São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2010

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Telebrás perde R$ 20,6 milhões em 2009

Apesar do prejuízo, ações da estatal, que pode ser responsável pelo plano de banda larga do governo, valorizaram-se em 142% em 2009

Desde privatização, função da Telebrás é administrar dívida; Dirceu recebeu R$ 620 mil de grupo que tem a ganhar com reativação da empresa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Telebrás, estatal que poderá ser responsável pelo Programa Nacional de Banda Larga do governo, fechou 2009 com prejuízo de R$ 20,6 milhões. A empresa tem passivo a descoberto (os ativos não pagam todas as dívidas) de R$ 16,2 milhões. No total do prejuízo acumulado, a futura superestatal da banda larga tem perdas de R$ 435 milhões. O prejuízo, no entanto, é melhor do que o de 2008, quando foram registradas perdas de R$ 31,8 milhões.
Desde a privatização do setor, em 1998, a função da Telebrás é administrar dívidas e pagá-las com receitas que obtém por meio das aplicações de seus recursos no mercado bancário. Até o final de 2008, a empresa era ré em 1.189 ações e o passivo total (soma dos riscos remotos, possíveis e prováveis) era de R$ 284 milhões (R$ 246 milhões são prováveis).
Apesar dos resultados financeiros ruins e do prejuízo acumulado, as ações da Telebrás vêm tendo grande valorização na Bolsa. As informações que o governo vem dando sobre a empresa, com a sua possível reativação para gerir fibras ópticas das estatais do setor elétrico e vender serviços de acesso à internet de alta velocidade, chegaram a valorizar as ações em 35.000%.
Em dezembro de 2002, o lote de mil ações ordinárias da Telebrás valia R$ 0,01. No dia 8 de fevereiro, os papéis chegaram a ser negociados a R$ 2,95, variação nominal de 29.000% ou de 35.000% -considerando dividendos e juros sobre o capital próprio, diz a Economática.
Ao longo do ano de 2009, a valorização das ações ordinárias foi de 141,6%.
Em dezembro de 2009, o governo conseguiu, na Justiça, que a rede de 16 mil quilômetros de fibras ópticas que estava na massa falida de outra empresa com participação estatal, a Eletronet, passasse para as estatais do setor elétrico.
Com a decisão, fortaleceu-se a ideia do governo de usar a Telebrás como gestora dessa rede de fibras, para atuar no mercado a fim de massificar o acesso à internet em alta velocidade, com preços menores do que os cobrados hoje pelas empresas privadas no setor.
Reportagem publicada pela Folha em fevereiro revelou que o ex-ministro José Dirceu recebeu ao menos R$ 620 mil do principal grupo empresarial privado que será beneficiado caso a Telebrás seja reativada. O empresário Nelson dos Santos, um dos sócios privados da Eletronet, diz ter direito a receber cerca de R$ 200 milhões por sua participação, adquirida em 2005 por R$ 1.

Funcionários
A Telebrás fechou 2009 com 227 empregados (pouco mais de 20% do que ela tinha na época da privatização), sendo que só quatro trabalham na empresa. Os outros estão cedidos para outros órgãos do governo, principalmente para a Anatel.
O salário médio dos funcionários da empresa é de R$ 4.700 (o maior, de R$ 13.800; o menor, de R$ 1.300). Para os dirigentes, a maior remuneração paga foi de R$ 18.200.
Até a privatização, a empresa era uma gigante do setor. Foi controladora de 54 empresas concessionárias de serviços públicos de telecomunicações, sendo 27 empresas de telefonia fixa, 26 empresas de telefonia celular e uma empresa de telefonia de longa distância.
A empresa tem milhares de acionistas minoritários. Em dezembro de 2009, a União detinha diretamente 89,88% das ações ordinárias com direito a voto e 72,67% de seu capital total, que, somados às participações detidas por outras empresas federais, totalizam 74,58% do capital. (HUMBERTO MEDINA)


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