São Paulo, terça, 5 de janeiro de 1999

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POLÍTICA ECONÔMICA
Previsão para 99 é da Morgan Stanley Dean (EUA)
Consultoria prevê que real será reajustado como opção política

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

No primeiro dia útil do ano, a primeira previsão negativa sobre a economia brasileira: o governo será constrangido a mudar sua política cambial, desvalorizando o real, aposta a consultoria norte-americana Morgan Stanley Dean Witter, em seu relatório de ontem.
Mas a empresa não toma a suposta desvalorização como uma tragédia. Ao contrário, diz que "o governo fará da necessidade uma virtude".
Ou, em outras palavras: "Estamos começando a pensar que uma das surpresas de 1999 pode ser o Brasil adotar uma mudança da política cambial como medida política em vez de ser forçado a desvalorizar como muitos temeram no verão" (do Hemisfério Norte, período que se encerra em setembro).
Motivos para mudar o câmbio não faltam, na lista da Morgan Stanley: "Melhor liquidez global, mercados mundiais mais fortes, crescentes preocupações políticas no Brasil (a popularidade do presidente Cardoso caiu para 35%, o mais baixo índice desde meados de 1996), carência de ingresso de capitais e crescente consciência de que o crédito externo é escasso até para as melhores companhias, devolvendo-as ao oneroso mercado doméstico, tudo culminando talvez com a passagem de mais reformas no fim de janeiro, começo de fevereiro".
A menção à queda da popularidade do presidente se baseia, embora não a mencione, em pesquisa do Datafolha, publicada no último domingo de 1998 pela Folha.
A análise da consultoria norte-americana sugere que, enquanto não vem a prevista mudança cambial, seus clientes prestem atenção ao fluxo de saída de capitais do Brasil, que, em dezembro, foi de cerca de US$ 5 bilhões.
"Muitas das saídas de dezembro foram descritas como sazonais, com a implicação de que o dinheiro retornaria no novo ano. Se não for assim, o ambiente poderia tornar-se tenso", diz a Morgan Stanley.
Mas o relatório informa também que a preocupação não é tanto com a saída de capitais, mas com a ausência de ingressos. "Enquanto houver preocupação com o câmbio, os fluxos de entrada serão contidos, mantendo a taxa (de juros) alta, desacelerando a economia mais ainda, com implicações políticas negativas."
Termina afirmando que "o ponto chave parece ser que "mix' de política reduzirá os juros de maneira mais rápida e mais sustentada, (pois) não está claro que o atual poderá conseguir tal coisa em um período de tempo palatável".
O relatório coincide com texto do jornal norte-americano "The New York Times" com previsões para 1999 que afirma, em relação ao Brasil: "Apesar de um pacote de empréstimo orquestrado pelo Fundo Monetário Internacional, muitos estão preocupados com a possibilidade de que o Brasil não seja capaz de sustentar a estabilidade de sua moeda".
Coincide também, ao menos indiretamente, com pesquisa da consultoria canadense Angus Reid, encomendada pela revista britânica "The Economist", em que 75% dos brasileiros ouvidos dizem acreditar que a situação econômica brasileira será pior em 99 que em 98.
Para comparação: na média dos demais países latino-americanos incluídos na pesquisa (feita em 22 países), os pessimistas são 41%.



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