São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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Abimaq prevê "carnificina" no emprego após o Natal

Setor diz que os cortes de pedidos já indicam que há paralisação da atividade

Indústria quer prazo maior para pagar tributos, redução imediata da taxa de juros e cobra medidas para que os bancos voltem a emprestar

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) prevê uma "carnificina" sobre o quadro geral de empregos no país após as festas de fim de ano. O setor é responsável hoje por 294,7 mil empregos diretos.
Ontem, durante apresentação do balanço, o setor colocou sobre os ombros do governo, e em parte do sistema bancário brasileiro, a responsabilidade de evitar demissões em massa na indústria de bens de capital.
Dados do Departamento de Economia e Estatística da associação mostram retração de 10,3% no nível de atividade do setor em outubro em comparação a setembro. O faturamento da indústria de máquinas em outubro foi de R$ 7,33 bilhões. Na terça-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) havia registrado recuo de 1,7% na atividade industrial em outubro.
Na avaliação do setor, entretanto, a indústria chegou a uma "encruzilhada". Até outubro, os dados acumulados são excepcionais, fruto de forte investimento. Entre janeiro e outubro, o faturamento global de R$ 65,4 bilhões representou alta de 24,8% em termos reais (já descontada a inflação). Segundo Carlos Pastoriza, vice-presidente da Abimaq, esses dados estão no "retrovisor". "A crise global mudou as expectativas."

Menos pedidos
O tom alarmista está embasado numa avaliação do atual cenário de queda brutal das encomendas, da postergação na entrega de máquinas por falta de crédito do comprador e, principalmente, pelo alto nível de cancelamento de pedidos.
A Abimaq montou um comitê de acompanhamento do setor de bens de capital que tenta coletar dados para uma avaliação mais detalhada da situação. Em sondagem, as indústrias revelam que a redução dos pedidos em carteira passou de 24,7% em meados de novembro para 32,3% no fim do mês. "Os pedidos hoje em carteira garantem as operações das indústrias até janeiro [de 2009]. Depois disso, pode haver uma carnificina", diz.
A direção da Abimaq decidiu montar uma agenda com sete tópicos para nortear as ações do governo para "compensar ou neutralizar" a crise. O primeiro pedido é a postergação, por mais de 30 dias, no prazo de pagamento de tributos. Segundo Pastoriza, a medida garantiria o aumento do fluxo de caixa das empresas. Neste mês entra em vigor a nova regra para o pagamento de alguns tributos federais, cujos prazos foram ampliados em até dez dias.

Ações firmes
O setor também quer medidas mais firmes do governo para domar a taxa de câmbio, quer o BNDES no financiamento do capital de giro (algo já anunciado pela instituição), pede medidas rápidas para os bancos privados voltarem a ofertar crédito ao mercado, cobra a redução do "spread" bancário, a baixa imediata da taxa Selic pelo BC e, por fim, quer que o governo garanta os empréstimos.
A associação já encaminhou uma carta com todos esses pedidos à equipe econômica do governo e ao presidente Lula.
A Abimaq explica que parte da indústria de bens de capital começou a demitir trabalhadores. A maior parte, no entanto, concedeu férias coletivas, mas não deve manter o quadro diante da atual perspectiva de investimentos.
Entre os setores mais afetados está o da indústria de bens de capital para o setor sucroalcooleiro. Depois de enfrentar a ressaca de investimentos, a indústria de equipamentos para usinas de açúcar e álcool é vítima da inadimplência e da forte redução dos pedidos.


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