São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2008

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Brasil retorna ao topo do ranking das taxas de juros reais

Juro descontada a inflação está em 6,73%, ante 6,69% da Turquia; Copom deve manter hoje a Selic em 11,25% ao ano

Maior taxa do planeta tende a continuar a atrair capital externo para o país, o que favorece o dólar em baixa; moeda fechou a R$ 1,686

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil retomou o posto de país com a maior taxa real de juros do mundo. Em julho passado, havia perdido esse título para a Turquia. Apenas uma redução da taxa básica Selic hoje evitaria que isso ocorresse -mas ninguém no mercado financeiro conta com essa possibilidade.
Os juros reais brasileiros, considerando a atual Selic de 11,25%, estão hoje em 6,73% anuais. A Turquia, líder até então, registra taxa real de 6,69%. O ranking elaborado pela UpTrend Consultoria Econômica mostra ainda a Austrália em 3º, com taxa de 4,89%, e o México em 4º, com 4,18%.
Os juros reais são calculados a partir da taxa básica de juros, descontando dela a inflação projetada para os próximos 12 meses.
Ainda hoje, provavelmente no início da noite, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) vai anunciar como fica a taxa Selic. A expectativa predominante no mercado é de manutenção dos juros em 11,25% anuais.
Segundo projeção do último boletim "Focus", feito semanalmente pelo BC a partir de pesquisa com cem instituições financeiras, a taxa Selic deve ficar inalterada até o fim de 2008.
"O Copom não deve alterar os juros básicos neste primeiro semestre. Se decidir voltar a reduzir a taxa Selic, o mais provável é que isso ocorra apenas lá pelo fim do ano, quando poderá ter uma visão melhor das variáveis econômicas", afirma Jason Freitas Vieira, economista-chefe da UpTrend Consultoria Econômica.

Reflexo cambial
Os juros reais no topo do mundo ajudam a explicar o fato de o dólar ter descido nos últimos dias a seu mais baixo valor desde maio de 1999. Ontem, a moeda americana fechou vendida a R$ 1,686, em alta de 0,84%. Mas, no ano, o dólar acumula depreciação de 5,12% diante do real.
Com os juros brasileiros nas alturas, os investidores internacionais ficam mais tentados a aplicarem em ativos no mercado brasileiro.
O que tem ocorrido constantemente é os investidores emprestarem dinheiro lá fora, a taxas menores, e reaplicá-lo no país, onde os juros são mais elevados. Assim, lucram com a diferença das taxas.
Dessa forma, juros maiores acabam por estimular o fluxo de recursos para o país. E uma maior oferta de dólares, em um momento de baixa demanda pela moeda, apenas colabora para o recuo no preço da divisa.
Como o BC não deve cortar os juros tão cedo, são grandes as chances de o dólar se manter em baixos níveis históricos e mesmo testar novos patamares. Além disso, juros reais elevados não são favoráveis aos investimentos do setor privado. A atenção dos empresários, na hora de planejar seus investimentos futuros, está sempre voltada para o nível de juros praticados.
"Nossa avaliação é que o BC irá manter a taxa Selic em 11,25% ao ano nessa reunião. Achamos baixa a probabilidade de uma elevação da taxa Selic nesse encontro. Porém, achamos que a hipótese da não-unanimidade não deve ser desprezada", avalia Alexandre Póvoa, diretor responsável pela Modal Asset Management.
"Acreditamos que o BC deseje manter em alta o seu tom de preocupação, deixando sempre o mercado convivendo com o risco iminente de um aperto da política monetária. Tal estratégia, se bem implementada, poderia até dispensar uma elevação efetiva da taxa Selic", completa Póvoa.


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