São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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Agrofolha

Governo prepara uma nova injeção de recursos no campo

Área econômica estuda a prorrogação, por até dois anos, do pagamento de R$ 1,2 bi de dívidas vencidas em outubro

Na avaliação da Presidência da República, campo pode se converter em âncora verde, capaz de minimizar o impacto da crise mundial

SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Eleito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como uma âncora verde fundamental para sustentar o crescimento da economia nos dois últimos anos de seu mandato e minimizar o impacto da crise mundial, o setor do agronegócio terá uma nova injeção de recursos nos próximos dias.
Segundo informou à Folha o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura), entre as medidas em discussão estão a prorrogação, por até dois anos, de R$ 1,2 bilhão em dívidas de investimento renegociadas e que venceram em outubro e a liberação de até R$ 5 bilhões para o financiamento da safra.
O valor exato não está fechado, afirma o ministro, porque as fontes de recursos ainda não foram definidas. Parte desse dinheiro poderá vir de nova revisão nas regras dos compulsórios. O governo estuda também a possibilidade de direcionar os leilões de linhas de comércio exterior do Banco Central para as regiões mais prejudicadas pela falta de dinheiro externo para financiar o setor.
O foco das medidas, desta vez, diz Stephanes, será a região Centro-Oeste, que não teve o problema de falta de financiamento completamente resolvido pelas medidas anunciadas recentemente para o setor.
A atenção especial ao agronegócio foi uma determinação de Lula que, em conversas reservadas na última semana, disse a auxiliares que conta com "a agricultura para atravessar o deserto", numa referência aos reflexos que a crise internacional terá sobre o crescimento brasileiro no futuro.
Lula orientou a equipe econômica a conversar com Stephanes, a fim de atender a reivindicações do setor que garantam uma boa safra em 2009 e 2010. E a conclusão dos técnicos da Agricultura que passaram as últimas duas semanas viajando pelo interior do país é que, sem um socorro para o Centro-Oeste, o país corre o risco de ter uma forte queda na produção no ano que vem.
Isso porque, ao contrário do que aconteceu no centro-sul do Brasil -onde o ministro considera que as dificuldades estão "razoavelmente administradas" com o direcionamento de mais recursos da poupança do Banco do Brasil- a região Centro-Oeste está descapitalizada e não tem tradição de operar com o BB como agente de financiamento.
A maior fonte de recursos para a região, que responde por 25% da safra nacional, segundo Stephanes, são as tradings. Essas empresas financiam o produtor comprando a produção antecipadamente, mas, com a crise, saíram de circulação. "Abandonaram seus parceiros que lhes renderem muito nos bons momentos", critica.
Por isso, amanhã ele se reunirá com o ministro Guido Mantega (Fazenda) para fechar as medidas já detalhadas pela área técnica dos dois ministérios. Depois de autorizar, na semana passada, que um percentual dos recursos da poupança seja usado para capitalizar as tradings, o governo, agora, socorrerá os produtores do Centro-Oeste com a prorrogação de R$ 1,2 bilhão em dívidas renegociadas de investimentos que venceram no mês passado.
"Cerca de 75% da inadimplência da dívida que tinha que ser paga em outubro está entre Goiás e Mato Grosso. O problema está aí", afirmou o ministro. "Parece lógico postergar essa dívida por um ou dois anos para não concentrar com outras que estarão vencendo."
Há ainda um tema polêmico em discussão. Trata-se da portaria do Ministério do Meio Ambiente que incluiu grande parte de Mato Grosso, do Tocantins e do Maranhão numa zona de restrição de crédito.
Com isso, para conseguir financiamento, os agricultores têm de se cadastrar e apresentar uma série de documentos que inclui uma certidão de que a terra não tem problema ambiental.

Crescimento
A aposta do governo na agricultura, segundo Stephanes, vem da avaliação de que, além de ser a principal atividade econômica em 4.000 dos 5.600 municípios do país, a agricultura é importante para o controle da inflação, para a geração de emprego e renda e para o superávit comercial do Brasil
"O governo tem uma visão estratégica de que o Brasil pode assumir um papel relevante de fornecedor de alimento para o mundo no médio prazo porque o mundo continuará consumindo alimentos."
Segundo Stephanes considerando toda cadeia agrícola, desde a produção de insumos ao maquinário usado e os produtos gerados, a agricultura responde por quase 32% do PIB.


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