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POLÍTICA ECONÔMICA
Previsão para 99 é da Morgan Stanley Dean (EUA)
Consultoria prevê que real será reajustado como opção política
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
No primeiro dia útil do ano, a
primeira previsão negativa sobre a
economia brasileira: o governo será constrangido a mudar sua política cambial, desvalorizando o
real, aposta a consultoria norte-americana Morgan Stanley Dean
Witter, em seu relatório de ontem.
Mas a empresa não toma a suposta desvalorização como uma
tragédia. Ao contrário, diz que "o
governo fará da necessidade uma
virtude".
Ou, em outras palavras: "Estamos começando a pensar que uma
das surpresas de 1999 pode ser o
Brasil adotar uma mudança da política cambial como medida política em vez de ser forçado a desvalorizar como muitos temeram no verão" (do Hemisfério Norte, período que se encerra em setembro).
Motivos para mudar o câmbio
não faltam, na lista da Morgan Stanley: "Melhor liquidez global,
mercados mundiais mais fortes,
crescentes preocupações políticas
no Brasil (a popularidade do presidente Cardoso caiu para 35%, o
mais baixo índice desde meados de
1996), carência de ingresso de capitais e crescente consciência de
que o crédito externo é escasso até
para as melhores companhias, devolvendo-as ao oneroso mercado
doméstico, tudo culminando talvez com a passagem de mais reformas no fim de janeiro, começo de
fevereiro".
A menção à queda da popularidade do presidente se baseia, embora não a mencione, em pesquisa
do Datafolha, publicada no último
domingo de 1998 pela Folha.
A análise da consultoria norte-americana sugere que, enquanto
não vem a prevista mudança cambial, seus clientes prestem atenção
ao fluxo de saída de capitais do
Brasil, que, em dezembro, foi de
cerca de US$ 5 bilhões.
"Muitas das saídas de dezembro
foram descritas como sazonais,
com a implicação de que o dinheiro retornaria no novo ano. Se não
for assim, o ambiente poderia tornar-se tenso", diz a Morgan Stanley.
Mas o relatório informa também
que a preocupação não é tanto
com a saída de capitais, mas com a
ausência de ingressos. "Enquanto
houver preocupação com o câmbio, os fluxos de entrada serão
contidos, mantendo a taxa (de juros) alta, desacelerando a economia mais ainda, com implicações
políticas negativas."
Termina afirmando que "o ponto chave parece ser que "mix' de
política reduzirá os juros de maneira mais rápida e mais sustentada, (pois) não está claro que o atual
poderá conseguir tal coisa em um
período de tempo palatável".
O relatório coincide com texto
do jornal norte-americano "The
New York Times" com previsões
para 1999 que afirma, em relação
ao Brasil: "Apesar de um pacote de
empréstimo orquestrado pelo
Fundo Monetário Internacional,
muitos estão preocupados com a
possibilidade de que o Brasil não
seja capaz de sustentar a estabilidade de sua moeda".
Coincide também, ao menos indiretamente, com pesquisa da
consultoria canadense Angus
Reid, encomendada pela revista
britânica "The Economist", em
que 75% dos brasileiros ouvidos
dizem acreditar que a situação
econômica brasileira será pior em
99 que em 98.
Para comparação: na média dos
demais países latino-americanos
incluídos na pesquisa (feita em 22
países), os pessimistas são 41%.
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