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Sob Lula, dobra saída de investimentos
Entre janeiro de 2003 e outubro de 2006, empresas estrangeiras se desfizeram de US$ 18,9 bilhões em negócios no país
Movimento se intensificou em 2005 e 2006, mas, segundo especialistas,
números registrados não refletem uma tendência
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O valor que empresas estrangeiras retiraram de investimentos produtivos no Brasil
mais que dobrou no governo
Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao período 1999-2002.
Entre janeiro de 2003 e outubro de 2006, companhias estrangeiras se desfizeram de
US$ 18,90 bilhões em negócios
no país -112% a mais que os
US$ 8,95 bilhões registrados
nos quatro anos anteriores.
O movimento se intensificou
em 2005 e 2006, quando o desinvestimento atingiu US$ 13,2
bilhões, uma cifra recorde, próxima dos US$ 14,7 bilhões que
saíram do país nos seis anos anteriores. Esses valores se referem ao encerramento de atividades ou à venda do capital que
os estrangeiros tinham em empresas nacionais. Nos dois casos, os recursos deixam o país.
Visto como crucial para o desenvolvimento do Brasil, o setor elétrico liderou o ranking de
desinvestimento neste ano,
com retiradas de US$ 1,5 bilhão
até outubro -24,4% do total de
US$ 6,19 bilhões do período.
Entre as operações que contribuíram para esse resultado
está a transferência de propriedade da Light do grupo francês
EDF para o consórcio brasileiro integrado por Cemig, Andrade Gutierrez e Pactual Energia,
por US$ 320 milhões.
O segundo lugar no ranking
de desinvestimento foi do setor
de intermediação financeira,
com saídas de US$ 1,1 bilhão
entre janeiro e outubro. Quase
metade desse valor -US$ 490
milhões- é resultado da venda
dos ativos da American Express no Brasil para o Bradesco,
fechada em março.
Na divisão por setores da
economia, os serviços concentraram 67% do desinvestimento em 2006. A indústria veio em
segundo lugar, com 25%. O segmento agropecuário e extrativo
respondeu por 8%.
No ano passado, a atividade
de intermediação financeira liderou as saídas, com US$ 1,57
bilhão -22,5% do total. O setor
elétrico teve participação bem
menor, de 5,3% dos US$ 7 bilhões que deixaram o país.
Alexander Nogueira Xavier,
economista-chefe da Sobeet
(Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), diz que o valor médio
mensal de desinvestimento estrangeiro passou de US$ 166
milhões, em 2004, para
US$ 583 milhões, em 2005. Nos
dez primeiros meses de 2006,
ficou em US$ 618 milhões.
Apesar do aumento, Xavier
não acredita que o padrão dos
últimos 22 meses vá se manter
no futuro. A principal razão é o
fato de as operações terem se
concentrado em meses e setores específicos. Em sua opinião,
os valores devem cair e voltar
aos patamares de 2004.
Não é tendência
O sócio responsável pela área
de fusões e aquisições da PricewaterhouseCoopers, Raul
Beer, não vê uma tendência de
fuga de investimentos estrangeiros do país. Pelo contrário.
"Sentimos grande interesse de
multinacionais de investir no
Brasil", afirma Beer.
Para Carlos Thadeu de Freitas Gomes, professor do Ibmec-RJ, a valorização do real é
a principal razão para a retirada
de investimentos: "Se o dólar
está barato, é melhor comprar
dólar e voltar quando o real estiver mais desvalorizado."
O real forte também aumenta o cacife de empresas brasileiras para comprar ativos no país
que estão em mãos de investidores estrangeiros, destaca.
Outros fatores que influenciam a saída de estrangeiros são
a alta carga tributária e o baixo
ritmo de crescimento, diz. "Para investir no setor real é preciso ter a expectativa de que a demanda aumentará no futuro."
Xavier e Gomes concordam
em que os números não refletem aversão dos investidores
estrangeiros em relação ao Brasil. Apesar do aumento das retiradas, o volume bruto de IED
(investimento estrangeiro direto) que o país recebe é alto.
Em 2005, a entrada bruta foi
de US$ 30 bilhões, mas saíram
US$ 15 bilhões, o que levou a
um resultado líquido de entrada de US$ 15 bilhões.
Dos US$ 15 bilhões, US$ 7 bilhões se referem à venda de
participações que estrangeiros
tinham no capital de empresas
brasileiras. Os restantes US$ 8
bilhões são amortizações de
empréstimos feitos pelas matrizes às suas filiais brasileiras.
Como eles costumam ter
condições de juros e pagamento bastante favoráveis, o Banco
Central registra essas operações como investimento direto.
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