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Agrofolha
Governo prepara uma nova injeção de recursos no campo
Área econômica estuda a prorrogação, por até dois anos, do pagamento de R$ 1,2 bi de dívidas vencidas em outubro
Na avaliação da Presidência da República, campo pode se converter em âncora verde, capaz de minimizar
o impacto da crise mundial
SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Eleito pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva como uma
âncora verde fundamental para
sustentar o crescimento da
economia nos dois últimos
anos de seu mandato e minimizar o impacto da crise mundial,
o setor do agronegócio terá
uma nova injeção de recursos
nos próximos dias.
Segundo informou à Folha o
ministro Reinhold Stephanes
(Agricultura), entre as medidas
em discussão estão a prorrogação, por até dois anos, de R$ 1,2
bilhão em dívidas de investimento renegociadas e que venceram em outubro e a liberação
de até R$ 5 bilhões para o financiamento da safra.
O valor exato não está fechado, afirma o ministro, porque
as fontes de recursos ainda não
foram definidas. Parte desse
dinheiro poderá vir de nova revisão nas regras dos compulsórios. O governo estuda também
a possibilidade de direcionar os
leilões de linhas de comércio
exterior do Banco Central para
as regiões mais prejudicadas
pela falta de dinheiro externo
para financiar o setor.
O foco das medidas, desta
vez, diz Stephanes, será a região Centro-Oeste, que não teve o problema de falta de financiamento completamente resolvido pelas medidas anunciadas recentemente para o setor.
A atenção especial ao agronegócio foi uma determinação
de Lula que, em conversas reservadas na última semana,
disse a auxiliares que conta
com "a agricultura para atravessar o deserto", numa referência aos reflexos que a crise
internacional terá sobre o crescimento brasileiro no futuro.
Lula orientou a equipe econômica a conversar com Stephanes, a fim de atender a reivindicações do setor que garantam uma boa safra em 2009
e 2010. E a conclusão dos técnicos da Agricultura que passaram as últimas duas semanas
viajando pelo interior do país é
que, sem um socorro para o
Centro-Oeste, o país corre o
risco de ter uma forte queda na
produção no ano que vem.
Isso porque, ao contrário do
que aconteceu no centro-sul do
Brasil -onde o ministro considera que as dificuldades estão
"razoavelmente administradas" com o direcionamento de
mais recursos da poupança do
Banco do Brasil- a região Centro-Oeste está descapitalizada
e não tem tradição de operar
com o BB como agente de financiamento.
A maior fonte de recursos
para a região, que responde por
25% da safra nacional, segundo
Stephanes, são as tradings. Essas empresas financiam o produtor comprando a produção
antecipadamente, mas, com a
crise, saíram de circulação.
"Abandonaram seus parceiros
que lhes renderem muito nos
bons momentos", critica.
Por isso, amanhã ele se reunirá com o ministro Guido
Mantega (Fazenda) para fechar
as medidas já detalhadas pela
área técnica dos dois ministérios. Depois de autorizar, na semana passada, que um percentual dos recursos da poupança
seja usado para capitalizar as
tradings, o governo, agora, socorrerá os produtores do Centro-Oeste com a prorrogação
de R$ 1,2 bilhão em dívidas renegociadas de investimentos
que venceram no mês passado.
"Cerca de 75% da inadimplência da dívida que tinha que
ser paga em outubro está entre
Goiás e Mato Grosso. O problema está aí", afirmou o ministro.
"Parece lógico postergar essa
dívida por um ou dois anos para não concentrar com outras
que estarão vencendo."
Há ainda um tema polêmico
em discussão. Trata-se da portaria do Ministério do Meio
Ambiente que incluiu grande
parte de Mato Grosso, do Tocantins e do Maranhão numa
zona de restrição de crédito.
Com isso, para conseguir financiamento, os agricultores
têm de se cadastrar e apresentar uma série de documentos
que inclui uma certidão de que
a terra não tem problema ambiental.
Crescimento
A aposta do governo na agricultura, segundo Stephanes,
vem da avaliação de que, além
de ser a principal atividade econômica em 4.000 dos 5.600
municípios do país, a agricultura é importante para o controle
da inflação, para a geração de
emprego e renda e para o superávit comercial do Brasil
"O governo tem uma visão
estratégica de que o Brasil pode
assumir um papel relevante de
fornecedor de alimento para o
mundo no médio prazo porque
o mundo continuará consumindo alimentos."
Segundo Stephanes considerando toda cadeia agrícola, desde a produção de insumos ao
maquinário usado e os produtos gerados, a agricultura responde por quase 32% do PIB.
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