São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Especialista defende política mais agressiva

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos últimos anos, as vendas brasileiras para os EUA apresentam volume cada vez menor de produtos complexos e uma predominância de produtos de pouco valor agregado. O fenômeno ressalta a necessidade de uma política industrial agressiva, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
A exceção que auxilia as estatísticas oficiais é a Embraer, terceira maior fabricante de aviões do planeta, que identificou e atendeu a um nicho específico no mercado de aeronaves. Suas encomendas são uma exceção no tipo de produto embarcado pelo Brasil rumo aos Estados Unidos.
No ano passado, por exemplo, não havia produto complexo ou tecnológico na lista de dez principais artigos vendidos aos norte-americanos, retirando a Embraer da lista.
Itens como telefones celulares, automóveis e calçados ocupavam, até 2003, o espaço que hoje está nas mãos de petróleo, ferro, ouro e café.
Segundo o presidente da Abracomex (Associação Brasileira de Comércio Exterior), Primo Roberto Segatto, o Brasil vem perdendo espaço no mercado norte-americano em diversos produtos, como pisos, louças, granitos, telefones celulares, papel e celulose, entre muitos outros.
"Se não for feito nada, a tendência é caírem ainda mais as vendas para os Estados Unidos", afirmou Segatto.
O caso dos telefones portáteis é exemplar, para Segatto. A Motorola exportava para os EUA, mas reduziu as atividades pelo custo das operações no Brasil, com impostos, taxas e burocracia.
"A GE quer investir em ferrovias no Brasil, isso exige exportação de insumos e equipamentos nossos para eles. Se não houver essa aproximação, acontecerá o mesmo caso dos celulares", disse Segatto.
Além das commodities, outros produtos também ganham espaço nas vendas aos Estados Unidos.
Classificados oficialmente como produtos manufaturados, são artigos como produtos químicos, pneus e sucos de frutas, entre outros.

Pauta
Professor de economia da Universidade de Brasília, Roberto Piscitelli avaliou que o Brasil já avançou na diversificação de destinos para as exportações e que agora precisa melhorar a pauta de produtos, em especial a lista apresentada aos compradores mais tradicionais.
"Estamos exportando mais, mas o grau de desagregação dos nossos produtos é relativamente muito pequeno, são manufaturados muito mixurucas, produtos que não permitem ao Brasil alçar vôos mais amplos", disse Piscitelli.
Em declarações oficiais, os ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento sempre rebatem críticas de que as relações com os Estados Unidos têm importância menor que a integração com os emergentes, prioridade declarada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quando deixou o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, em 2006, Roberto Abdenur criticou a existência de um viés ideológico no Itamaraty responsável por uma atenção menor aos EUA.
No ano passado, as vendas do agronegócio brasileiro para os Estados Unidos recuaram 8,7%. As exportações de soja, por exemplo, caíram 89,65%. (IURI DANTAS)


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.