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MEGAFUSÃO / ENTREVISTA
Nem advogados sabiam, diz Moreira Salles
Presidente do Unibanco diz que negociou sozinho com Roberto Setubal e que compra do Real pelo Santander acelerou fusão
Executivo afirma que não
fechou negócio com outros
bancos interessados no
Unibanco por não concordar
com suas idéias
Joel Silva/Folha Imagem
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Os presidentes do Unibanco, Pedro Moreira Salles (à dir.), e do Itaú, Roberto Setubal, no anúncio da fusão entre os dois bancos no MAM
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Nos últimos 15 anos, o Unibanco tem sido alvo constante
de boatos de venda, nunca confirmados. Em dezembro de
2000, numa de suas raras entrevistas, o banqueiro Pedro
Moreira Salles, 49, principal
controlador e presidente do
Unibanco, deu entrevista à Folha negando a venda do banco.
Na época, os boatos eram de
uma possível ofensiva de um
grande banco espanhol.
De lá para cá, os boatos baixaram bastante de tom. A crise financeira global, no entanto,
deixou o banco exposto. Os
boatos voltaram a circular nas
últimas semanas, o que obrigou
o Unibanco a antecipar a divulgação do balanço com números
bastante confortáveis.
A crise pegou o Unibanco em
plena negociação de uma fusão
com o Itaú. O mercado entrou
em ebulição e uma nova ordem
financeira começa a se desenhar. Os bancos precisarão de
mais musculatura para enfrentar esses novos tempos.
"O mundo de hoje exige plataformas globais", disse ontem
à Folha Pedro Moreira Salles,
antes da entrevista que concedeu com Roberto Setubal, do
Itaú, para anunciar a fusão.
Nessa entrevista, concedida
por telefone, entre uma e outra
reunião com diretores do banco e clientes para explicar a
operação, Moreira Salles disse
que resistiu até hoje a todas as
propostas formuladas para a
compra do banco porque nenhuma delas se adequava ao
modelo que tinha na cabeça para o futuro do Unibanco.
Agora, a proposta coincidiu.
FOLHA - Como se deram as negociações para a fusão?
PEDRO MOREIRA SALLES - O processo começou em agosto do ano
passado, fruto da decisão do
Santander de comprar o Real.
Eu procurei o Roberto [Setubal] e conversei com ele sobre o
negócio e o novo desafio que se
colocava na nossa frente. Eu
achava que no Brasil também
precisava ser criada uma plataforma financeira global para fazer frente a um novo cenário.
FOLHA - As conversas envolveram
mais gente ou só vocês dois?
MOREIRA SALLES - As conversas
sempre foram só entre nós
dois. Foram umas 15 a 20 reuniões ao longo de 15 meses, até
chegarmos a um formato ideal
do que pretendíamos. Toda negociação transcorreu com
grande discrição. Nós nos encontramos recentemente durante a reunião anual do FMI.
FOLHA - Onde eram as reuniões?
MOREIRA SALLES - Sempre na casa de um companheiro meu no
Morumbi, que nunca participou de nenhuma das reuniões.
FOLHA - Mas esse seu companheiro não sabia do assunto?
MOREIRA SALLES - Ele não participava da reunião. Só nós dois
mesmo. Para você ter idéia, o
advogado da transação, o Gabriel Jorge Ferreira, que é do
Unibanco, só foi chamado para
desenhar a operação na quinta-feira passada. As pessoas que
trabalham diretamente comigo
no banco só foram comunicadas ontem [domingo] à noite,
quando os reuni na minha casa
num jantar para anunciar o negócio. Entendo que o Roberto
fez o mesmo do lado dele.
FOLHA - Quantas pessoas mais ou
menos foram reunidas na sua casa?
MOREIRA SALLES - Pouco menos
de 15.
FOLHA - E quem foi o advogado do
Itaú?
