São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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"Cochilo" jurídico vai custar R$ 173 mi

da Reportagem Local

O espólio da Cooperativa Agrícola de Cotia é alvo de quase 3.000 ações trabalhistas, espalhadas por vários Estados. Mas uma delas, em especial, chama a atenção dos bancos credores e da Justiça.
Trata-se de uma ação em que a cooperativa foi derrotada por ter deixado de se defender em três fases fundamentais do processo. Até os juízes responsáveis pelo processo estranharam o procedimento dos advogados da Cotia.
A perda nos tribunais vai custar R$ 173 milhões à Cotia. Se o departamento jurídico da CAC tivesse atuado como mandam os manuais de direito, a indenização seria de, no máximo, R$ 1 milhão.
A conta é de um advogado da própria Cotia, José Thomaz Figueiredo Gonçalves de Oliveira, contratado depois que o estrago já havia sido feito. Sua função é tentar uma reviravolta, quase impossível, nas instâncias superiores, em Brasília.
"É muito difícil convencer os juízes de que cabe rever o julgamento, uma vez que a CAC já teve as oportunidades para apresentar seus cálculos e não o fez. A luz no fim do túnel é tentar mostrar que a diferença entre os valores é um escândalo", diz Oliveira.

Nomes repetidos
O processo foi movido pelo Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento de São Paulo, em nome dos 750 funcionários da CAC que trabalhavam em Ceasas. A lista de funcionários, escrita a mão, tinha 16 nomes repetidos.
Os 750 empregados da CAC eram carregadores de frutas e legumes, que ganhavam o equivalente a R$ 700,00 por mês, e gerentes com salários de R$ 4.000,00.
Numa conta grosseira, cada um receberá, em média, R$ 200 mil. O advogado do sindicato pode levar mais de R$ 10 milhões.
O processo foi movido para cobrar o pagamento de horas extras, auxílio-creche e outros benefícios, de três dissídios trabalhistas. A conta foi inflada por correção, juros e multa, mas a Cotia não apresentou cálculos contestando os números, como é de praxe.
"Se os valores são altos é porque a Justiça do Trabalho não presta. Ela sempre trabalhou assim", diz Nilson Simões de Moura, o Alemão, presidente do sindicato.
Alemão diz que não haveria como a Cotia apresentar números diferentes, uma vez que os cálculos seguem as regras da lei. "Desafio qualquer um a apresentar valores alternativos", diz Alemão.
O liquidante nomeado pela Justiça, Felipe Pugliese, acha que não se trata de um problema matemático. Sua suspeita é que não foi coincidência o fato de os advogados terem esquecido três vezes de contestar os cálculos na Justiça.
"Os liquidantes nomeados pelos cooperados sentaram sobre o patrimônio. Nesse período houve uma avalanche de processos trabalhistas, alguns deles suspeitos, que acabaram atacando o patrimônio da Cotia em vez de seguir os trâmites rotineiros de uma liquidação", diz Pugliese.
Os antigos liquidantes da Cotia, Keyro Simomoto, Ysau Maeda e Osamu Iwashiro, alegam que não são responsáveis pela perda da ação na Justiça. "Fizemos as apelações, a Cotia ainda está recorrendo", diz Maeda.
Os ex-liquidantes alegam que estavam com tudo pronto para seguir o que manda a lei: vender os imóveis e pagar os credores na ordem de preferências legais. Mas foram impedidos por uma ação judicial do Banco do Brasil que proibiu a venda dos bens.
"As acusações de que havia combinação para levar fatias do patrimônio são totalmente infundadas e estamos contestando na Justiça", diz Maeda. (RG)


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