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COMÉRCIO MUNDIAL
Para embaixador, é preciso haver negociação urgente entre Mercosul e EUA antes de avaliar ganhos e perdas
Brasil diz não saber o que ganhará na Alca
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A pouco mais de um ano para o
fim do prazo de negociações da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), o Brasil ainda não sabe quais serão seus eventuais ganhos em participar do acordo,
afirmou ontem o co-presidente
brasileiro do bloco, Adhemar Bahadian.
"Esses exercícios ainda não vi,
pois os que foram feitos se basearam em expectativas irreais", disse o embaixador, durante audiência pública no Congresso, ao ser
questionado sobre as vantagens
de participar da Alca.
Os estudos sobre a participação
do Brasil nessa área de livre comércio partem, quase sempre, de
pressupostos que não irão se confirmar, como a plena abertura do
mercado norte-americano para
produtos brasileiros.
De acordo com Bahadian, é preciso haver uma negociação urgente entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e os
Estados Unidos para decidir quais
serão as reduções tarifárias para
cada produto, antes de uma avaliação sobre os ganhos e as perdas
que o acordo possibilitará.
"Deve ser feita com urgência
um negociação 4+1 [Mercosul e
Estados Unidos] para sabermos
as efetivas rebaixas tarifárias",
afirmou.
O processo, diz o embaixador,
também ficará mais claro a partir
dos resultados da reunião da Alca
em fevereiro de 2004, no México.
Nesse encontro, serão acertadas
as regras que todos os 34 países do
futuro bloco comercial terão de
seguir.
No México, o embaixador admitiu que poderá haver retrocessos no processo de formação da
Alca. "Corre-se o risco de voltarmos a uma situação na qual os
países querem maximizar os ganhos nas suas áreas de interesse e
minimizar as concessões nas suas
áreas sensíveis", afirmou.
Impasse
Até a reunião de Miami, no mês
passado, havia um impasse na Alca. O Brasil e os Estados Unidos
não concordavam sobre quais temas deveriam ser negociados
com maior profundidade. Os brasileiros defendem uma Alca
"light", e os americanos, um bloco mais abrangente. A polêmica
foi superada com base no acordo
de Miami, que na verdade postergou a disputa para fevereiro. O sucesso conseguido em Miami se
deve a um documento final que
deixou em aberto qual será a ambição final do acordo.
Ovos com bacon
Na Câmara dos Deputados, Bahadian contou uma parábola, que
ouviu de diplomata africano na
ONU (Organização das Nações
Unidas), a qual demonstra a preocupação do Itamaraty com os
possíveis prejuízos de uma associação comercial com os norte-americanos.
A história, brincou o embaixador brasileiro, se passa no tempo
em que os bichos ainda falavam.
Na ocasião, a galinha propôs ao
porco uma joint venture para fornecer aos Estados Unidos um dos
seus desjejuns prediletos: ovos
com bacon.
O porco, após refletir, ponderou
que seria fácil a galinha fornecer
os ovos, mas que, para entregar o
bacon, ele morreria. A galinha
respondeu: "Na joint venture alguém sempre sai perdendo".
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