|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA ameaçam contrarretaliação ao Brasil
Novo embaixador americano desaconselha retaliação aos EUA em R$ 1,5 bi após vitória na OMC contra subsídios ao algodão
Diplomatas brasileiros se disseram "perplexos"; OMC concedeu ao país direito de retaliar EUA em áreas como propriedade intelectual
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O novo embaixador dos EUA
no Brasil, Thomas Shannon,
defendeu ontem uma melhora
nas relações comerciais entre
os dois países e desaconselhou
Brasília a retaliar Washington
em uma disputa comercial sobre o algodão americano com
uma insinuação, senão ameaça:
"Retaliação sempre provoca
uma contrarretaliação".
"Podemos trabalhar juntos
com o Brasil para melhorar
nossas relações comerciais e
evitar uma ação retaliadora",
pregou Shannon, em português, depois de receber credenciais do presidente Lula.
Diplomatas brasileiros se
disseram "perplexos" com a
possibilidade de contrarretaliação. O Brasil, defendem, está
reagindo ao fato de os EUA terem violado as regras da Organização Mundial do Comércio
com seu programa de subsídios
ao algodão. Após sete anos, a
OMC concedeu em agosto a
Brasília o direito de aplicar sanções em bens e propriedade intelectual, que inclui patentes.
O tema é caro aos EUA. Shannon afirmou que os dois governos conversam intensamente
para evitar a retaliação. "O trabalho da diplomacia não é acirrar os pontos de divergência. É
detectá-los de maneira a não
prejudicar os pontos de convergência, que, neste momento,
são muitos entre o Brasil e os
EUA", disse ele em sua primeira entrevista no Brasil.
Mas, segundo o Itamaraty, os
contatos são incipientes.
O embaixador na OMC, Roberto
Azevedo, confirmou à Folha
ter sido procurado pelos americanos, mas não definiu a fase
atual como negociação: "Até o
momento não foi feito nenhum
tipo de proposta concreta".
A declaração de Shannon
vem às vésperas da reunião da
Camex (Câmara de Comércio
Exterior) para definir os produtos alvo das sanções, marcada para terça. A elaboração da
lista está atrasada. Com mais
de cem itens, atrai interesses
políticos e econômicos.
A eventual "contrarretaliação" não ocorreria no âmbito
da OMC, onde a decisão é final.
Novas barreiras tarifárias poderiam, por sua vez, acarretar
novo processo. A opção americana seria, então, travar negociações em curso para abrir
mais seu mercado a produtos
brasileiros, como o etanol.
Na conta do Itamaraty, as
sanções somariam pouco mais
de R$ 1,5 bilhão, mas o cálculo
depende de dados dos EUA, em
aberto. Pouco menos da metade é em "retaliação cruzada"
(em outro setor que não o alvo
da disputa, como patentes).
O Brasil precisa decidir se
lançará seu maior trunfo já.
Uma ideia que ganha força é
que o país imponha primeiro as
sanções sobre bens, para fazer
andar a negociação. Recurso final, a possibilidade de sanções
em patentes opõe dois dos
mais poderosos lobbies do
Congresso americano, e o setor
farmacêutico já começou a
pressionar com cartas por um
recuo nos subsídios agrícolas.
Colaborou EDUARDO CUCOLO, da Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Emprego: Pequena empresa abre mais vagas, afirma Ipea Próximo Texto: Para dobrar exportação, EUA miram Brasil Índice
|