MOREIRA SALLES - A operação estava tão discutida e era tão harmônica, que foi coordenada pelo Gabriel Jorge Ferreira. Foi
ele que liderou o processo jurídico. O Roberto também já o
conhece há muito tempo.
FOLHA - Alguma dificuldade durante a negociação?
MOREIRA SALLES - O clima era de
entendimento e as dificuldades
foram vencidas a cada nova rodada. Nunca paramos a discussão. Cada um soube fazer as renúncias necessárias para fechar a operação. Todos os pontos foram muito bem discutidos, muito bem pensados, e por isso levou muito tempo.
O pai do Roberto, o dr. Olavo,
que acompanhou a discussão à
distância, foi quem fez o gesto
de me ceder a sua condição de
presidente do conselho, o que
revelava todo o seu entusiasmo
pela negociação em curso. Tenho certeza que meu pai (o ex-embaixador Walter Moreira
Salles) teria o mesmo entusiasmo. Os dois estão comemorando o negócio em algum lugar.
FOLHA - Foi uma fusão de fato ou
uma aquisição?
MOREIRA SALLES - Foi uma fusão
de fato. Os controladores do
Unibanco detêm 50% da holding de controle da nova instituição.
FOLHA - Nos últimos 15 anos, dizem que o sr. resistiu a várias propostas de fusão. O que o levou a
aceitar dessa vez?
MOREIRA SALLES - O que foi feito
agora é o que eu já queria fazer
há muito tempo. As idéias anteriores não eram as que eu
considerava mais adequadas
para o Unibanco. O formato
dessa operação foi o melhor para o banco. Estamos compartilhando o destino de um dos 20
maiores grupos financeiros do
mundo.
FOLHA - O espaço para bancos médios, do tamanho do Unibanco, ficou mais difícil?
MOREIRA SALLES - O Unibanco
não é exatamente um banco
médio. Na minha opinião, já
deixou de ser banco médio há
algum tempo, mas concordo
que os dias de hoje exigem plataformas maiores. O mundo de
hoje exige plataformas globais.
FOLHA - A crise financeira global
acelerou o negócio?
MOREIRA SALLES - Não, após tantos encontros, o projeto nasceu. Não tinha mais o que
avançar na discussão, independentemente da condição do
mercado. O negócio maturou.
O que aconteceu é que, agora,
os mercados pioraram, mas o
negócio iria sair de qualquer
jeito, mesmo se os mercados
estivessem melhores ou piores.
Foi uma questão de oportunidade.
FOLHA - O novo banco pretende
partir para a internacionalização?
MOREIRA SALLES - Mais à frente,
sem dúvida. Se a AmBev partiu
para a internacionalização, a
Votorantim, a Gerdau, a Odebrecht e a Vale também fizeram o mesmo, por que não poderemos ter um banco brasileiro fazendo a mesma coisa? Os
bancos no mundo inteiro são
cada vez mais globais e esse
nasce como sendo o 16º ou o
17º no mundo em termos de capitalização, e com mais de 15%
de índice de Basiléia, quando as
instituições financeiras no
mundo inteiro estão se esforçando para chegarem a 8% para poderem enfrentar essa crise. Oportunidades existem e
vamos ficar atentos. Esse novo
banco, em pouco tempo, poderá ser quatro ou cinco vezes
maior do que o Unibanco. O
negócio é uma demonstração
de oportunidade do mercado e
de solidez do nosso sistema.
FOLHA - Vocês estiveram com o
presidente Lula ontem [anteontem]. Qual foi a reação dele?
MOREIRA SALLES - Nós estivemos
com ele ontem [anteontem],
no final da tarde, na base aérea.
Ele ficou bastante entusiasmado com o negócio e, ao final, até
tiramos uma fotos juntos para
celebrarmos o acontecimento.
FOLHA - O Itaú sempre teve mais
interação com o Unibanco?
MOREIRA SALLES - Sempre tive
muito respeito profissional pelo Roberto Setubal.
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