São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002 |
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ANO DO DRAGÃO Virtual ministro da Fazenda de Lula diz que "novo governo não vai trabalhar com congelamento de preços" Palocci admite aumentar meta de inflação
GUSTAVO PATÚ DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Depois de semanas de negativas veementes, o coordenador da equipe petista de transição, Antônio Palocci Filho, admitiu ontem a possibilidade de rever a meta de inflação de 2003, já dada como morta pelo mercado e pelo próprio Banco Central. "Essa é uma discussão que pode ser feita no momento adequado", disse Palocci, ao deixar uma reunião com o ministro Pedro Malan (Fazenda). "Eu acho que se deve trabalhar com metas possíveis de inflação." Vindas do provável sucessor de Malan, as palavras indicam que a alteração é uma quase certeza. A meta oficial para o IPCA no próximo ano é de 4%, com tolerância de 2,5 pontos percentuais, enquanto o ponto médio das expectativas do mercado, segundo a última pesquisa do BC, é de 10,68%. Já o BC não apresentou ainda uma projeção atualizada para o índice, mas, na reunião do mês passado em que elevou seus juros de 21% para 22% ao ano, previu uma inflação em 2003 acima do limite máximo de 6,5%. Se realmente quisesse cumprir a meta atual, como Palocci vinha dizendo, o governo Luiz Inácio Lula da Silva poderia ser obrigado a promover uma recessão profunda, contendo a inflação com a queda da renda dos consumidores, ou a partir para medidas heterodoxas de controle de preços. O bom senso manda descartar a primeira alternativa, e o próprio coordenador da transição se encarregou de eliminar a segunda. "O novo governo não vai trabalhar com congelamento de preços", entre outros mecanismos que "já se mostraram ineficazes em outros momentos", disse. Palocci deu algumas pistas de como o governo eleito pretende tratar o tema. A discussão sobre a revisão das metas, afirmou, pode acontecer no início de 2003 ou no final deste ano -o que sugere a participação do governo Fernando Henrique Cardoso. Ouvido pela Folha, o diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn, foi lacônico: "Nosso objetivo é ter a menor inflação possível". A meta de inflação "não necessariamente" terá de subir, disse Palocci. Embora ele não tenha entrado em detalhes, discutem-se, entre especialistas, opções como mudanças nos prazos e nos critérios para a apuração da taxa de inflação. Não está no horizonte a elevação do Imposto de Exportação para estimular a oferta no mercado interno, como alguns analistas chegaram a especular. Um forte superávit comercial está entre as prioridades do PT. Sempre segundo Palocci, o pacto social articulado por Lula não pretende controlar preços desafiando as leis de mercado, mas os empresários, os consumidores e o governo "têm um papel" no controle inflacionário. O papel dos empresários não chegou a ser detalhado. O dos consumidores é "escolher o que comprar". Sobre o do governo, uma frase pode servir de exemplo: "O novo presidente do BC terá de ter coragem de fazer o que for preciso". Reindexação Palocci também pediu prioridade para o combate à reindexação de preços e salários, que, segundo ele, é o principal alimentador da inflação. "Houve uma alta do dólar, que começa a ser repassada para os preços. É preciso controlar isso e não deixar que volte a indexação, porque a indexação sim reproduziria a inflação no longo prazo. Com a indexação, a inflação se perpetua", afirmou. No governo petista, "estamos empenhados em garantir que a política econômica tenha segurança, tenha força, tenha começo, meio e fim, para que o câmbio vá se apreciando e a situação esteja sob controle", afirmou. Bolha Apesar do tom otimista, Palocci disse que a recente alta de preços não pode ser considerada meramente uma "bolha inflacionária". "Falar que [alta dos preços] é só uma bolha inflacionária talvez seja uma redução [da explicação]." Palocci afirmou não ver razão para a inflação continuar subindo. Sem citar o que poderia ser feito, ele reiterou que, caso o atual governo tome, no mês que lhe resta de mandato, alguma medida contra a inflação, terá "todo o apoio" do PT. Colaboraram Sílvia Mugnatto, da Sucursal de Brasília, e Fábio Zanini, enviado especial a Brasília Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Frases Índice |
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