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OPINIÃO ECONÔMICA
Ano Novo
JOÃO SAYAD
Pensamos por 1.500 anos que
Jerusalém era o centro da
Terra e a Terra, o centro do Universo. Afinal de contas, Deus só
poderia ter nascido no centro do
mundo e nós, como sempre, estávamos no centro do mundo.
Somos geocêntricos e egocêntricos. Bem-aventurado quem pensa
que tudo começou no lugar e no
dia em que nasceu, pois para ele,
todo dia é um dia novo. Mas o
desgraçado carrega consigo a culpa de todos os pecados do mundo.
O governo militar de 64 fez as
reformas prometidas pelo governo que derrubou. Em 2003, o novo governo completou as últimas
reformas propostas pelo governo
anterior.
A Previdência brasileira foi reformada quando completou 30
anos. Daqui a 30 anos a nova previdência começará a pagar aposentadorias. Será solvente? Ou terá que ser reformada?
A criação de um banco central
independente começou em 1945,
com a criação da Sumoc -a Superintendência da Moeda e do
Crédito. O Banco do Brasil exercia funções de banco central. O
primeiro superintendente obrigou ingenuamente o Banco do
Brasil a recolher as reservas compulsórias na conta da superintendência, para impedir que exercesse as funções do Banco Central, financiando o governo e "criando"
moeda.
Vinte anos depois o governo militar criou o Banco Central, como
uma poderosa autarquia cujo
presidente teria mandato independente do mandato do Presidente da República. Em 1967, o
presidente do Banco Central é
despedido logo depois de explicar
a independência de mandatos ao
recém-empossado marechal Costa e Silva.
Vinte anos depois, em 1985, descobrimos que o Banco do Brasil
ainda tinha uma conta movimento, isto é, continuava a financiar o Tesouro Nacional como se
fosse banco central.
A independência do Banco
Central começa efetivamente em
1991, com a prática de taxas de juros desnecessariamente altas, dados os déficits do Tesouro. De 1994
em diante, impõe despesas ao Tesouro para manter o câmbio sobrevalorizado. A política fiscal é
dominada pela monetária -o
Tesouro tem que produzir superávits primários do tamanho que
for necessário para manter o
câmbio sobrevalorizado.
Hoje, precisaríamos de um Tesouro Nacional independente.
Entretanto aprovaremos a lei que
formaliza a independência e a
teimosia do Banco Central. A formalização legal da independência chega tarde e já precisaria ser
reformada para que o Banco
Central também obedecesse os
critérios de responsabilidade fiscal.
Cem anos antes, em 1891, Rui
Barbosa, ministro da Fazenda,
tenta criar uma moeda nacional
independente da moeda estrangeira. Fracassa em pouco tempo.
Em 1993 o Brasil é o último país
da América Latina a renegociar
sua dívida. A inflação é controlada a partir da fixação da taxa
cambial.
Foram oito anos sem inflação e
crises decorrentes da sobrevalorização do dólar e da quantidade
insuficiente de reservas. Em 2002
o câmbio é superdesvalorizado, a
inflação cresce e em 2003, o governo aumenta as taxas de juros,
consegue reduzir as taxas cambiais e controlar a inflação. As reservas em dólares são insuficientes.
Em 1965, o Tesouro Nacional
começa a emitir títulos da dívida
pública com correção monetária.
Imaginava-se que a dívida poderia ser mais longa, com a proteção
dada pela correção monetária.
Desde então, o prazo médio da dívida sempre foi curto e dependente do estado geral da economia.
Durante as crises, o prazo da dívida se encurta. Durante momentos
de estabilidade, se alonga. Depois
de 1998, além de correção monetária, o Banco Central oferece
correção cambial, para evitar elevações da taxa de câmbio.
Em 2003 a dívida pública continua a ter todas as características
da moeda nacional e até da moeda estrangeira -liquidez, ausência de risco e prazo. Há 38 anos
tentamos alongar a dívida, sem
saber por que e para que. Se for
para reduzir os juros, não seria
mais fácil, simplesmente, reduzir
os juros?
Dante desce aos infernos acompanhado de Virgílio que escrevera a "Eneida" 1.300 anos antes. A
"Eneida" começa com o verso "As
armas e os homens...", as mesmas
armas e os mesmos "varões assinalados" que iniciam os "Lusíadas" escrito às vésperas do descobrimento do Brasil. A "Eneida"
relata a história da fundação de
Roma após a derrota de Tróia, relatada por Homero e que teria
ocorrido 1.300 anos antes da
"Eneida".
Feliz Ano Novo. O que há de novo?
João Sayad, 57, economista, é professor
da Faculdade de Economia e Administração da USP. Escreve às segundas-feiras, a
cada 15 dias, nesta coluna.
E-mail - jsayad@attglobal.net
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