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Governo Kirchner é acusado de manipular dado de inflação
Técnicos de instituto similar ao IBGE vêem "intervenção"
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Em carta aberta à população
argentina, os funcionários do
Indec (Instituto Nacional de
Estatística e Censos), órgão que
corresponde ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), acusaram ontem o
presidente Néstor Kirchner de
manipular o cálculo do IPC (Índice de Preços ao Consumidor)
para exibir uma taxa de inflação inferior à verdadeiramente
registrada no mês passado.
Sob suspeita de fraude nos
dados, o Indec difundirá hoje a
taxa de inflação do mês de janeiro. Dependendo do número
apresentado, os técnicos do
instituto ameaçam divulgar a
inflação "real", que se aproximaria dos 2,1%.
Segundo os funcionários do
instituto, o governo argentino
realizou "a primeira intervenção de fato sobre um indicador
público na história do Indec".
Para eles, "o objetivo imediato
é alterar arbitrariamente a metodologia vigente de construção" do IPC, o que teria um impacto direto nos demais indicadores relacionados a ele.
O governo nega a existência
de manipulação. O ministro do
Interior, Aníbal Fernández,
reagiu à ameaça dizendo que os
técnicos são uma "máfia" e que
o movimento de funcionários é
fruto de "manobras políticas".
Para conter a inflação, Kirchner aplica uma política de congelamento de preços específicos -os produtos que compõem a lista dos controlados
são exatamente os que mais
têm impacto no cálculo do IPC,
que, assim, é artificialmente
mantido baixo.
Os economistas criticam a
estratégia e dizem que a inflação real da economia é maior
do que a que é registrada pelo
IPC. A acusação feita pelos técnicos do instituto, porém, é
mais grave e representa uma
escalada no alerta pela maquiagem do índice.
O governo acaba de substituir a funcionária que respondia pelo IPC dentro do Indec e
interveio no órgão, impondo
novas diretrizes. Entre as medidas adotadas estariam ordens
para desconsiderar o aumento
de 22% dos planos de saúde e
para revelar ao governo a lista
de estabelecimentos comerciais consultados na pesquisa
(o que violaria o segredo estatístico).
Além disso, haveria exigência
para só registrar no sistema dados previamente analisados
(hoje, dados brutos vão para o
computador e só depois passam por análise).
O governo Kirchner anunciou no mês passado que cumpriu a meta de fechar 2006 com
taxa de inflação de apenas um
dígito: 9,8%.
Lavagna
Verdadeira ou manipulada, a
inflação de janeiro deverá ser a
maior taxa mensal desde que
Felisa Miceli assumiu o Ministério da Economia argentino,
com a saída de Roberto Lavagna em novembro de 2005.
Candidato oposicionista à
presidência da Argentina para
as eleições de outubro, o ex-ministro criticou o afastamento
da funcionária responsável pelo IPC e afirmou que o governo
anunciaria uma inflação "meio
ponto menor que a real".
Ao jornal argentino "Perfil",
o ex-titular do Indec, Juan Carlos del Bello, afirmou que,
quando ministro, Lavagna também tentou modificar dados
sobre a pobreza no país. A diferença é que não teria conseguido. Lavagna nega ações nesse
sentido.
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