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Desafio de Mesquita é recompor relação do BC com Planalto
Integrantes do governo dizem que diretor está interino, mas Meirelles quer efetivá-lo; palavra final será de Lula
Presidente vem defendendo nomeação de diretor com perfil desenvolvimentista, para "arejar" discussões sobre juros no Copom
SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de tecnicamente ser
considerado também um conservador, o diretor do Banco
Central Mário Mesquita terá
como desafio recompor a relação não apenas dentro do próprio BC, mas com o resto da
equipe econômica e com o próprio Palácio do Planalto.
Na quinta-feira, Mesquita
substituiu Bevilaqua na diretoria de Política Econômica. Por
ora, acumulará essa diretoria
com a que ocupava, a de Estudos Especiais.
O desempenho de Mesquita
será determinante para os planos do presidente do BC, Henrique Meirelles, de reestruturar a cúpula da instituição
-Meirelles deseja acabar com
as diretorias de Estudos Especiais e de Liquidação e Desestatização.
O projeto está ameaçado
diante da insistência de pessoas
dentro do governo de que seria
necessário "arejar" o Copom
(Comitê de Política Monetária,
que determina a trajetória dos
juros), indicando um nome novo, com idéias diferentes da
predominante hoje no grupo.
O próprio presidente Luiz
Inácio Lula da Silva vem defendendo que não vê como interferência no BC a nomeação de
um diretor com um perfil mais
desenvolvimentista para aprimorar o debate econômico.
Lula pretende manter a autonomia do BC para fixar os juros,
mas acredita que o país teria a
ganhar debatendo também novas idéias.
Nas conversas internas, Lula
considera o perfil do presidente do BNDES, Demian Fiocca,
no cargo por indicação do ministro Guido Mantega (Fazenda), ideal para "arejar" as discussões no BC, mas é pouco
provável que Fiocca troque de
função.
Segundo a Folha apurou,
apesar de ter assumido a diretoria de Estudos Especiais em
junho do ano passado, o acerto
com Mesquita na época seria
que ele faria uma transição,
substituindo Bevilaqua quando
este saísse.
Bevilaqua já havia anunciado
que não pretendia ficar no segundo mandato, mas esperaria
o melhor momento para sua
saída não criar problemas à
economia.
O anúncio, porém, foi antecipado, conforme afirmou Meirelles ao divulgar, na semana
passada, a saída do diretor. E
coincidiu com a divulgação do
baixo crescimento da economia em 2006 e com a indicação
de um desafeto dele, o economista Paulo Nogueira Batista
Júnior, para ser representante
do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional). Bevilaqua também foi cotado.
Menos diretorias
O plano inicial do presidente
do BC era acabar com a diretoria hoje ocupada por Mesquita
(Estudos Especiais), que viraria apenas apêndice da Política
Econômica. O mesmo aconteceria com a área de Liquidação
e Desestatização.
Com a venda dos bancos estaduais que foram transferidos
para o BC praticamente encerrada, o trabalho restante poderia ser acoplado à área de fiscalização. O atual diretor, inclusive, já acumula suas funções
com a de administração, desde
outubro do ano passado, quando o então diretor João Antônio Fleury pediu demissão para
trabalhar no governo do tucano
Aécio Neves em Minas Gerais.
Conflito
Integrantes da cúpula do governo dizem que Mesquita é interino, apesar de Meirelles tê-lo confirmado na sexta-feira
como efetivo. No anúncio da
saída de Bevilaqua, o presidente do BC não fora explícito nesse ponto. Ou seja, Mesquita e
Meirelles serão bombardeados
nos bastidores até palavra final
e pública de Lula, que, esperam,
seja favorável aos dois.
Na quinta-feira, Meirelles
disse que gostaria de efetivar
Mesquita no cargo. "Caso o
presidente me convide para
continuar, vou conversar com
todos os diretores. E o Mário
Mesquita tem todas as qualificações para ser diretor de Política Econômica. A decisão final,
porém, será do presidente."
Indagado se Mantega e Lula
desejam alguém com perfil menos conservador na diretoria
do BC e, em especial, na diretoria de Estudos Especiais, Meirelles disse que não discutiu esse assunto com o ministro nem
com o presidente. "A princípio,
essa diretoria é transitória e
não precisa necessariamente
ser preenchida."
Segundo fontes do BC ouvidas pela Folha, Mesquita é
uma pessoa com mais jogo de
cintura do que seu antecessor.
Mesmo reconhecendo que Bevilaqua tecnicamente teve um
papel importante, a maior
queixa dentro do BC é sobre a
"falta de jeito para se relacionar com as pessoas" e sobre a
"postura defensiva".
De acordo com essas fontes,
institucionalmente, a gestão
Bevilaqua foi ruim. O BC perdeu bons técnicos, se isolou da
equipe econômica, brigou excessivamente com a Fazenda e
piorou a sua comunicação com
o mercado.
Entre analistas e investidores, a avaliação é que "Bevilaqua transformou o BC apenas
no Copom", ao controlar excessivamente a divulgação de
estudos feitos pela instituição.
Por isso, a saída dele -apesar
de não ter seguido a lógica do
BC, que, segundo Meirelles, era
esperar Lula confirmar o presidente da instituição, nem o
cronograma do Copom, que
tem reunião marcada para esta
semana- foi classificada como
"positiva".
A participação de Bevilaqua
na reunião do Copom ainda estava indefinida na semana passada. Questionado sobre o assunto quando anunciou que o
diretor estava deixando o cargo, Meirelles disse "vamos ver"
e, diante da insistência dos jornalistas, afirmou: "A princípio
deve participar [do Copom].
Tudo indica que sim".
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