São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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COOPERATIVA
Credores investigam se há favorecimento a nova entidade no PR
Imóveis são alugados para antigos associados da CAC




da Reportagem Local

A antiga Cooperativa Agrícola de Cotia ressurgiu das cinzas no norte e oeste do Paraná. Dois anos depois da quebradeira da CAC, em 1994, parte de seus antigos associados se reuniu em torno de uma nova bandeira, a das Cooperativas Integradas.
O nome é novo, mas as propriedades são as mesmas. Mais de 80% dos imóveis ocupados pelas Cooperativas Integradas pertencem à velha CAC.
São escritórios, armazéns e fábricas alugados em 16 cidades paranaenses. Para a Justiça, os ex-liquidantes da CAC fizeram um "precinho" camarada para os colegas da Integradas.
"Os aluguéis rebaixados indicam a existência de favorecimentos à custa dos credores da antiga cooperativa de Cotia", diz Felipe Pugliese, liquidante judicial.
A área alugada para as Integradas soma 1,8 milhão de metros quadrados e o valor total do aluguel é R$ 88 mil. As Cooperativas Integradas faturam R$ 200 milhões por ano, principalmente com a produção de grãos.
Até a sede da Integradas, na avenida Celso Garcia, em Londrina, consta da lista de imóveis alugados pela CAC. É um conjunto de escritórios que ocupa um quarteirão inteiro, numa área de 10 mil metros quadrados.
O aluguel está em torno de R$ 2.500,00 por mês. Nas contas de uma imobiliária da cidade, o valor poderia ser multiplicado por quatro ou, no mínimo, por três.
"Os imóveis são velhos, a situação dos agricultores é difícil e provavelmente os escritórios e armazéns ficariam vazios se nós não os alugássemos", diz Jorge Hashimoto, superintendente das Cooperativas Integradas. "Além disso, investimos R$ 3,2 milhões na melhoria dos imóveis."
Esse é o mesmo argumento adotado pelos ex-liquidantes da cooperativa, responsáveis pelos contratos de locação. Segundo Ysau Maeda, não havia opção.
"Não podíamos vender os imóveis porque havia proibição judicial devido a uma ação do Banco do Brasil", diz Maeda. "Na maioria das vezes não encontramos interessados na locação e por isso demos descontos e poderíamos até ceder os imóveis de graça desde que pagassem o IPTU."
O que chama a atenção dos bancos credores e dos liquidantes é que, em muitos casos, os imóveis foram alugados justamente para ex-cooperados.
É o caso do antigo clube da cooperativa, instalado em Cotia, a 40 minutos de São Paulo. O Cooperclube tem uma estrutura de primeira categoria. Numa área de 170 mil metros quadrados, o clube tem 11 quadras de tênis, dois campos de futebol e dois campos de beisebol. Seus 1.200 associados pagam mensalidade de R$ 61,00 por mês e, com taxa extra, podem ter aulas de karaokê e tai-chi-chuan.
Quando a CAC quebrou, os liquidantes procuraram o Cooperclube para negociar um aluguel. Acertaram por R$ 12 mil por mês. Corretores de imóveis avaliam que a área é nobre e o aluguel poderia ser multiplicado por cinco. Os diretores do Cooperclube dizem que os sócios não teriam como pagar. Mesmo assim, já reuniram R$ 4 milhões entre os sócios para tentar comprar o imóvel.
O objetivo dos bancos credores e dos liquidantes judiciais é rever todos os contratos, tomar posse dos imóveis e levá-los a leilão. "Deve ser restabelecida a ordem de pagamento das dívidas", diz o advogado de oito bancos, José Hélio Borba. Segundo ele, os Contratos de Adiantamento de Câmbio (ACCs), acertados com os bancos, são os que têm que ser pagos em primeiro lugar.
A disputa pelo patrimônio é tão grande que os próprios bancos credores andaram batendo cabeça e, devido a uma ação do Banco do Brasil, os imóveis ainda não podem ser vendidos.
A situação jurídica é tão complicada que alguns prédios já foram a leilão, mas ainda não se decidiu com quem fica o patrimônio. Um símbolo do fracasso da cooperativa de Cotia é a área onde seria construído o shopping da CAC, no Largo da Batata, no bairro de Pinheiros. O empreendimento fracassado é alvo de investigação por parte dos liquidantes judiciais, que ainda não encontraram nos arquivos contábeis parte do pagamento pela área. No momento, o que seria o shopping de uma das maiores empresas brasileiras é usado como estacionamento e ponto de camelôs. (RG)




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