São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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Lula pressiona Banco Central por queda na taxa de juros

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião ontem com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez pressão pela queda da taxa básica de juros (Selic) na semana que vem. Segundo apurou a Folha, Lula argumentou que já há sinais de esfriamento da economia e que o Banco Central precisa emitir sinais em sentido contrário.
O Copom (Comitê de Política Monetária) fará na na terça e na quarta a última das oito reuniões do ano. O órgão reúne a diretoria do BC a cada 45 dias para fixar a taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano.
Auxiliares de Lula que criticam o suposto conservadorismo monetário do BC afirmam que há espaço para fazer política monetária via redução da Selic. O Brasil tem uma das mais altas taxas do mundo justamente na hora em que outros países já reduziram drasticamente os juros para combater os efeitos da crise econômica.
Segundo a Folha apurou, Lula deseja transmitir um sinal político aos agentes econômicos. Ele julga que o BC deve fazê-lo baixando os juros ainda neste ano. Na opinião de auxiliares, um viés de baixa já ajudaria, apesar de dizerem, reservadamente, que o desejo presidencial é de queda de 0,25 ponto percentual da Selic.
Anteontem, em cerimônia pública, Lula chegou a falar que os juros estão "acima daquilo que o bom senso indica que deveríamos ter". Como o presidente evita criticar publicamente os juros altos, o recado de ontem foi um indicativo de sua pressão sobre o BC.
Nas discussões internas do governo, o BC vinha argumentando que havia pressão inflacionária e que isso exigia juros altos. Meirelles vinha defendendo uma atitude cautelosa na política monetária para avaliar os efeitos da crise econômica internacional sobre o Brasil. Ou seja, deixar os juros em 13,75% até constatar a necessidade de elevação ou redução.
Na opinião de Lula, já estaria mais do que claro que não há possibilidade de elevação por conta de eventual pressão inflacionária. O presidente avalia que o quadro de incerteza acabou. Lula ficou alarmado com o resultado da produção industrial em outubro -queda de 1,7% na comparação com setembro. O dado surpreendeu o governo e os analistas, que esperavam resultado melhor.
Lula avalia que a manutenção do crescimento econômico passou a ser prioridade. Na semana passada, na reunião ministerial, disse isso com todas as letras. Chegou a afirmar que a crise global diluíra a pressão inflacionária no Brasil. As notícias de demissões em grandes empresas (Vale, por exemplo) e a queda na indústria reforçaram a convicção do presidente.


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