São Paulo, Sexta-feira, 05 de Março de 1999
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REPERCUSSÃO
Indústria apresenta ressalva a decisão do comitê do Banco Central de elevar as taxas do custo do dinheiro
Banco aplaude e comércio critica juro alto

da Reportagem Local

A decisão do Banco Central de elevar os juros agradou a banqueiros, representantes do capital estrangeiro e economistas de orientação liberal, mas foi recebido com reservas por industriais. Sindicalistas e comerciantes reagiram com críticas.
Entre os políticos, a decisão foi aplaudida por parte do PFL, mas não convenceu o PMDB, outro partido da aliança governista. O PT vaiou.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, não quis se pronunciar.
A seguir, as opiniões colhidas ontem pela Folha:

Roberto Setúbal, presidente da Febraban: "O aumento da taxa de juros foi a medida adequada para a situação econômica do momento. O mais importante na política atual é que o governo avance no ajuste fiscal para trazer maior confiabilidade na economia. O aumento dos juros não deverá ser repassado pelos bancos nos empréstimos para pessoas físicas porque, como são operações de longo prazo, já se trabalha com margens prevendo variações como essa".

Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo: "O aumento dos juros não é compatível com a atividade empresarial nem com a rolagem da dívida do governo. O efeito dessa taxa de juro desesperadora no comércio é mais quedas nas vendas, a fuga do consumidor, a falência de pequenas empresas e o aumento do desemprego".

João Paulo Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento no governo Médici): "Pelo que entendi, o objetivo é evitar que as taxas de juros se tornem negativas em termos reais. Talvez a gente devesse começar a lidar com taxas mensais. Ficar falando em taxas anuais desorienta mais do que orienta".

Marcílio Marques Moreira, ex-ministro da Economia do governo Collor: ""Havia claramente um excesso de liquidez no mercado de R$ 27 bilhões. R$ 5 ou R$ 6 bilhões foram enxugados via depósito compulsório. Agora precisa enxugar um pouco mais. Estamos com tentações inflacionárias devido ao overshooting do dólar".

Sérgio Haberfeld, presidente da Abre (Associação Brasileira de Embalagem): "Enquanto não for aprovado o ajuste fiscal e o dólar não se estabilizar o que vai atrair dinheiro para o país é o juro alto. Acho que o país precisa ter mesmo uma única taxa de juros para se guiar. O aperto no crédito também foi uma medida acertada, pois é uma forma de conter a inflação. A recessão pode segurar os preços. E isso é necessário hoje."

Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq (Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos): "Com o aumento do compulsório e dos juros, o governo está espremendo a economia, o que significa diminuição da produção. No entanto, se a medida servir para reduzir a cotação do dólar, teremos que aplaudir".

Roberto do Valle, presidente do banco Fleming-Graphus: "Não vejo sentido em juros tão altos. Se o objetivo é pressionar os bancos para venderem seus estoques de dólar, está errado. A cotação está alta porque faltam dólares. Se o objetivo é combater a inflação também não faz sentido. Isso só teria sentido se as pessoas estivessem sacando dinheiro de suas aplicações".

José Márcio Camargo, economista: "A medida é correta porque a única forma de evitar que o aumento da inflação se torne permanente é subir os juros."

Joaquim Paulo Kokudai, diretor de renda fixa do banco Lloyds:
"As medidas são positivas. O governo começa a mostrar sua cara e mudar o humor do mercado. Ao subir os juros, está mostrando que vai combater a inflação".

Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo): "Aumento dos juros significa mais desemprego e caos social. A questão social não tem importância para o BC. Temos que criar um colchão para amortecer os efeitos da crise. O governo deveria distribuir cestas básicas para desempregados e criar frentes de trabalho".

Luiz Antonio Medeiros (PFL-SP), presidente da Força Sindical: "A decisão pode salvar a moeda, mas quebra o Brasil. O governo fala que vai baixar os juros, e o Banco Central fala outra coisa. A decisão significa que haverá menos produção e mais gente desempregada".

Frederico da Costa, do Oryx Asset Management: "Ele (Armínio Fraga) deixou muito claro para o mercado que tem carta branca do governo brasileiro para agir da maneira que ele acha que deve".

Mauro Schneider, vice-presidente e diretor de pesquisa do ING Barings: "É um sinal de que a política monetária será tão austera quanto necessário para evitar um aumento perigoso da inflação".

Plinio do Amaral Pinheiro, diretor-executivo da Duratex: "Isso é ruim para as empresas. Com juros altos, a economia toda sofre".

Inocêncio Oliveira (PE), líder do PFL na Câmara: "Foi um puxão de orelha no mercado e nos especuladores. Foi positivo".

José Genoino (SP), líder do PT na Câmara: "Foi exigência do FMI, provando que o país perdeu a autonomia na gestão da política financeira. Essa é a sobrevida de um modelo que já esgotou. Vai aprofundar a recessão".

Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara: "No momento em que queremos incentivar a produção, aumentar os juros é uma coisa que não pega bem."


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