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OPINIÃO ECONÔMICA
O socorro do FMI ao Brasil será mais um fracasso
JEFFREY SACHS
A crise dos mercados emergentes atravessou o Atlântico e
tomou conta do Brasil. Como fez
na Ásia, o FMI está saindo para
socorrer o país. Mas, assim como
aconteceu na Ásia, é possível que
as receitas do FMI façam mais
mal do que bem.
Segundo as interpretações do
FMI e do Brasil, há dois problemas:
1) Um déficit orçamentário de
aproximadamente 7% do PIB
que precisa ser reduzido, já que o
Brasil está encontrando dificuldade em financiá-lo com empréstimos nacionais ou externos;
2) O pânico financeiro internacional. Os investidores estrangeiros estão fugindo do Brasil, provocando a alta dos juros e ameaçando a moeda brasileira.
O remédio receitado pelo FMI
é a concessão de um grande empréstimo internacional ao Brasil, acoplado à promessa do governo brasileiro de que irá promover uma redução acentuada
em seu déficit orçamentário. O
problema é que o FMI está, mais
uma vez, ignorando a raiz mais
importante da crise brasileira. A
moeda brasileira, o real, está fortemente sobrevalorizada, possivelmente entre 30% e 40%. Isso
significa que os salários e preços
nacionais estão altos demais para permitir que o Brasil seja
competitivo em nível internacional.
Desde o final de agosto, o Banco Central brasileiro já vendeu
US$ 25 bilhões de suas reservas
cambiais para defender o real.
As reservas caíram de cerca de
US$ 70 bilhões para o nível atual
-cerca de US$ 45 bilhões-, e a
queda continua.
As consequências são graves. O
Brasil conserva uma taxa de juros muito alta para desencorajar
a fuga de capitais, já que existem
amplos (e fundamentados) temores de que o real acabe por ser
desvalorizado. Mas a sobrevalorização, acoplada às altas taxas
de juros, está causando uma recessão. As exportações e a demanda interna estão sofrendo as
consequências, e o resultado é
um aumento acentuado do desemprego.
O governo brasileiro e o FMI
apostam que, com um grande
empréstimo internacional, os especuladores vão parar de atacar.
Mas, mesmo com o empréstimo
internacional, a moeda brasileira vai continuar sobrevalorizada, e todo o mundo vai saber disso.
Mais uma vez, portanto, a posição do FMI desafia a lógica. Se
a taxa de câmbio for mantida
constante e os gastos orçamentários forem reduzidos, o Brasil vai
mergulhar numa recessão profunda, prejudicando a receita
fiscal e mantendo o déficit orçamentário muito alto. Na condição de presidente que cumpre
seu segundo mandato e não poderá ser reeleito mais uma vez,
presidindo sobre uma recessão e
num sistema federal complicado, com governadores estaduais
poderosos, é pouco provável que
o recém-reeleito Fernando Henrique Cardoso consiga manter
apoio para suas políticas de austeridade por muito tempo.
O Brasil deveria desvalorizar
sua moeda até um nível mais
realista. Nesse momento, poderia reduzir a taxa de juros. Ao
mesmo tempo, os bancos internacionais credores do Brasil deveriam ser encorajados a rolar
as dívidas de curto prazo que
lhes são devidas. Se os bancos
entrarem em pânico, tanto o
Brasil quanto os bancos irão perder. O FMI e o governo norte-
americano poderiam desempenhar um papel útil, ajudando os
bancos internacionais a coordenar uma rolagem das dívidas. Se
ambos esses passos forem dados,
ainda seria o caso de se obterem
alguns empréstimos do FMI e
outras instituições, mas em escala menor do que aquele que o
FMI organizou.
Depois de quatro resgates fracassados em 15 meses (Indonésia, Coréia, Tailândia e Rússia),
o FMI está à beira do quinto fracasso. Este, se acontecer, será devastador, já que o FMI caiu numa armadilha que ele mesmo
armou. Quanto aos mercados
emergentes, eles deveriam observar duas regras: manter taxas de
câmbio flexíveis e impor um limite rígido aos empréstimos de
curto prazo contraídos do exterior.
Jeffrey Sachs é diretor do Instituto Harvard
de Desenvolvimento Internacional e professor
da cadeira Gallen Stone de Comércio Internacional na Universidade Harvard. Atuou como
principal assessor econômico estrangeiro dos
governos da Rússia, Polônia e Bolívia.
Tradução de Clara Allain
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