São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2009

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Mesmo com recessão, imigrantes ganham mais que em seu país

DE NOVA YORK

Para os estrangeiros que emigram e conseguem emprego nos EUA, nem a recessão abala os ganhos financeiros dos próximos anos. Projeta-se que os salários americanos cairão em média 1,5% em 2009 por causa da crise, mas pesquisa da Universidade Harvard calcula que imigrantes podem ganhar nos EUA de 2 a 15 vezes mais do que o pago pelo mesmo trabalho em seus países de origem.
"Para um haitiano que pode elevar sua renda no mínimo 600% só por vir aos EUA, essa queda de salário por causa da situação econômica passa despercebida", diz Michael Clemens, coautor do estudo. "Estamos falando de algo que transforma totalmente suas vidas e as de seus familiares. A diferenças de salário estão em escalas verdadeiramente épicas."
A pesquisa afirma que, "em uma estimativa conservadora, o ganho de um trabalhador de qualificação moderada que se muda para os EUA é de US$ 10 mil [ajustados em paridade do poder de compra] por trabalhador, por ano -mais ou menos o dobro da renda per capita no mundo em desenvolvimento".
O estudo não leva em conta o índice de desemprego, só salários, do setor formal e informal. "Claro que, com a recessão, essa oportunidade será ofertada a menos gente", diz Clemens.
A maior diferença de salários entre 42 países pesquisados e os EUA foi no Iêmen. Um homem de 35 anos, com nove anos de educação e de região urbana, ganha em média nos EUA 15,45 vezes mais do que um cidadão com as mesmas características que não emigrou.
Nas Américas, quem mais ganha ao sair são os haitianos; quem vai para os EUA ganha em média dez vezes mais do que quem ficou, pelo mesmo trabalho. Para o Brasil, a diferença é de 3,76 vezes a mais nos EUA, no exemplo citado.
Além de comparar dois trabalhadores -o que ficou e o que emigrou-, o estudo também compara quanto o mesmo trabalhador ganha pelo mesmo trabalho antes e depois de emigrar. A intenção é eliminar possíveis distorções não observáveis da amostra (imigrantes que falam inglês ou têm conexões nos EUA, por exemplo, têm menos custos para emigrar). De toda forma, a diferença é grande. "Um brasileiro poderia aumentar sua renda em mais de 170% só porque botou os pés nos EUA", diz Clemens.
A menor diferença entre todos os países pesquisados ficou com a República Dominicana: pelo mesmo trabalho e mesma formação, um empregado ganha duas vezes mais nos EUA.
Segundo o estudo, os números mostram que a discriminação salarial criada pelas fronteiras internacionais é, para grande número de países em desenvolvimento, no mínimo tão grande quanto qualquer forma de discriminação a grupos sociais no mesmo mercado. É também mais vantajoso, em termos financeiros, vir para os EUA do que receber ajuda de programas públicos. "O valor recebido em uma vida inteira de acesso ao microcrédito para um homem de Bangladesh equivale a um mês de trabalho nos EUA", afirma o estudo.
"As barreiras ao movimento do trabalho criam o que é aparentemente a maior intervenção antipobreza disponível para pessoas de países pobres [emigrar]. As consequências econômicas são colossais." (AM)


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