosas",
afirma a nota.
No dia 31, a CVRD anunciou
o corte da verba de R$ 9 milhões anuais às duas aldeias devido à invasão promovida, no
dia 17, por cerca de 200 xicrins
às instalações da empresa em
Carajás (694 km de Belém).
Na nota, as comunidades dizem que a manifestação foi pacífica, ao contrário do que a Vale anunciou em notas, e que tinha como objetivo rediscutir os
valores do repasse, como estava
firmado em acordo e havia sido
solicitado em ofício. A Vale
anunciou, no entanto, que desconhece a cláusula que previa
um novo encontro.
"A Vale não presta favor ou
benevolência a ninguém nesta
região. Ao contrário, todos os
repasses financeiros que efetua
provêm de obrigações contratuais e legais para mitigar os
impactos socioambientais de
suas atividades agressivas ao
meio ambiente", diz a nota.
O repasse de R$ 9 milhões
por ano era feito diretamente
às duas associações indígenas
que administram as duas aldeias. Dados da Funai e da
CVRD dão conta de que a população das aldeias é de aproximadamente 900 índios. O cacique da aldeia Cateté, Bep-Kaminhoroti Xikrin, diz, porém,
que a população é de 1.400.
O repasse era a única fonte de
renda dos índios. "A partir do
dia 10, quando caem os últimos
valores do último repasse, a situação vai ficar crítica", disse o
advogado da Associação Indígena Bep-Noi de Defesa do Povo Xikrin do Cateté, Jorge Luís
Ribeiro. Ele afirmou que a Funai atua juridicamente para
que a Vale retome o repasse.
Outro lado
Na ocasião do corte, a Vale
declarou que "não negociaria
com comunidades que utilizam
meios ilegais para forçar a
CVRD a aceitar as exigências".
Por causa dos dois dias de paralisação, a Vale deixou de embarcar 650 mil toneladas de minério, o que gerou prejuízo de
cerca de 10 milhões de dólares.
A assessoria da CVRD afirmou que a empresa reafirma
todas as informações divulgadas sobre o caso e que aguarda
decisões judiciais de ação indenizatória contra os índios e do
inquérito criminal para apuração de crimes contra o patrimônio, cárcere privado, invasão de estabelecimento industrial e formação de quadrilha.
Os índios negam ter cometido
esses crimes.
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