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LUÍS NASSIF
A armadilha da liquidez
Neste ano, o risco Argentina caiu a níveis incompreensivelmente baixos. A dívida externa da Polônia está sendo negociada a meros 80 pontos-base (0,8 ponto percentual)
acima dos títulos do Tesouro
norte-americano, em um momento em que explodem dúvidas sobre a sustentabilidade da
sua dívida pública. Com reservas cambiais quase a zero, a
moeda da África do Sul sofreu
uma valorização de 100% ante
o dólar. Com forte possibilidade de reescalonamento de sua
dívida externa, o risco Uruguai
caiu 800 pontos.
Como se explicam esses movimentos? A explicação é óbvia
e foi dada por Desmond Lachman , ex-estrategista-chefe de
mercados emergentes na Salomon Smith Barney, em artigo
no "Valor" de ontem. As taxas
de juros dos EUA, Europa e Japão estão nos níveis mais baixos dos últimos 45 anos. "Em
vez de atribuir o rali do mercado da dívida dos emergentes à
melhora nas condições da liquidez global, ministros das Finanças em muitos mercados de
capitais emergentes argumentam com benevolência que os
fundamentos fortalecidos em
seus próprios países são o fator
que explica o extraordinário
encolhimento do spread"."
O Brasil não está fora disso.
"Sem querer depreciar as muitas realizações em política econômica do presidente Lula até
o presente (...) em um ambiente de liquidez global menos benéfico, não estariam os investidores muito mais preocupados
com a ausência de crescimento
econômico no Brasil ou com o
aparente estancamento do investimento direto estrangeiro?
Não estariam formulando as
mesmas perguntas contundentes que apresentaram há não
muito tempo sobre o nível ainda muito alto de dívida pública
do Brasil e sobre a sustentabilidade das contas públicas do
país?"
O que ocorrerá com o país em
um quadro de inversão da liquidez internacional, que poderá ser daqui um, dois ou três
anos? Toda a lógica macroeconômica brasileira está amarrada a uma só variável, que pode
mudar da noite para o dia -a
taxa de juros norte-americana.
Uma política responsável
consistiria, neste momento, em
começar a discutir o cenário de
redução da liquidez, em estancar a busca de crédito em dólares pelos grupos brasileiros, em
começar a estudar maneiras de
desdolarizar suas dívidas para
deixá-los preparados para o estreitamento da liquidez internacional. Consistiria em estudar maneiras de diminuir o peso descomunal da dívida pública, em fortalecer as contas externas.
Deveria o núcleo duro do governo chamar os técnicos da
Fazenda e do Banco Central e
pedir uma simulação simples:
o que aconteceria com o país
com o aumento dos juros internacionais, que derrubaria o
fluxo de recursos para os países
emergentes e os preços das
principais commodities? De
preferência o trabalho deveria
ser assinado, a firma, reconhecida, e os signatários, oferecer
seus bens pessoais em garantia.
Suas apostas sobre o futuro
da política econômica mudariam na hora.
Gestão
Pela primeira vez em 14 anos
o governo mineiro estará pagando o 13º salário do funcionalismo em dia. No início do
ano havia uma receita prevista
de R$ 15 bilhões para despesas
de R$ 17 bilhões. O caminho
encontrado foi gestão de despesas, não aumento de impostos.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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