São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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Desemprego aumentará em 2009, admite governo

Ministro do Trabalho diz que "primeiro trimestre [do próximo ano] será brab o'

Lupi vê antecipação de demissões e afirma que os primeiros setores a já mostrarem retração são automotivo e construção

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O discurso otimista do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, deu lugar à preocupação. Apesar dos números recordes de geração de empregos formais registrados neste ano, o ministro prevê aumento do desemprego no primeiro trimestre de 2009 e avalia que somente a redução das taxas de juros, agora, pode atenuar o cenário.
"O primeiro trimestre será brabo. Já estamos fazendo o que pode ser feito, usando recursos do FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço] e do FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador]. Mas só a redução dos juros pode mudar o quadro, mais por um efeito psicológico", disse à Folha Lupi -conhecido por assustar assessores com previsões mais favoráveis do que os estudos técnicos autorizam.
A taxa de desemprego no Brasil ficou em 7,5% em outubro, o menor patamar do ano.
Nos três primeiros meses deste ano, o emprego formal alcançou a marca histórica de 554.440 postos criados -aumento de 39% em relação a igual período de 2007.
Para 2009, o governo já anunciou R$ 3 bilhões do FGTS para socorrer construtoras e mais de R$ 4 bilhões do FAT para micro e pequenas empresas. Lupi ainda estuda ampliar parcela do seguro-desemprego a setores que enfrentarem demissões em massa.
Em outubro, dados do emprego formal mostraram os primeiros sinais de desaceleração, aumentando a preocupação do governo. Para novembro, Lupi espera resultado ainda pior porque muitas demissões que ocorrem sazonalmente em dezembro foram antecipadas.
Para Fábio Romão, da consultoria LCA, o primeiro trimestre de 2009 aponta quadro "nada animador". "O mercado de trabalho estará respondendo com mais clareza aos efeitos da crise financeira. Hoje os sinais ainda são díspares", disse.
Para Romão, a taxa de expansão dos ocupados de 2009 ficará bem abaixo da estimada para este ano -3,4%, em 2008, contra 2,1%, em 2009, o que reduz as vagas abertas aos ingressantes no mercado de trabalho.
Lupi diz que os primeiros setores a demonstrar estrangulamento são automotivo e construção civil. O setor de autopeças calcula que fechará mais de 8.000 vagas até o final deste mês.
Entre as montadoras, cerca de 50 mil trabalhadores deverão cumprir férias coletivas. Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), os dados que serão divulgados hoje com os resultados de novembro ainda não vão apontar demissões, porque, tecnicamente, os desligados estão sob aviso prévio.
O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Paulo Safady, disse que, no mês passado o setor registrou demissões concentradas principalmente nas grandes empresas. Os dados ainda estão sendo tabulados.
"Foi encerrado um ciclo de grandes obras, e houve um movimento maior de demissão. A crise queimará uma gordura que foi criada no setor e, com certeza, continuará mostrando efeitos em 2009. Não sabemos com qual intensidade", disse ele. "Esperamos que o governo não só mantenha os investimentos como aumente a intensidade para manter os empregos", disse Safady.
No setor bancário, os sindicatos calculam que 900 trabalhadores já tenham sido demitidos nos pequenos bancos. Ontem, foi a vez de a Vale anunciar a demissão de 1.300 funcionários. Outros 5.500 trabalhadores da mineradora foram postos em férias coletiva.


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