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INFRA-ESTRUTURA
Indústrias poderão escolher fornecedor de eletricidade; experiência argentina diminuiu custos
Energia ganha livre mercado em julho
LÁSZLÓ VARGA
da Reportagem Local
Ninguém estranhe se os industriais brasileiros começarem a rir
à toa no dia 8 de julho. A partir
desta data, a energia elétrica, principal insumo de qualquer produção, entrará na era do livre mercado para uma boa parte das empresas do Brasil.
A novidade mexerá com os custos das companhias. Uma pequena metalúrgica paulistana, por
exemplo, poderá optar pela compra de energia da concessionária
local, a Eletropaulo Metropolitana, ou da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), por
exemplo. Ou mesmo de fora do
Brasil. O que definirá a escolha será o preço e a garantia de entrega
do insumo.
A tendência é que as despesas
com energia diminuam a médio e
longo prazos e beneficiem também o consumidor final. "Vamos
deixar de falar de tarifas prefixadas para tratar de preços. Eles oscilarão conforme a demanda", explica o presidente da Administradora de Serviços do Mercado Atacadista de Energia (Asmae), Mitsumory Sodeyama.
Na Argentina, o processo de liberação entrou em vigor há cinco
anos e desde então o preço médio
do megawatt-hora caiu pela metade (leia texto abaixo).
Capacidade
O Brasil tem hoje capacidade de
produção de 60 mil megawatts.
Apenas grandes indústrias, do
porte de uma Volkswagen, que
consomem mais de 10 megawatts
mensais, podem no momento escolher seu fornecedor. O leque do
benefício será muito ampliado
em julho e valerá para as empresas que compram acima de 3 megawatts por mês.
Pelos planos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),
em janeiro de 2005 chegará finalmente a vez de qualquer cidadão
optar se quer ter sua tomada conectada a essa ou aquela fornecedora de energia. Um processo
bastante semelhante ao que ocorreu com a abertura do mercado
de telefonia fixa e celular.
Toda a rede de transmissão e
distribuição de energia no país é
de uso público. Mas o tráfego é
pago. A EPTE e CTEEP, empresas
de transmissão da antiga Companhia Energética do Estado de São
Paulo (Cesp), por exemplo, pertencem ao governo paulista. Ele
tem o direito de cobrança por cada watt que passe pela malha.
No caso das novas linhas de
transmissão licitadas, os consórcios cobrarão taxas.
A liberação do mercado de
energia será possível justamente
por essa liberdade de tráfego.
Quem quiser encomendar megawatts da Amazônia para o Rio
Grande do Sul, por exemplo, tem
o acesso à disposição. Mas precisa
da autorização do Operador Nacional do Sistema (ONS), entidade encarregada de garantir a normalidade do abastecimento.
Caso haja problemas de gargalo, a fornecedora e o cliente terão
de escolher outra caminho na malha de transmissão do país. A cobrança do consumo é feita por
equipamentos de aferição.
Termelétricas
A abertura do mercado de energia elétrica só não terá efeitos
maiores na redução dos preços a
curto prazo porque atualmente o
Brasil consome quase tudo que
produz.
"Temos uma sobra de 2% da
capacidade. Se o Produto Interno
Bruto (PIB) crescer 3% a 4% neste ano, como os economistas prevêem, o país poderá ser obrigado
a enfrentar o racionamento",
afirma o diretor executivo da Associação Brasileira de Grandes
Consumidores Industriais de
Energia (Abrace), Paulo Ludmer.
Não é à toa que o presidente
Fernando Henrique Cardoso lançou no dia 24 de fevereiro um
programa para estimular a construção de 49 usinas termelétricas.
Elas custarão US$ 8 bilhões e gerarão 12 mil megawatts. Mas isso
só daqui quatro anos.
Os investidores estrangeiros,
que bancam a maioria das termelétricas projetadas, sabem do potencial do consumo do país. Aparentemente vêm dispostos a enfrentar a concorrência do mercado. Só que conseguiram um agrado especial do governo. Toda a
produção que não for absorvida
na venda livre tem a garantia de
compra da Eletrobrás. Ou seja, o
livre mercado que vem aí ainda
não vale para determinados amigos do rei.
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